Ao ver as mulheres se aproximando da carruagem, Miguel ficou curioso com a maneira como caminhavam tão próximas, de braços dados. No entanto, o criado permaneceu em silêncio e as ajudou a entrar no coche.
— Para onde vamos, senhora? — o homem indagou, encarando os olhos da mulher com profundidade, antes de fechar a portinhola da carruagem.
Berenice compreendeu facilmente as intenções do criado com aquela pergunta. Ela endireitou a coluna, olhou para Lívia, que estava sentada à sua frente, e após um discreto suspiro, respondeu:
— Me diga o seu endereço, senhorita. A levarei à sua casa.
— Ah, sim! Moro em Campo Verde! — Lívia referiu-se ao município vizinho. — Mas é bem afastado, senhora Berenice! Se me deixar no centro, de lá, consigo me deslocar.
A condessa concordou e voltou-se para o criado:
— Siga adiante. Gostaria de conversar com essa jovem sem interrupções.
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Sob um silêncio sepulcral, Berenice e Lívia se observavam. Apesar do olhar da mulher mais velha ser um tanto quanto intimidador para a maioria das pessoas, a jovem o sustentava por longos períodos, como se aquilo lhe fosse um desafio. E Lívia gostava de desafios.
Raciocinando sobre o que diria, mais uma vez, Berenice pesou os olhos sobre a moça, aprovando as vestimentas que ela usava. De fato, o vestido na cor salmão, de mangas compridas, bordadas em crivo, contrastava com perfeição na pele da senhorita Albuquerque. Após tremular os lábios finos, a mulher iniciou o assunto.
— Confesso estar curiosa para saber um pouco mais sobre você, senhorita.
Por uma fração de segundos, a garota desviou o olhar para a paisagem que transcorria pela janela da carruagem. Remexeu-se discretamente, como se analisasse o que diria, enquanto a senhora Silveira a olhava, aguardando o menor deslize.
— E sobre o que gostaria de saber? — voltou a encarar a mais velha.
Com um sorriso astuto na boca, Berenice logo percebeu que Lívia era ardilosa com as palavras.
— Ora — a condessa deu um risinho. —, a sua idade, sobre seus pais, a sua família...
— Hum, bem... Meu nome é Lívia Albuquerque, tenho vinte e dois anos e... — Ficou cabisbaixa por alguns segundos. — O meu pai morreu e minha mãe está muito adoentada, senhora. — um leve pesar assumiu seu rosto. — Vivemos de ajuda e...
— Ah, certo. Já me contou o suficiente. — Impaciente, Berenice interrompeu as lamúrias. — E caso seja escolhida para ser a minha dama de companhia, quem cuidará da sua mãe, querida? — repuxou o canto dos lábios em um sorriso sombrio. Estava gostando do cinismo da mais nova.
Lívia mirou os olhos, outra vez, pela janela da carruagem e percebeu que a vegetação aumentava. Ouvia os cascos dos cavalos contra a terra, levantando uma leve nuvem de poeira.
— Bem, tenho uma irmã mais nova e a nossa comadre. Não se preocupe com isso. Não interferirá em meu trabalho. — Sorriu gentilmente. — Desde que eu esteja liberada para visitá-las uma vez na semana, serei leal a tudo o que me pedir.
— Contarei com a sua lealdade, inclusive para lhe confidenciar os meus segredos. Se acha confiável para tal?
A garota riu.
— Ora, mas isso é a senhora quem deverá me dizer. — inclinou-se na direção da mulher. — Mas saiba que sou excelente em guardar segredos. — ergueu uma das sobrancelhas. — Especialmente os ditos "pecaminosos". — Berenice riu da audácia da garota. — Bem — Lívia deu de ombros, afastando-se. —, se é que a senhora tem algum.
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A Sedução de Lívia (DEGUSTAÇÃO) (AMAZON)
RomanceEsta obra encontra-se registrada na Câmara Brasileira do Livro (CBL) com identificação do direito autoral como DA-2023-035417. DISPONÍVEL COMPLETO NA AMAZON E PELO KINDLE UNLIMITED No Brasil do século XIX, a condessa Berenice Silveira vive uma vida...