Capítulo IX - Fotos De Uma Família Feliz

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— Alex! Tá tudo bem, meu filho? Precisa de algum remédio? Toma umas quarenta gotas de Colegórico para já passar esse enjoo! — Bela disse com a palma da mão atrás da porta do banheiro que estava trancada por Alex do outro lado.

— Não precisa, mãe!! Eu tô bem, sim! Foi só o almoço de hoje que não me fez bem, mas já vou melhorar agora.

— Ai, ai, ai... Tá bom. Mas toma um remédio pro fígado mesmo assim!

— Tá, vou tomar. Vou descer daqui a pouco.

— Tá bom, hein.

— Pode deixar.

Alex observava as próprias mãos quentes enquanto gotas de água fria caíam dos cabelos molhados. A pele estava branca pela força excessiva ao segurar a borda da pia de porcelana. O som do líquido que jorrava da torneira com rapidez não era suficiente para abafar o eco do grito de Heitor na mente do rapaz. Era como se a pele dele estivesse em todos os poros da própria pele e os dedos dele apertassem o seu próprio coração, tentando impedí-lo de pulsar.

"Por que eu tô vendo isso?"

Alex suspirou enquanto enxugava as lágrimas salgadas e respirava profundamente. O rapaz observou o próprio rosto pálido e os olhos arregalados com pupilas contraídas. De qualquer forma, constatou que precisava descer ainda – iria suportar aquela noite por Bela – mas os carrapatos do nervosismo esfregavam suas patas pelo couro cabeludo dele que coçava.

Alex tentou saborear o jantar quando voltou para a mesa, mas o sabor amargo na boca ainda era presente. Não conseguia conectar-se com a conversa de pastores que persistia em ressurgir, mesmo quando Bela comentava sobre o cotidiano na confeitaria. Talvez a bíblia fosse tudo o que aquele velho conhecia.

O rapaz foi retirado de seus pensamentos quando Sofia perguntou se ele gostou da lasanha. Ele, enquanto saboreava uma fatia, respondeu:

— Nossa... Hummmmmm! Muito boa! Adoro que tem muito presunto — Alex respondeu sorrindo com entusiasmo genuíno em um singelo momento de descontração com a voz da amiga.

— Advinha quem fez?

Por um mísero segundo Alex travou o próprio corpo completamente.

— Euuuuuu!!! — Sofia disse.

— Ah. Cof Ah! Mentira! Cof.. Cof... Mulher... Paola Caçarola que se cuide — Alex tentou fazer referências engraçadas para eles, assim poderia disfarçar a tosse causada pelo pavor de imaginar comer qualquer coisa feita pelas mãos daquele ser que ele não deseja direcionar nem o menor vislumbre da visão periférica.

— Amo!!

— Queria ser assim, sério! Essa lasanha tá divina, amiga. Eu não sei cozinhar muito além de miojo, ovo e salsicha.

— Obrigada! Todo mundo começa de algum lugar, né... Eu vivo cozinhando e testando receitas diferentes quando tenho tempo, então quando quiser só ir me visitar que eu te ensino pelo menos o básico pra você não morrer de fome quando morar sozinho.

— Oush, também não é assim!

— Se não morrer de fome vai ser por subnutrição só comendo salsicha e ovo.

— Ah. — Alex emitiu num curto tempo e baixo volume para simbolizar a própria derrota — Como você aprendeu a cozinhar?

— Eu cozinho com meu pai desde criança. Minha mãe não tinha muito tempo para ficar em casa por causa do trabalho, então meu pai ficava comigo a maior parte do tempo. Nunca mais eu tinha feito nada disso por causa da organização da peça. Nunca mais tinha fiz bolos. Adoro fazer bolos também!

A Cor Do Céu Nos Seus Olhos (Romance Gay)Onde histórias criam vida. Descubra agora