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Sai pisando duro até a arquibancada.

— Estou vendo fumaça sair pelo seu ouvido — Luke falou quando me sentei ao seu lado. — O que ele fez dessa vez?

— Só de sair voz daquela boca é suficiente para esquentar meus neurônios...

Luke riu baixinho e dedilhou no violão em seu colo. Inclinei a cabeça observando encantada, ele fez o mesmo me fazendo desviar os olhos constrangidos. Talvez eu tivesse uma queda por ele de uma forma completamente errada, ele era o melhor amigo de Eric.

Eu não queria transformá-lo na vítima dos meus sentimentos conflitantes.

— Por que não o deixa achar que está ganhando?

Franzi o cenho, confusa.

— Do que tá falando?

— É meio obvio que ele gosta de você, porque não se vinga disso? Seria a forma perfeita de fazer justiça por todo vexame que ele já fez você passar. Por todos esses anos perturbando você.

Analisei as palavras de Luke e automaticamente ele entrou na minha lista de inimigos. Que tipo de amigo era aquele? Eu podia querer a morte de Eric, mas ele não!

— Pode ser — concordei com um sorriso, curiosa para saber a reação de Luke. E tudo que vi foi animação quando ele ergueu os olhos que estava no celular em sua mão e fiquei enojada. — Você é nojento! Como pode desejar isso para ele? Nós nos odiamos da boca para fora, mas eu nunca faria mal a ele. Ele é um imbecil, mas é meu imbecil!

— É mesmo? — ele debochou e meu sangue parecia ferver dentro das minhas veias. — Aquele cara não liga para você! Ele só quer levar você para a cama, como faz com todas! Eu sou amigo dele há anos! Sei do que estou falando.

Levantei no impulso, mordendo o interior da boca para controlar a raiva, as lágrimas, talvez a verdade que temia. Eu já nem sabia mais. Minha vontade de socar Luke oscilava, entre acreditar nele ou no Eric que eu conhecia. Porque no fundo, eu sabia que poderia ser isso: eu sendo uma conquista barata de um cara que não tinha nada a perda.

— Eu também o conheço há anos e digo que você não sabe absolutamente nada sobre ele! Eric é um cara gentil e solidário, que gosta de ajudar as velhinhas do clube de hidroginástica. Ele sempre manda mensagens quando chove porque sabe que tenho medo do barulho dos trovões. Ele nunca deixou com que ninguém falasse nada de mim quando cai do parquinho com cinco anos. Ele é o único que tem o direito de me irritar e de fazer a minha vida uma loucura, porque eu...

Meus olhos se arregalaram e eu olhei para a piscina, onde Eric estava sentado de costas para mim com o celular na orelha. Então eu olhei para Luke que sorria de uma forma que me incomodou, então pareceu a deixa para eu correr dali o mais rápido possível. 

Ouvi Mel gritar por mim, mas ignorei. Eu não morava tão longe, poderia ir correndo até em casa e chegar antes das 00:00 como prometi a minha avó.

— Princesa!

Parei de correr  no meio do corredor e virei encontrando os olhos esverdeados de Eric a passos largos de mim. Gotas d'água aos poucos encharcavam ao seu redor por causa da bermuda molhada.

— Eu sei que essa é a nossa brincadeira. Ser o inimigo do outro, fazemos isso desde criança, mas agora eu só quero que seja o meu príncipe e me deixe ir para casa.

— Não posso... — ele começou andar lentamente e eu permaneci parada no mesmo lugar, ironicamente eu estava do lado do armário dele.  — Eu gosto de ser o vilão da história.

— Não está ficando cansativo inverter os papeis? Nós dois sabemos quem é o real vilão e ele definitivamente não é você!

— Eu sei, você é o vilão. É a gatinha malvada que parte corações e rejeita os caras apaixonados.

— Isso. Eu sou a vilã da nossa história e vou continuar sendo.

Eric parou a minha frente, inclinei a cabeça para poder olhá-lo e então reparei no divertimento em seus olhos.

— Ele é o único que tem o direito de me irritar e de fazer da minha vida uma loucura, porque eu...

Minha boca se abriu, mas as palavras não saíram. Ficaram presas dentro da minha garganta me sufocando.

— Como você...

Ele ergueu a mão que continha o celular. Então, as peças se montaram na minha mente. As palavras estranhas de Luke, o sorriso dele depois de olhar para o celular e Eric vindo atrás de mim com expectativa. Meu coração começou a acelerar e eu não sabia dizer se era de satisfação ou de um desejo incontrolável de chutar o idiota que sorria para mim. Mesmo confusa com as opções, fiz o que meu coração desejava. Cortei o espaço entre nós e o beijei.

Os braços de Eric me envolveram com força. Senti como se minha energia tivesse esvaído com o contato, ao mesmo tempo, que parecia que  todo meu corpo transbordava de eletricidade. Quando ele se afastou mantendo seus olhos cheios de desejo sobre o meu eu tive apenas uma grande certeza.

— Eu odeio você... —murmurei as palavras.

Seus lábios deixaram um beijo lento sobre meus lábios e sussurrou:

— Essa é a segunda vez no mesmo dia, estamos nos superando.

— Você armou isso há quanto tempo?

— Em poucas horas, como você disse eu não sou muito inteligente. Dê um pouco dos créditos a Kátia, ela teve metade da ideia e roubou o próprio pai. Eu estou devendo cinquenta reais e duas semanas de aula de natação para o primo dela.

Ri sem poder evitar. Por mais inusitado, eu não duvidava nenhum pouco.

— Quer voltar para a piscina? Acho que temos 10 minutos para curtir o dia dos namorados.

Encurtei os olhos e Eric revirou os olhos em respostas.

— Foi um beijo, não um pedido de namoro!

— Ta dizendo que depois desse tempo eu tenho que pedir você em namoro?

Me afastei, porque todo o clima tinha ido embora e eu gostaria de rever a opção de chutá-lo com toda a força.

— Quer saber? Você realmente é um idiota! — Me esquivei de Eric e andei a ponto de perfurar o chão em direção a piscina e gritei ao longo do caminho: —Eu não acredito que você está agindo como idiota quando finalmente temos a possibilidade de estarmos juntos!

— Eu só fiz uma pergunta e você interpretou errado!

Ignorei ele e abri a porta do ginásio, que diferente de antes, estava completamente escura.

Eu te odeio para todo sempre! (Conto)Onde histórias criam vida. Descubra agora