Capítulo 10

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Edward estava em silêncio encarando o céu. Parecia digerir o que acabara de ouvir. Sua face iluminada pelos últimos raios de Sol estava neutra, mas eu via o conflito em seus olhos. Será que agora ele iria ver quem eu realmente sou? Talvez finalmente entendesse o quão diferentes nós dois somos. Eu contei a história inteira nos mínimos detalhes, não cortei ou modifiquei nenhuma parte. Ele precisava ver quem eu era de verdade.

Quando seu rosto finalmente se virou para mim, ele não parecia com medo, raiva ou triste. Ele estava... sorrindo. Compreensão preenchia as suas expressões. Eu acabei de contar como simplesmente dizimei um orfanato com várias crianças, inclusive a minha melhor amiga sem sentir um pingo de remorso, e ele entende isso? Aparentemente ele não é tão dócil quanto eu pensava.

— E então. — Perguntei o olhando. — Não vai falar nada? Sair correndo? Me chamar de monstro ou psicopata? — Falei o último com um sorriso de lado em tom de provocação.

— Você era uma recém-criada, e todos nós já matamos alguém. — Ele disse revirando os olhos.

— Isso quer dizer que você já matou também? — Perguntei com curiosidade.

— Sim. — Deu de ombros. — Alguns anos depois de Carlisle me transformar, eu me "rebelei" contra ele. Queria conhecer outro estilo de vida. Então eu fugi. Vivi como nômade por um tempo, usava o meu dom para matar apenas criminosos e aliviar a minha culpa. Mas isso não durou muito tempo. Eu não entendo o que tem de tão bom assim em sangue humano. Então retornei para Esme e Carlisle como o filho pródigo que eles receberam de braços abertos. — Ele terminou e a lembrança dos pais fez seu olhar ficar suave.

— Você não entende o que tem de tão bom em sangue? — Perguntei pasma.

— Não. — Respondeu como se não fosse nada.

— Tantos anos se alimentando apenas de animais não deve ter te feito muito bem. A caça e o sangue são os maiores prazeres dessa vida! — Disse e ele pareceu espantado por um momento, mas logo começou a rir. — Por que você tá rindo?

— A sua frase foi incrivelmente parecida com uma que eu escutei antes de fugir. — Ele disse ainda rindo. — "A maior alegria desta vida." Foi por causa disso que eu comecei a me alimentar de humanos, e acabei me decepcionando. — Deu de ombros.

— Quem quer que tenha te dito isso, estava completamente certo. — Disse e ele só revirou os olhos.

— Mas e o Henry? — Ele voltou seu olhar para o céu.

— O que tem ele? — Perguntei me deitando ao seu lado.

— O que aconteceu depois do orfanato? Por que ele te transformou? — Se virou para me olhar. Seus olhos exalavam curiosidade.

— Bom... depois do orfanato ele me explicou melhor como as coisas funcionavam e que eu não poderia repetir o que havia sido feito ali, seria perigoso chamar atenção, mas isso não significa que eu obedecia. — Disse com um leve sorriso nostálgico. — Nós tínhamos que mudar de cidade com frequência e isso piorou quando descobrimos que eu tinha um dom. Ele começou a me treinar para o caso de eu precisar lutar com alguém, não que tenha adiantado muito. — Nada adiantaria contra os Volturi. Mesmo com o meu escudo, eles eram muitos e eu não tinha tanta experiência em combate. Mas talvez se eu tivesse sido mais forte...

— Bella. — Ouvi Edward me chamar, me tirando de meus pensamentos.

— Desculpa.

— Não fica se culpando. — O olhei me perguntando se ele tinha lido meus pensamentos. — Os seus olhos transbordam emoções, não preciso ler a sua mente para saber que você está se culpando por algo. — Desviei os olhos novamente. Isso sempre acontecia.

Instinto - Edward/BellaOnde histórias criam vida. Descubra agora