Epílogo: A monogamia humana é estranha

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Era o fim do último culto de Craig daquele dia. Os fiéis já se levantavam, seguindo para a porta da igreja, Clyde prometeu a Craig que cuidaria dos papéis burocráticos da igreja naquele dia, e no dia seguinte ele teria sua folga.

O moreno estava bastante animado para sua folga, coisa que seus colegas de igreja sempre estranhavam. Ele sempre parecia disposto a trabalhar, muitas vezes até aparecia na igreja fora do seu dia de trabalho. Algo havia mudado na vida de Craig, mas pelo moreno ser muito fechado, ele nunca contava o que poderia ser.

Mas não era difícil de descobrir.

No celular de Craig naquele momento chegavam duas mensagens que se vistas por outras pessoas poderiam entregar completamente sua razão de querer estar em casa.

"Já estou te esperando ;) "

O Pastor sorriu ao ver o recado, e rapidamente se despediu dos outros funcionários da igreja, para começar o seu caminho para casa.

Ninguém na igreja sabia, mas Craig estava em uma espécie de relacionamento com alguém bastante peculiar, alguém que nunca seria aprovado dentro da igreja. Um literal servo de Satan, um Imp que estava na Terra para informar seu mestre sobre os mortais.

Craig fora seduzido por aquela criatura alguns meses antes, e eles continuaram se vendo. Todos os dias, a figura loira e agitada aparecia em sua casa, com o mesmo sorriso libidinoso de sempre, querendo outra noite com o Pastor. Mas, havia algo nessa relação bastante peculiar.

Não era sempre que Tweek aparecia na casa de Craig por motivos sexuais, as vezes os dois apenas ficavam conversando na sala, comiam juntos, ou saíam juntos, sem Tweek querer levar Craig para lugares estranhos.

Será que a relação deles estava evoluindo...de forma romântica?

Craig já havia tido um caso durante a faculdade, e como ele não estava mais bloqueando o que sentia, acreditava que poderia firmar um relacionamento. Não havia uma maneira de pecar mais do que ele já estava pecando.

E além do mais, como será que funcionava a ideia de seres infernais sobre relacionamentos? Será que era como a de humanos? Será que eles se relacionavam entre si de alguma forma?

Antes dele querer firmar algo com Tweek, precisava saber dessas coisas. Não seria difícil perguntá-las para o loiro, já que ele não costumava esconder coisas de Craig, até por querer chocá-lo em vários momentos.

O Pastor continuou seu caminho até sua casa, em passos ligeiramente rápidos, e não demorou para chegar. Como o Imp já havia dito que estava na casa, Craig não se surpreendeu ao entrar na sala e ver Tweek levitando em sua frente, com as pernas cruzadas e seu sorriso libidinoso de sempre.

— Olá, Pastor. — Disse Tweek, sensualmente, levantando o voo e indo até Craig.

Antes que o Pastor pudesse responder, foi surpreendido por um longo beijo. Ele já estava começando a se acostumar com essas recepções, que aconteciam desde a primeira noite dos dois juntos, mas elas nunca deixariam de mexer com ele.

— Oi, Tweek. — Respondeu Craig, simplesmente, arrumando o chullo em sua cabeça.

Ele estava ansioso para perguntar o que assolava sua mente naquele momento, mas aparentemente, aquele dia foi cheio para Tweek, pois sua expressão corporal mostrava que ele tinha muito o que contar.

Desde que os dois começaram a se ver mais, Tweek começou a desenvolver um hobby bastante específico, dentro de seu trabalho normal de observar mortais: gravar o rosto dos fiéis que ele via na igreja de Craig, e depois observar o que eles faziam em sua vida privada, para contar para o Pastor. Parecia estúpido, mas o moreno gostava. Havia algo muito interessante em saber mais sobre a vida alheia.

— ...e aquele cara que parece com você, acho que o nome dele é Stan, ele começou a sair com o ruivo que senta do lado dele em todos os cultos. — Contou o loiro, parecendo bastante entusiasmado. — Eles não querem assumir, porque acham que você vai expulsar eles da igreja, ora, logo você!

Essas pessoas que Tweek estava falando eram, na verdade, colegas de Craig na época da escola, e colegas que Craig particularmente nunca gostara. E isso piorou quando o moreno se tornou o Pastor da igreja evangélica local, e começou a ser chamado por eles toda hora, por acharem que havia algo maligno em suas casas, sendo que nunca havia nada ou era apenas uma pegadinha de Eric Cartman, um dos poucos habitantes da cidade que não era evangélico, que vivia brincando com a fé de seus amigos.

— Se eu fosse expulsar eles da igreja, seria por outros motivos, e eu tenho vários. — Falou Craig, revirando os olhos.

Era bom que o loiro tivesse começado a falar de relacionamento, assim teria um gancho melhor para ele fazer sua pergunta.

— Falando nisso, como vocês do inferno veem relacionamentos românticos? — Perguntou o Pastor, enquanto se servia uma xícara do café que Tweek havia feito recentemente.

Tweek adorava os momentos em que Craig fazia perguntas sobre sua vida no inferno, ou sobre criaturas num geral, sempre demonstrava que o Pastor realmente se interessava por ele.

Porém, essa pergunta em especial havia pego o Imp de surpresa. O loiro sentiu que Craig não tinha apenas curiosidade em saber do assunto, havia mais alguma intenção ali.

— Achamos isso uma besteira, é obvio. — Disse Tweek, com um sorriso sarcástico no rosto. — A monogamia humana sempre nos intrigou bastante.

Essa colocação não surpreendeu Craig de forma alguma. Tweek sempre falava coisas do gênero, e o moreno sabia que eram para deixá-lo chocado. Porém, ele já havia notado que muitas delas eram exageros.

No dia em que o Pastor e o Imp teriam seu primeiro encontro, que fora interrompido devido a uma ordem externa, Tweek havia deixado Implícito que havia descoberto que era seu dia de folga devido a seus poderes infernais. Porém, após a primeira noite dos dois, Tweek contou para ele, as gargalhadas, que ele havia descoberto olhando os planejamentos da igreja.

— Sério? — Perguntou Craig, com as sobrancelhas arqueadas, com uma clara dúvida em sua voz.

Tweek fez um beicinho, tentando parecer contrariado.

— Ah, você não cai mais no que eu digo, assim não tem graça. — Disse o loiro, voando para mais perto de Craig. — Mas se você quer mesmo saber, não temos um consenso sobre isso.

— O que quer dizer? — Perguntou o Pastor, com a expressão levemente confusa.

Será que as leis no inferno eram realmente flutuantes? Mesmo se relacionando com Tweek a tanto tempo, Craig ainda não conseguia entender as diretrizes de comportamento do senhor do inferno, e estava começando a acreditar que eles não tinham uma.

— Ora, cada um de nós se relaciona da forma que quiser, ou sequer se relaciona. — Contou Tweek.

— Ah. — O Pastor murmurou, simplesmente.

Craig não sabia como continuaria com esse assunto, ou sequer como perguntaria se Tweek gostaria de ter algum relacionamento mais sério com ele, e isso ficava mais difícil ainda por ele sequer saber o que Tweek realmente pensava sobre o assunto.

Porém, enquanto Craig escolhia a próxima sentença, o Imp se aproximou e sussurrou algo em seu ouvido, em um tom sensual.

— Eu aceito.

O coração de Craig acelerou, e ele sentiu suor escorrendo pelo seu rosto. Apesar dele e Tweek se virem a tanto tempo, essas coisas ainda o afetavam.

— O quê? — Perguntou o Pastor, ainda abalado.

— Eu não sou ingênuo, Pastor, consigo notar suas intenções. — Disse o Imp, voltando a flutuar na frente de Craig. — Sei que você está pedindo para termos um relacionamento monogâmico e padrão que seres humanos adoram nutrir.

Havia um sorriso suave no rosto de Tweek, que ia contra a ironia que suas palavras carregavam, e Craig sabia que ele estava mais feliz do que gostaria de admitir.


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