1.0 | A de Aniversário

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ıllıllı - ıllıllı

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ıllıllı - ıllıllı

Nunca fui bom em comemorar meu aniversário. Não me recordo de nenhum momento especial pelo menos. Só que, quando comecei a trabalhar na loja de bugigangas de praia, Dunga o tornou mais memorável, às vezes me dando folgas ou me levando para tomar sorvete na praia.
    E nesse não foi diferente.
    — Qual sabor vai querer? — Pelé abriu o carrinho de sorvetes. — Se não me falha a memória...Morango pra você e chocolate pra Dunga.
    — Sua memória nunca falha. — O observei vasculhar entre dezenas de picolés.
    — Soube do Júnior.
    Suspirei:
    — Você sabe de tudo que acontece poraqui'.
    — Ele me contou que iria voltar pra São Paulo bem antes de você saber. — Sorriu entregando-me os dois picolés.
    — Bom pra você, eu gostaria que ele tivesse me contado antes, bem antes, eu teria aproveitado mais.
    — Não é assim que funciona, você sabe, a vida. — Voltou a se sentar em sua cadeira de praia. — Ele não queria que você o aproveitasse mais só por ele estar indo embora.
    — Eu teria feito algumas coisas diferentes, talvez.
    — O que você fez até agora foi o suficiente. Talvez ele volte, um dia.
    Me arrepiei:
    — É, talvez um dia.
    Voltei para Dunga antes que os sorvetes derretessem. Ele estava acomodado nas toalhas de praia que pegamos da loja, apenas esperando o aniversariante voltar. Cada um abriu seus respectivos sorvetes em silêncio, apenas ouvindo outras pessoas e o mar. Já conversáramos no caminho para cá, algo rápido, "Cadê o Tite? " e "Não te interessa ", e assim por diante.
    Olhei pela praia sentindo falta de vê-lo jogar com as crianças, nunca pensei que sentiria falta daquele cabelo espalhafatoso.
    — Garoto...
    Percebi que meu sorvete derretera pelos meus dedos.
    — Me distrai. — Lambi meus dedos comendo o sorvete em poucas mordidas.
    — Isso tem a ver com o menino lá?
    — Neymar, é o nome dele.
    Dunga fez uma careta:
    — Meu Deus, tenho dó de quem for comprar uma camisa dele.
    — Eu compraria.
    — Que mau gosto.
    — Você compraria se fosse Tite.
    — Vamos parar de falar sobre isso. — Mordeu seu picolé.
    — Agora estou curioso, tem camisa do Corinthians com o nome dele atrás?
    — E esse Neymar, como foi a despedida?
    Quebrei meu palito bufando uma risada baixa. Ele me olhou esperando uma resposta, dei de ombros sem saber o que falar sem ficar triste, Dunga não sabia lidar com os próprios sentimentos, imagina lidar de um adolescente amargurado por não ter recebido um feliz aniversário do garoto que gosta, pois ele estava em outro estado seguindo o seu sonho. Eu estava prestes a desabar.
    — Foi bem, nadamos juntos.
    — Só?
    — Bom, estou ignorando a parte triste, não quero ver só a parte ruim, ele tá seguindo seu sonho. O que eu posso fazer? — Minha voz saiu meio tremida no final.
    Dunga ficou quieto diante à situação, piorando minha mente, que andara quieta, mesmo sendo meu aniversário.
    — Siga em frente. — Dunga finalmente voltou a voz. — Foi o que eu fiz.
    — Mas você ainda tinha contato com o Tite.
    Ele me olhou surpreso:
    — Já vi que conversou bastante com ele — suspirou. — Naquela época só tínhamos essa maneira pra conversar, vocês dois tem diversas maneiras. — Coçou a barba rala. — Pode ser o sonho dele, mas você fez parte de um processo importante da vida dele, ele não vai te esquecer tão rápido.
    — Ele também fez parte da minha vida, mas às vezes eu penso que irei sofrer mais pra esquece-lo, porque não tenho nada pra pensar além dele. — Enterrei meus dedos na areia. —  Quero que seja como você e Tite.
    — Por quê?
    — Tite não te esqueceu, mesmo sendo famoso.
    — Você acha que esse moleque vai te esquecer? Esse cabeça oca pichou nossa parede pra chamar sua atenção e ainda fez questão de ficar ao seu lado nos seus últimos dias aqui, a última coisa que ele vai fazer é te esquecer.
    Estalou os dedos na frente dos meus olhos:
    — Ele vai voltar em um estala de dedos — continuou. — Óbvio, vamos ser realistas, isso pode demorar uns anos.
    Mais tarde, depois de um abraço de aniversário físico de Dunga e mental de Tite, caminhei até um orelhão que tinha perto da praia, debati comigo mesmo enquanto colocava a moeda se era um bom horário para ligar, apertei os números memorizados em um papel dobrado.
    Os barulhos demoravam uma eternidade.
    Quando alguém atendeu, meus pensamentos cessaram:
    — Venda de drogas, o que posso fazer por você?
    — Mas que porra é essa, Ney? — Minhas bochechas doeram com o tamanho do meu sorriso.
    Uns barulhos soaram pelo telefone:
    — Ah, Jesus, é você! — Mais chiados eufóricos. — Fiquei o dia todo recebendo ligações aleatórias, já pensei que você tinha vendido me número para algum estranho.
    — E alguém compraria?
    Ele estava tão enganado, nunca cuidei tão bem de um papel como esse.
    — Talvez, o menino de ouro do Santos, é isso que rola nas notícias. — Dava para ouvir sua respiração acelerada.
    — Você tava treinando ou algo do tipo? Parece ofegante.
    — Oh, não, eu só estou animado por finalmente ser você. E antes que eu esqueça, feliz aniversário!
    Agradeci por estar escondido naquele orelhão, pois eu estava quente.
    — Você me deu parabéns ontem, eu não teria ligado.
    Eu teria sim.
    — Faço questão, não é todo dia que alguém faz dezenove.
    — Obrigado, então. — Meus dedos enrolaram no fio do telefone como um idiota apaixonado, algo que eu estava mesmo. — Quando seu treino começa?
    — Segunda, já vão me botar pra treinar com o time titular, o treinador já acha bom eu ir me acostumando.
    — Isso é ótimo, talvez eu torça pra você.
    — Você ainda pode ser vascaíno, mas em São Paulo você é santista.
    Rimos, rimos muito, eu ri mais, querendo guardar cada segundo daquela conversa. Minha vontade era gastar todas as minhas moedas naquele orelhão.
    — Podemos conversar enquanto você trabalha — comentou.
    — Vou ter que competir com Dunga pelo telefone.
    — Logo vai matar a saudade me vendo jogar na televisão, talvez eu te mande uma camisa autografada.
    A circulação do meu dedo estava quase parando pelo aperto do fio do telefone.
    — Eu gostaria de receber.
    — Eu gostaria de te ver usando.
    Angustiei-me com o pouco tempo:
    — Sinto sua falta, é difícil matar a saudade no orelhão.
    Não fazia nem um dia que ele estava fora.
    — É estranho não te ver pensando por ai.
    — Me promete uma coisa?
    — Se tiver no meu alcance...
    — Não corte o cabelo, quero rir dele quando você vir me visitar.
    — E eu pensando que seria outra coisa.
    Soltei uma risada fraca:
    — Sabe, adicione mais uma promessa.
    — Não abusa.
    — Promete que não vai me esquecer?
    Ficamos um tempo em silêncio, pensei que meu tempo havia acabado, mas sua risada fraca aliviou mês nervos.
    — Como se isso fosse possível.

ıllıllı - ıllıllı

Peço perdão se deu um ar corrido para a história. O plano era escrever tudo e, assim, postar aos poucos, mas fiquei ansiosa para postar, e agora sinto que deixei a desejar. Espero que entendam, ainda terminarei a fic, já que esse é o penúltimo capítulo.

Menino Ney | NeytinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora