Quatro.

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Noah Urrea, 2020.

VOCÊ vai precisar manter isso em segredo, certo? A Sina não pode descobrir a verdade nunca. — Proferi as palavras depois de tudo.

— Está tudo certo, Noah. A documentação do divórcio já está no processo final e, por mais que eu não concorde em uma decisão tão importante ter sido tomada só por sua parte, ela não vai saber da verdade. — Hina, minha consultora e assistente apertou a minha mão, indicando que a nossa reunião já estava finalizada.

Sina queria falar comigo há alguns dias, mas eu não queria me dispor a ter a conversa antes que eu tivesse tudo o que era necessário para que o meu plano desse certo. Mesmo sem participar ativamente de todo o processo, eu sabia que essa era a sua vontade.

Mas não a minha.

Eu definitivamente não queria me separar da loira, mas ela estava tão determinada a seguir com isso que, por amá-la demais, fiz de tudo para que o seu desejo se realizasse. Eu podia lidar com a minha embriaguez e o meu consumo de drogas sozinho, não queria ter que continuar envolvendo-a nisso. Sina merecia ser feliz.

Hina não concordava com o meu plano, mas o que eu podia fazer? Estava indo contra tudo aquilo que eu acreditava para poder deixar Sina ser feliz outra vez. Por alguns anos, consegui deixá-la feliz ao meu lado, mas agora não dava mais.

— Você tem que dar início à live excepcionalmente às 19h, certo? E faça tudo o que você combinou, apesar de eu ainda não concordar. Não tem mesmo uma opção menos dolorosa, Noah? — Hina me questionou, lançando um olhar preocupado em minha direção.

— Claro que tenho, você não precisa se preocupar, de verdade. Eu vou saber lidar com tudo isso, e eu espero que a Sina também. Aliás, ela precisa saber lidar. — Levantei do sofá estofado em um ímpeto, fazendo com que a japonesa balançasse a cabeça, em negação.

Não só ela, mas se Linsey e meus amigos soubessem do que eu estava prestes a fazer certamente não haveria mais Noah para contar história. E a mamãe me julgaria primeiro por ter ido em desacordo ao que eu prometi na igreja quando me casei com Sina, mas também por enganá-la feio mais uma vez. Só que minha mãe não poderia me julgar, porque ela estava morta.

Pensar nisso de novo me balançou e me fez questionar por um momento se eu realmente fiz a escolha certa, porque, quando a minha mãe morreu de câncer há quatro anos, a pessoa que secou as minhas lágrimas e não se abateu com o meu sofrimento foi a mesma a quem eu iria magoar hoje à noite. Iria magoar tanto que pensei em desistir, mas eu iria magoá-la ainda mais se continuássemos juntos.

A minha caminhada até o elevador foi automática. Não reparei em nada do que eu fiz até receber uma rajada de vento quente bem típico de Los Angeles em pleno pico alto da tarde. Mesmo com toda a merda em que eu me encontrava, ainda tinha uma carreira para zelar e fãs para agradar. Os mesmos fãs que iriam me jogar pedras pelo que eu iria fazer hoje à noite, mas eu já tinha pensado em todas as consequências da minha decisão antes mesmo de tomá-la.

[...]

Quando cheguei em casa, já era final da tarde e Sina não estava no apartamento. Eu preferia até que ela não estivesse, porque eu era corajoso para fazer o que iria fazer, mas quando eu olhasse nos olhos dela, seria um covarde de merda. A mentira dói.

Decidi tomar um banho antes de tirar as minhas coisas do banheiro e juntá-las, jogando tudo em uma mochila. Consegui tirar duas malas de dentro do closet e coloquei a maior quantidade de roupas que eu pude dentro das mesmas. Sapatos não quis levar muitos, com exceção dos meus pares de Converse. Tudo já estava preparado e respirei fundo ao ver que já eram 18:45h. Peguei o meu celular e abri no aplicativo do Instagram, escolhendo um filtro legal e pressionando o botão para gravar um stories.

BETRAYAL × noartOnde histórias criam vida. Descubra agora