Eu Não Vou Embora

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Yeosang sabia muito bem no que estava se metendo. Sempre que comentava como o garoto de artes plásticas era bonito, ouvia algum comentário dos amigos sobre suas esquisitices. Agora, ele estava no hospital devido a mais uma crise do namorado. Mas isso não significava que ele era esquisito. Fazia parte da pessoa que Mingi era e ele estava disposto a aceitar.

— Mingi, você precisa respirar.

— Não, eu estou respirando muito alto!

— Mingi, me escuta...

— Ele pode ouvir você.

— Amor...

Moço, você tem que falar baixo, ele vai te ouvir! — essa era a pior parte: quando Mingi não o reconhecia.

— Assim tá bom? — sussurrou.

— Isso. Assim. Bem baixinho pra ele não ouvir. Ele é perigoso, mas eu posso proteger nós dois.

Mingi passou por muita merda. Sua mãe havia morrido quando ainda era bebê, o que o fez ser criado pelo pai alcoólatra que não parava em casa. Quando estava, agredia o filho com as garrafas e algumas panelas. Mingi tinha na cabeça algumas cicatrizes dos cortes. Isso ainda era o de menos.

Quando tinha entre 15 e 16 anos, seu pai foi preso - a vizinhança dizia que ele batia na esposa, mas não era difícil de imaginar, já que ele batia até mesmo no filho. Sem o pai e parentes próximos, Mingi passou o resto da adolescência em abrigos, dividindo o - pouco - que tinha com outros. Alguns eram menores infratores. Mingi era tão indefeso.

Era ingênuo. Carente. Mas não burro.

Mingi tinha um talento nato para as artes, por isso tentou admissão em Artes Plásticas e conseguiu. Mas ele não sabia o que estava por vir.

Toda sua vida antes dos 18 foi marcada por tantos abusos que todos os seus atos, por menores que fossem, tinham uma origem. Cobrir as orelhas com barulhos altos? Medo que seu pai gritasse. Usar manga comprida até mesmo no verão? Esconder as marcas que os garotos mais velhos deixavam. Se esquivar de toques? Proteção para que ninguém o machucasse. Não falar muito em público? Medo que zombassem de sua voz.

Mingi tinha muitas cicatrizes e parecia que ninguém estava disposto a aceitá-las, por isso, até mesmo quando achou que estivesse livre, que poderia finalmente ser ele mesmo, estava enganado. Não é a toa que dizem nada é tão ruim que não possa piorar.

— Você pinta tão bem! Fico admirado como você escolhe bem as cores. — Yeosang disse, finalmente tomando coragem.

— Obrigado. — ele murmurou tímido.

— Meu nome é Yeosang e o seu? — ele apontou para a tela, uma pequena assinatura de SMinGi estava no canto.

— S Mingi? Mingi? — ele confirmou, ainda com medo do que o garoto poderia fazer com essa informação, mas ele apenas voltou ao seu lugar e continuou assistindo a aula.

— O que você estava fazendo? — San perguntou.

— O quê?

— Aquele é o cara estranho que eu te falei, porra.

— Estranho? Aquele fofo? Ah, por favor, San.

— Ele está dizendo a verdade. Ele tem alguns surtos e foge da aula sem dar explicações. Ninguém nunca entendeu o que ele tem, mas normal ele não é... — Jongho avisou.

— Parem, não é legal falar assim das pessoas.

— É a verdade!

— Apenas parem.

MINSANG - Seu Sabor De CarameloOnde histórias criam vida. Descubra agora