Susan, Megan e Lucia.
Essas são as mulheres responsáveis por eu ainda ter qualquer entretenimento da minha vida. As vizinhas fofoqueiras — e às vezes minhas amigas — são a parte mais interessante dos meus dias.
Elas sabem de quase tudo que acontece no bairro. Fofocam horrores sobre todos. Inventam boatos maldosos sobre os que não gostam. Aumentam suas próprias histórias para parecerem maiores do que realmente foram.
É uma sorte que elas gostem de mim. Não, é uma sorte que eu seja milionária e elas saibam disso. Aqui nesse bairro nobre e de elite, você é respeitado de acordo com a sua conta bancária. Modéstia parte, estou entre as cinco pessoas mais ricas da região.
Esse é o único motivo pelo qual elas não falam sobre mim. Por que riqueza quer dizer poder e elas ganham algum certo nível de poder apenas por estarem comigo.
É clichê e maldoso, mas é a realidade.
— Já ouviram os boatos sobre o Tiger? — pergunta Susan de repente. Ela é tão alta que quando estica o pescoço parece com um avestruz.
Megan, a baixinha gordinha e mais fofoqueira de todas, arregala os olhos, ansiosa.
— Que boatos?
Bebo um gole de vinho lentamente.
— Quem é Tiger? — pergunto tranquilamente.
— O filho do Jorge, seu vizinho. — responde Lucia. Ela é a mais velha de nós, e por isso conhece todos bem o suficiente para saber seus nomes, sobrenomes e endereços. — Não o conhece?
É claro que conheço Tiger. Faz duas semanas que ele está na casa de Jorge e ouço algumas coisas bem interessantes sobre ele. E mais importante, vejo muita coisa. Coisas que preciso fingir que não vejo, então é bom que elas pensem que mal o conheço.
— Só devo tê-lo visto uma ou duas vezes, mas não sabia o nome dele.
— Ele é um filho problemático. — continua Lucia, animada. — Depois que a mãe traiu Jorge com o nutricionista, Tiger ficou rebelde. Bebia, usava drogas e toda semana acabava na prisão. Um verdadeiro encrenqueiro.
— Nenhuma surpresa até então. — diz Susan com seu pescoço de avestruz. — Mas fiquei sabendo que ele foi visto em um momento íntimo com a filha do pastor.
Lucia e Megan soltam arquejos surpresos e tenho que fazer o mesmo. Não digo nada sobre ter visto a menina pulando no colo dele algumas noites atrás.
— Pobrezinha. — diz Megan, com a mão no peito. — Ele deve tê-la corrompido de alguma maneira.
— Provavelmente. — continua Susan. — Ela é uma menina tão boa e pura. Não deve ter um único fio de malícia em seu cabelo.
As duas concordam com acenos de cabeça exagerados. Bebo mais um gole de vinho para não ter que fazer o mesmo.
Se eu contasse tudo que os dois fizeram naquela espreguiçadeira, as duas mudariam de ideia rapidinho. Mas ao invés disso, digo outra coisa.
— Só espero que isso não se espalhe pelo bairro. Ela com certeza não merece ter o nome exposto em algo tão íntimo e privado.
— Sim, querida Marcella. Você está absolutamente certa. — diz Megan em tom de compreensão.
— No que depender de nós, vamos protegê-la de todo e qualquer comentário maldoso. — concorda Lucia.
Sorrio para as três, sabendo que todas irão repassar essa informação para o bairro todo, até a pobre menina ter seu nome manchado permanentemente.
...
Fico com elas por mais duas horas e descubro coisas relevantes sobre Tiger. Algumas frases específicas ainda pipocam em minha mente.
Ele é um delinquente.
Um homenzinho grosso e esnobe.
Não respeita nossos valores e tradições.
Mancha o nome de Jorge, que é um bom homem.
É um depravado encrenqueiro.
É quase engraçado que tenham detonado Tiger, mas não conseguiram deixar de mencionar que ele tem um rosto bonito, um corpo atraente e um ar sexy.
Tão hipócritas.
É claro que percebi algumas coisas por mim mesma. Tiger não disfarça a intenção de se exibir toda vez que leva alguma garota para a área da piscina. Não esconde o olhar malicioso que lança toda vez que me vê. Faz questão de colocar um rock pesado estupidamente alto logo cedo, só para incomodar os vizinhos.
É uma praga, mas ter vinte anos é isso, não é?
Quando chego em casa, encontro tudo escuro. Acendo a luz da sala e olho para a cozinha. Não há sinal que Ted tenha jantado em casa. Subo até nosso quarto, mas não o vejo ali também.
Pego o celular na bolsa e confiro as ligações. Uma ligação perdida e uma mensagem de texto.
Querida, sinto muito, mas precisei fazer uma viagem de última hora. Lembra da possível venda da Osccorc? Então, o representando mudou o local da reunião e precisei vir para Los Angeles. Ligo depois contando como foi a reunião. Amo você.
Sento na beirada do colchão e fecho os olhos, puxando na mente essa venda da Osccord. Ted não mencionou nada para mim, tenho certeza. Sempre fico curiosa para saber sobre venda de ações, já que costumo comprar algumas para mim mesma. E ele não falou sobre isso.
Aquela sensação, aquele aviso que tenho ignorado deliberadamente durante meses volta com tudo. Não sou idiota. Sei que não é normal o homem passar mais de quatorze horas no trabalho, chegar em casa cansado e só dormir. Ted é um homem sexual e não transa comigo a meses.
Respiro fundo.
A questão é: com quem ele está transando?
Correndo o risco de descobrir o que não quero, começo a revirar o cesto de roupa suja. Pego suas camisetas e sinto mais de um perfume nelas. E continuo procurando até encontrar.
Até encontrar uma mancha de batom rosa — cor que eu nunca usaria — em uma de suas camisas caras.
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O filho do vizinho - Conto erótico (amostra)
RomanceMarcella Smith é uma mulher de trinta anos que está vendo seu casamento ruir. O marido não lhe dá atenção e quase não fica em casa. A coisa mais interessante dos seus dias é assistir Tiger, o filho do vizinho, transar com mulheres aleatórias na área...