O despertar

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Na solidão
Encontrei meu caos
Enleada a tudo que me aprisiona
Procurei desembaraçar os nós
Como a própria Ariadna
Perdida em seu labirinto íntimo.
Como desatar nós na escuridão?
Pensei.
Ali toda enrolada apertei os olhos
E pedi a uma parte de mim
Que nunca me abandona
Traga-me uma luz
É um brilho na mente surgiu
Pequena, ínfima, como um fósforo riscado.
Mas o suficiente para acessar meus arquivos de almas perfumadas
Aquelas almas
Que segundo Drumond
Trazem alegria e tranquilidade
De gente que trás leveza
Transborda aquilo que tanto ansiamos

Assim faço uma recarga nostálgica
E vou desembaraçando a linha
iniciando um novelo
Que começa pequenino entre os  dedos
Iluminado pelas memórias da infância
A linha começa a tomar forma
E assim que as memórias
vão aumentando em luz
consigo dar passos menos inseguros
Consigo ter menos medo do meu escuro
Do lugar em que meus monstros se fazem cela.

A figura de papai me dá mão
A figura do amor aquiesce o peito
A figura de tudo que tenho cultivado se acende
E mostra me o caminho
Saio do labirinto
A linha já robusta em minhas mãos
Olho para o jardim que venho cultivando
Não tenho sido uma cuidadora zelosa

E o lago.
A água ali parada
Água parada não move moinhos
Me vejo nela
Não, não move
Onde estará meu moinho?

Mas lampejos de memórias
A água me lembra a teoria do espelho
Que uma pessoa sabia
certa vez me apresentou
Numa conversa mansa
Mas que muito me tocou
Reclamava do mal comportamento de alguém
E fui surpreendida com a seguinte resposta:
"Agradeça por isso, ele é o professor para seu treino emocional, sua paciência e sua limpeza espiritual".

Calada diante da grande verdade
Entendi a lição
As almas perfumadas nos tiram do escuro
As almas no caos nos levam de onde queremos fugir.

Então, mais uma vez me vi no escuro
Alguém havia plantado uma semente em mim
Quando estive diante do seu caos
Fiquei parada observando
Sentindo o no na garganta
Segurando as lágrimas nos olhos
Aguentando a dor pungente no peito
Nós não vemos nosso caos com olhos alheios
Mas parei para ver o dele como se fosse o meu
As galáxias nascem do caos,
das pressões de gases atmosféricos.

Apesar da dor
Tinha algo mágico nisso
Seu caos era a roda do moinho em meu lago
E do nada ventos sopraram e
Deu-se inicio ao movimento 
das águas da minha vida.

Somos movidos por impulsos
Um é o impulso que move o outro
Eu sou o impulso feminino positivo
O outro é o impulso masculino negativo
Duas partes para garantir um todo
Mas em ambos os lados
Metades ainda imperfeitas

Ambos se unem para gerar vida em si
E a cada pensamento
A cada movimento
A cada impulso a movimentar as águas
Um lampejo na roda viva
A agua agora se oxigena
Tem mais ânimo
Mais vigor
Quanto mais circula
um move o outro
nas incertezas de seu caos,
Nas dureza da sua vida
Das nossas incompletude.

A água consegue sentir seu toque, suas carícias
Mesmo que ele esteja cego
Furioso em seu movimento
Quase nem percebe a agua lhe percorrer cada centímetro.

Pássaros vem bebericar na água
Algas se movimentam no fundo
Peixes saem de suas tocas
Tudo movido pelo caos alheio

E quando observa sua imensidão
As águas Transbordam em ondas
de gratidão e amor
Salva pelo moinho
Seu espelho da salvação
Que cedo ou tarde cederá ao movimento exausto
Com o cessar do vento.

Então, ela, agora brilhante
preenchida de um caos perfumado
Poe seu lampejo de luz em seu caminho
E assim, num dado momento
Ambos possam perceber
Que as intemperanças
São o caminho para se encontrar verdades
Que é preciso ir até o inferno
Para valorizar o céu...

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