Sentada no sofá de casa, tento desesperadamente não pensar no que a minha vida estava se tornando.
No tipo de mulher eu estou me tornando. Faltando poucas semanas para completar trinta anos, percebo que isso — a vida de dona de casa — não é bem o que eu queria quando me casei.
Ted me prometeu viagens, companheirismo e aventura. Só recebi um anel bonito e horas sem fazer nada interessante.
Talvez eu esteja esperando demais de um casamento, mas definitivamente não é esse o caso. Eu sequer tenho um casamento. Meu marido trabalha quase quatorze horas por dia, mesmo não sendo necessário.
Vivemos muito bem financeiramente, então as longas horas de trabalho são muito mais um hobby do que realmente uma necessidade.
O problema é eu não ter nenhum hobby. Tudo que tentei fazer — aula de dança, natação, fotografia, academia e aulas de violão — só prendeu minha atenção por poucas semanas antes de se tornar tedioso e cansativo.
Acho que a crise dos trinta anos está se aproximando.
Fico contemplando minha infelicidade por tanto tempo que quase não percebo quando Ted chega. E seguimos o mesmo roteiro de sempre
Ele sorri e se aproxima para beijar minha bochecha.
— Boa noite, querida. — diz ele. Depois vai seguir o padrão do último ano: dizer que está cansado, que o dia foi cheio e que só quer tomar banho e cair na cama. — Nossa, estou tão cansado. — ele tira o óculos de grau e massageia os olhos. — O dia hoje foi cheio de coisas para fazer. Honestamente, só quero tomar um banho quente e cair na cama.
E seguindo o meu papel, vou ser a boa esposa que tira seu terno e o incentiva a descansar.
— Oh. — levanto do sofá e o ajudo a tirar o paletó. — Você parece mesmo cansado. Acho que devia descansar, parece tão abatido.
Ted sorri e volta a colocar os óculos.
— Sim, sim. Você está certa. — e depois de mais um beijo na bochecha, ele sobe a escada e desaparece no andar de cima.
Viu? Essa é a única interação que tenho com ele durante o dia todo, já que sai para trabalhar tão cedo que ainda estou dormindo.
É, minha vida tem sido um tédio e uma monotonia que entristece qualquer um.
Fico mais um tempo na sala pensando em como tudo chegou nesse nível. Em como deixei chegar a esse nível.
Conheci Ted em uma reunião de trabalho. Eu estava vendendo as minhas ações da empresa que ajudei a fundar, e ele era o representante de um dos possíveis compradores.
Ele foi direto, objetivo e muito persuasivo. Quando a reunião acabou, eu e meu advogado concordamos que a proposta de Ted era a melhor dentre os concorrentes. Depois que tudo estava certo, ele me surpreendeu ao me chamar para sair.
É claro que o convite foi aceito. Ted é um homem extremamente charmoso: alto, cabelo claro e olhos castanhos. Talvez um pouco musculoso demais para o meu gosto, mas o sorriso sedutor e a confiança nos movimentos chamaram minha atenção desde o começo. Claro que o sexo selvagem também foi um ótimo incentivo para aceitar o pedido de casamento dele.
Hoje em dia não há sexo de nenhum tipo. Faz meses desde a última vez que Ted me tocou, ele está sempre tão cansado que não lembra que tem uma esposa em casa.
Isso é tão frustrante. Quatro anos de casados e já estamos na fase de não transar. Por quanto tempo vou aguentar levar isso adiante?
Empurro esses pensamentos para o fundo da mente e decido ir dormir. Quando abro a porta do nosso quarto, a primeira coisa que vejo é Ted largado no meio do colchão. Respiro fundo e volto a fechar a porta. É impossível dormir naquela cama sem acordá-lo, e como ele disse que estava cansado, resolvo não o fazer. De novo.
Faz quase duas semanas que tenho dormido no quarto de hóspedes já que meu marido não deixa espaço na cama para mim.
O que estou fazendo com a minha vida?
Não era para ser assim. Eu não devia estar frustrada, infeliz e me sentindo a mulher menos desejável do mundo.
Sei que tenho atributos interessantes: fui abençoada com um corpo bom mesmo nunca tendo precisado pisar na academia, tenho altura mediana, olhos azuis, cabelo castanho claro. Alguns dizem que tenho uma confiança nata nos movimentos, mas é algo que nunca reparei, então não sei ao certo.
Mas nada disso interessa quando seu próprio marido não parece minimamente interessado.
Já no quarto de hóspedes, tomo um longo banho. Depois coloco a camisola mais bonita que tenho. É importante me sentir sexy, mesmo que eu seja a única a contemplar a peça de renda.
Deito na cama e estico a mão para pegar o Kindle, mas aí percebo que a cortina da janela está aberta e uma fresta de luz irritante invade o quarto. Levanto e vou até a janela, já com a mão na cortina, mas aí paro para prestar atenção na área da piscina do vizinho.
E lá está Tiger. O filho do vizinho. O menino de vinte anos que anda me deixando desconfortável e irritada.
E principalmente excitada.
Ele está deitado na espreguiçadeira, os braços cruzados atrás da cabeça e encarando o céu, como se estivesse entediado. E entre as pernas dele, tem uma garota muito empenhada em lhe dar prazer. De onde estou, consigo observar o quanto a cabeça ruiva sobe e desce no que parece ser um boquete não tão bom.
Resisto a vontade de revirar os olhos. É a terceira vez na semana que tem uma garota pagando um boquete para ele. E como toda vez, ele faz questão de posicionar a espreguiçadeira virada para a janela do meu quarto.
É quase como se soubesse que aqui dorme uma dona de casa frustrada que precisa de um pouco de emoção.
Que patético.
Quando finalmente estou prestes a fechar as cortinas, Tiger desvia o olhar do céu até minha janela, onde estou. Quase dou um passo para trás de forma automática, mas continuo firme.
Eu deveria desviar o olhar e fechar a cortina rapidamente, fingindo que não vi nada. Porém seria ridículo agora que ele me viu, então ao invés de me afastar, sustento o olhar.
Um dos cantos da boca dele se ergue quase imperceptivelmente, só o suficiente para que eu saiba que ele levou isso como um desafio. Tiger descruza os braços e usa uma das mãos para agarrar os fios ruivos da menina. E como se estivesse em uma produção pornô, começa a guiar a cabeça mais rápido, o olhar no meu.
Apesar de ter metros nos separando, consigo perceber os músculos dos braços e abdome se contraindo, o olhar cerrado e a malícia que transborda.
Fecho as cortinas tranquilamente, fingindo que esse tipo de coisa não me afeta. Mas afeta. E muito.
Estou a meses sem transar e ver esse menino fazendo isso — me provocando deliberadamente — não está fazendo bem para mim.
Volto para a cama e me jogo nela. Não estou mais interessada no Kindle. Olho para o teto. Para a janela. Para a porta do quarto.
Praguejo baixinho e deixo a mão correr pelo meu corpo, para os seios e barriga, até chegar na barra da camisola.
É um absurdo que a aventura sexual do filho do meu vizinho seja a coisa mais sexy e estimulante que vejo em semanas. E é um absurdo que eu use isso para esquentar meu corpo, mas é exatamente isso que eu faço.
Fecho os olhos e vejo-o na espreguiçadeira, os músculos contraídos, os olhos maliciosos e a boca no mais sútil dos sorrisos.
Separo as pernas e uso os dedos onde mais quero, onde já começo a ficar excitada.
Lembro dele fazendo flexão, o sol iluminando os músculos e deixando a pele iluminada. Movo os dedos no clitóris e arqueio o corpo na cama.
Invoco a imagem dele quando passa a mão no cabelo, quando faz abdominais ou quando apenas fica parado na pequena cerca que separa nossas casas, olhando para onde estou.
Quando estou molhada e excitada o suficiente, mergulho dois dedos dentro de mim e começo a movê-los na velocidade certa. Trago todas as essas imagens que guardei secretamente. Imagino outras coisas, coisas bem mais detalhadas e suja com ele.
É extremamente patético que apenas isso consiga me dar um orgasmo.
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O filho do vizinho - Conto erótico (amostra)
RomanceMarcella Smith é uma mulher de trinta anos que está vendo seu casamento ruir. O marido não lhe dá atenção e quase não fica em casa. A coisa mais interessante dos seus dias é assistir Tiger, o filho do vizinho, transar com mulheres aleatórias na área...