0.4 | L de Léo

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ıllıllı - ıllıllı

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ıllıllı - ıllıllı

Meus olhos não paravam, do relógio à porta de metal. Talvez eu estivesse animado para jogar bola com Léo, até demais. Olhei novamente para os ponteiros, os contei frustrando-me com sua demora. Não sei se ia gostar de estar com ele, faz tempo desde que estive alguém para compartilhar minha rotina.
    — Por que está inquieto? — Dunga apareceu em minha visão repentinamente, apontando para minha perna que balançava rapidamente.
    — Apenas animado. — Parei minha perna, olhando de canto de olho para meu copo de café, talvez eu esteja exagerando.
    — Animado com o quê? — Ele se sentou na cadeira ao lado.
    — Vou jogar bola com um conhecido, talvez tomar banho no mar no final. — Ele levantou as sobrancelhas enquanto tomava seu café.
    — Conhecido?
    — É, o conheci na quinta.
    — O pupilo do argentino? — Ele riu quando confirmo, batendo até palmas no final. Minha cara de confusão foi o que o faz parar de rir. — Por que isso de repente?
    — Ah, ele joga bola, eu também, ele quer conhecer a praia do Rio, eu conheço a praia do Rio, apenas juntamos o útil ao agradável.
    — Cuidado pra ele não roubar e fazer gol com a mão. — Esse foi o pico para que suas risadas voltassem com tudo. Nem consegui perguntar o que essa frase significava, talvez alguma briga em algum jogo da Seleção Brasileira contra a da Argentina.
    Depois de rir, tossir e rir mais um pouco, Dunga finalmente respirou fundo e bebeu o resto do seu café. Ele me encarou ainda com os olhos em meia-lua, divertidíssimo. Eu apenas me levantei para atender um cliente que acabara de entrar.


Encarei a Brasília de Dunga virar a esquina. Já eram quatro da tarde e sol ainda queimava no céu. Enquanto esperava aquele argentino, me lembrei da parede branca, que estava branca desde quinta, o que era surpreendente. Me perguntava o que deve ter acontecido com o responsável disso tudo, talvez esteja ocupado, ou viajando ou finalmente percebeu meu sofrimento em pintar essa bendita parede. O último era agradável de pensar.
    — Por qué está mirando a parede? — Me virei para Léo, que sorriu.
    — Apenas pensando. — Andei até ele, vendo sua bermuda preta, com a camiseta da Argentina e um chinelo preto. Ele também trouxera uma bola, bem bonita e limpa, por sinal. Eu abri um sorriso com o meu pensamento. — Você deve cuidar dessa bola como sua vida.
    Léo sorriu enquanto me acompanhava nos passos. Ele começou a me perguntar sobre a cidade, lugares para ir, lojas, praças, entre outras coisas. Não conheço o Rio de Janeiro de cabo a rabo, apenas o básico, como: Praias, praças e ruas que não são para andar ao anoitecer.
    Não demorou até vermos o mar de longe, como um belo sábado ensolarado, ouvimos diversas vozes e risadas dos moradores. Olhei para Léo, seus pequenos olhos parecem brilhantes com tudo isso, a mesma sensação de conforto que tenho toda vez que passo por aqui.
    — Aquí me lembra a Rosario — ele murmurou para mim, levando seu tronco para perto de mim.
    — Isso é bom? — perguntei inocentemente, olhando ao redor enquanto mexia em meu cabelo.
    — Muito bom, me siento em casa. — Ele sorriu, agora percebia como seu sorriso é pequeno, como o de uma criança tímida. Devolvi o sorriso, feliz por ele estar bem.
    Finalmente pisamos na areia gelada. A praia estava aos poucos se esvaziando, dando o lugar para as pessoas solitárias como eu, porém, estava com Léo e isso parecia ser divertido. Ele logo se animou com aquela bola, seus pés eram rápidos e dançavam como alguém que conhecia.
    — Vem pegar. — Voltei para a realidade, percebendo o argentino parado, me chamando para roubar a bola.
    — Tá brincando? Vou ser humilhado. — Mesmo assim começamos a jogar, sempre acabávamos nos enroscando para roubar a bola um do outro, o que quase causou várias quedas. Teve muitas vezes que roubei a bola com sucesso, tanto que até comemorei para os estranhos que muitas vezes me ignoravam, menos Pelé e Dona Formiga, eles levantavam as mãos para mim em comemoração.
    — Você é bom — ele me disse depois de ter a bola mais uma vez roubada. — Deberías ter me contado que jugaste bem así.
    — Um mágico nunca revela seus truques. — Me exibia, na brincadeira, fazendo pequenas embaixadinhas. Ele negava com a cabeça antes de partir para cima para roubar a bola, algo que me pegou de surpresa, me fazendo agir no impulso e dar um chapéu nele, algo que eu vinha treinando há semanas.
    — Esse foi lindo. — Ele apontou.
    — Deu certo, finalmente! — Nem eu estou acreditando, aparentemente treinar com uma cadeira vem funcionando.
    Atrás de Léo, tinha uma figura sentada na parte alta da areia, como eu fico normalmente. O cabelo espetado me fez reconhece-lo. Ele olhou atentamente para nossa direção. Não demorou para que Léo roubasse a bola dos meus pés, se aproveitando da minha distração.
    — Te distraes fácilmente. — Demorei para analisar sua frase, fazendo uma cara feia quando a entendi. Ele sorriu com a bola nos pés, mais uma vez me chamando, isso vai demorar para acabar. Acatei seu desafio, esquecendo do mundo a minha volta.


Nossas respirações estavam pesadas. Exaustos do jogo, nos jogamos na areia para descansar. As estrelas já piscam para mim, algumas lojas noturnas abriam as portas para receberem os primeiros clientes, isso me dizia que devem ser umas sete e pouco, talvez oito. A areia grudava no meu corpo com o suor.
    — O que acha de um mergulho no mar? — Virei minha cabeça para ele, que faz o mesmo, mas devagar, como se estivesse ganhando tempo para entender o que acabei de falar.
    Ele sorriu se levantando rapidamente, assim vi a areia colada em suas roupas e pele branca. Com um movimento, Léo tirou sua camisa da Argentina, deixando-a em cima dos seus chinelos e logo estendeu sua mão para mim. Não demorei para responder e ele me puxar com força, quase me jogando para ele. Léo sorriu com isso, limpando a areia do meu ombro e logo após correr até a água do mar. Algo que ele parou abruptamente quando toca a água.
    Não segurei o sorriso. Tirei minha regata preta também a deixando em meus chinelos, diferente dele, vou andando enquanto ainda sorrio com suas tentativas de evitar o gelo da água. Fiz meu procedimento padrão, molhando meus pulsos e nuca, até pular na parte mais funda.
    — Você não vem? — indaguei, vendo sua feição surpresa. Ele se ajeitou, respirando fundo e mergulhando.
    Demorou para nos acostumarmos, ainda mais eu, é estranho trazer alguém para nadar comigo. Era tão íntimo, até demais.

ıllıllı - ıllıllı

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Menino Ney | NeytinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora