Capítulo VIII

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Zayn acordou naquela madrugada com um aperto no peito, e sabia exatamente o por quê do sentimento de angústia. No dia que estava se iniciando, seria o aniversário de seu pai, se ele ainda estivesse vivo, e o jovem sabia o que aquele dia iria trazer consigo, a dor da saudade, a falta da comemoração com um grande jantar e a família toda a mesa, dos sorrisos ao ouvirem as histórias que o mais velho contava de suas aventuras, do abraço caloroso, e protetor, que só Yaser Malik oferecia.

Se sentando em sua cama, uma lágrima saudosa rolou sobre seu rosto um pouco amassado de sono, o fazendo agarrar em sua colcha grossa, que o cobria, e sentiu que ar estava preso em seu peito. Sem muita força, se recompôs o suficiente para ir até ao banheiro de seu quarto, lavando seu rosto e, respirando fundo, enxugou suas lágrimas. A relação que Zayn tinha com seu pai era única, todos os filhos de Yaser o tinha como herói, um exemplo a ser seguido.

Yaser era um artista completo, como costumava dizer, era um ótimo cantor, contador de histórias e escritor aplicado, instrumentista dedicado, e seu dom para confeccionar jóias, era simplesmente impecável, e foi admirando o mais velho que Zayn tomou gosto pela literatura, e a música. Sua perda foi uma grande tristeza pra sua família, que perderam um pai, esposo, amigo e, principalmente, um exemplo de vida.

Depois de se recompor um pouco mais,  Zayn desceu até a cozinha para fazer um chá para si mesmo, contudo, no caminho reparou que a porta do escritório da casa estava entreaberta, e a luz fraca, de velas cansadas, iluminava um pouco o corredor. Indo em direção ao cômodo no fim do corredor, uma onda de lembranças o invadiu, e se lembrou, nitidamente, de quando tinha pesadelos quando criança, e saía de seu quarto correndo em direção a seu pai no escritório, pois sabia que sempre o encontraria ali, seja lendo, escrevendo, trabalhando, ou apenas tirando um cochilo após um dia exaustivo. Zayn sabia que sempre que fosse até lá, encontraria seu pai, e um sorriso grande nos lábios de Yaser se abriria ao ver seus olhos dourados a sua frente, fazendo com que um sorriso saudoso se formasse nos lábios do moreno, contudo, assim que ficou frente a frente a entrada do escritório, abrindo um pouco mais a porta do antigo lugar de descanso de seu pai, a imagem que teve a sua frente, foi a mais triste.

- O que faz acordado a essa hora, Lou ?? - Zayn se sentiu triste ao ver o irmão mais velho, preso a uma papelada em cima da grande mesa de madeira escura e maciça, com um semblante cansado, não apenas fisicamente, mas o emocional do mais velho, com certeza estava exausto também.

- Tenho que terminar a contabilidade da empresa... - Louis respondeu ainda de olho nos papéis a sua frente. - Preciso terminar isso o quanto antes !!

- Você pode deixar isso para outro dia... - Zayn dizia ao se sentar em uma das poltronas que ficavam diante a mesa, subindo suas pernas no acento, as abraçando.

- Não posso deixar isso de lado, é nosso sustento, papai desaprovaria tamanho desleixo !! - O mais velho dos irmãos proferiu de modo ansioso, como se sua vida dependesse em terminar aquilo.

- Você precisa relaxar um pouco, está tudo bem folgar um dia, principalmente no dia hoje... - Zayn iniciou, mas seu irmão ainda não o ouvia, parecia que o som da papelada sendo folheada era mais interessante do que a voz calma e rouca de sono do mais novo. - Louis....

- Estou trabalhando Zayn, vá até a floresta com o Stefan passar o tempo, só me deixe...

- O sol sequer raiou, Lou... - E só então o de olhos azuis parou de mexer na contabilidade da empresa da família, dando atenção ao mais novo.

Louis estava tão envolto no trabalho, que sequer notou que já estava ali a muito mais tempo do que pensava. A forma como o irmão o trouxe a realidade ao dizer em que tempo estavam, o assustou. Desde que seu pai faleceu, o mais velho dos irmãos se achou no dever de tomar a frente dos negócios da família, e de ser responsável por todos os outros membros dela. A um ano, Louis se afogava cada dia mais no trabalho, a vida e o bem estar de seus irmãos, e mãe, eram o mais importante naquele momento, até mais do que a sua própria, e para não ter tempo de arrependimentos, por ter deixado uma boa vida na França, ou qualquer tipo de sentimento, que não fosse a responsabilidade em estar ali presente pra sua família, e cumprindo seu papel de protetor, era obsoleto em sua mente, e vida.

Wolvertown  {Ziam}Onde histórias criam vida. Descubra agora