Capítulo Quatro

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— Não acha essa ideia perigosa, Lívia? — Anastácia a questionou após saber da proposta que Berenice havia feito.

— Ah, não sei, não, Ana... — deu de ombros, meio hesitante. — Pode ser que seja, afinal de contas, embora Berenice seja bem apessoada, há mesmo algo peculiar naquela mulher. — Ergueu as sobrancelhas. — Não me pareceu ser apenas uma nobre que frequenta chás da tarde e grandes bailes, não.

— Pois creio que esteja prestes a cometer uma sandice, menina! — Ana suspirou. — Deveria esquecer aquela mulher!

Lívia encarou os tristes olhos castanhos de Anastácia e, em um gesto delicado, desatou o nó do lenço que cobria parte do rosto da mulher. Ana segurou a mão da moça, um tanto assustada, mas a senhorita Albuquerque ofereceu um sorriso acolhedor, como se pedisse permissão, e puxou suavemente o tecido.

— Sabe que não gosto disso! — cabisbaixa, Anastácia sentia a tez negra formigando. Os lábios grossos e volumosos, formaram um bico.

— Isto é para que se recorde do que a condessa lhe fez! — disse ele enquanto estendia a mão em direção ao rosto da mulher, tocando a cicatriz de uma grave queimadura que quase a deixou cega do olho esquerdo e a fez perder a orelha. — E que os primeiros passos já foram dados! — acrescentou, acariciando os cabelos crespos da mulher com ternura.

Anastácia fechou os olhos e, por um breve momento, recordou-se do olhar frio e impiedoso de Berenice pesando sobre ela no passado.

— Meu anjo — tomou as mãos de Lívia junto as suas. Observaram o contraste bonito da pele negra com a pele alva da moça. —, temo tanto por sua vida!

A jovem puxou a mulher para um abraço.

— Ah, Ana... — afagou as sobrancelhas da mulher. — Ninguém vai morrer, mas Berenice precisa pagar. Não era isso que queria? — a mulher concordou. — Depois que minha mãe morreu, a senhorita cuidou de mim, a tenho como mãe! E lhe devo gratidão! — A encarou com seriedade. — Mamãe não queria que eu vivesse com dignidade? Pois então... — deu uma piscadela. — A oportunidade é agora!

Lívia puxou o recibo da modista do decote do vestido e sob o olhar preocupado da amiga, escreveu um bilhete para José Inácio:

"Meu amado,

Nossos encontros se tornarão mais raros, pois agora trabalho como dama de companhia de uma nobre. Sinto-me digna de vivermos juntos. Por favor, envie-me uma carta para o endereço abaixo. Assim que souber o dia do meu descanso, avisarei para que possamos saciar a nossa saudade.

Com amor, Lívia Albuquerque"

Parte superior do formulário

— Quero que encontre uma forma de entregar o bilhete ao José, quando ele vier a minha procura, sim? — estendeu o papel dobrado para a amiga.

Anastácia escondeu a cicatriz, atando o lenço. Queria vingança, encarar a condessa outra vez, mas se achava covarde para tal. Pensou em argumentos que pudessem fazer com que a senhorita Albuquerque desistisse daqueles planos, mas a moça não era dada a desistências e adorava saborear vinganças.

— Não dê para trás, hein?! — Albuquerque advertiu buscando os olhos da mulher. — Se você desistir, será a minha ruína, Anastácia.

*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*.*

Sentada em uma das cadeiras luxuosas da varanda frontal da mansão, Berenice deleitava-se com seu chá da tarde acompanhado de biscoitos amanteigados, enquanto desfrutava do silêncio quase absoluto, apenas interrompido pelos sons suaves da natureza ao seu redor.

A Sedução de Lívia (DEGUSTAÇÃO) (AMAZON)Onde histórias criam vida. Descubra agora