Capítulo 4 - Marcella

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Uma parte de mim talvez já soubesse que meu marido estava me traindo. Os sinais estavam todos lá.

Nunca parava em casa. Não me procurava para sexo. Passava horas fora. Não atendia o telefone perto de mim.

Mas é muito diferente quando você sabe que está sendo traída. É muito mais humilhante, revoltante e desesperador.

Faz dois dias desde que vi a marca de batom — aquele maldito batom rosa. Até agora não fiz nada a respeito. Não dei indícios de saber da traição e o evito sempre que está em casa. Ou seja, quase nunca.

A verdade é que não sei o que fazer.

Pedir o divórcio provavelmente é a opção mais inteligente. Não há nada que me impeça de fazer isso. A casa em que moramos é minha, os dois carros na garagem são meus. Ele também trabalha para mim, mas posso despedi-lo.

Não há nada que me impeça. Exceto o medo.

Sei muito bem que não preciso de homem nenhum para viver, mas a perspectiva de estar solteira depois de anos não é tão agradável. Ter que voltar a encontros aleatórios e toda aquela parte chata de conhecer pessoas novas é insuportável.

Será que vale a pena ser corna só para continuar tendo alguém do lado?

Não, não vale.

Mas sempre que penso em falar com ele, colocá-lo contra a parede, me sinto estranha e despreparada. A verdade é que estou me sentindo muito frágil emocionalmente e talvez não seja o melhor momento para um divórcio. Ou talvez eu só precise espairecer a mente, viajar e tomar coragem para pedir a porra do divórcio.

Preciso fazer alguma coisa. Acho que vou começar fazendo um bolo de cenoura.

...

Só depois percebo que não tenho cenoura em casa, então vou até o mercado mais próximo para comprar as malditas cenouras, e aproveito para pegar alguns chocolates também. Acho que mereço me sentir como uma adolescente rechaçada por uma noite.

Agradeço a mulher do caixa e pego as sacolas, ignorando um senhor que não disfarça que está secando meu decote. Uma coisa que talvez as pessoas não saibam: ter seios grandes não é tão legal quanto parece. O decote sempre fica muito evidente, mesmo quando não deveria. E sem contar que às vezes me sinto extremamente sexualizada. É desconfortável e incômodo.

Vai entender porque as pessoas acham peitos tão interessantes.

Já no estacionamento escuro e pouco iluminado, deixo as sacolas no banco de trás do carro e quando faço menção de abrir a porta do motorista, sinto tocarem meu ombro. Com cuidado e hesitação, viro para o homem alto que sorri para mim.

— Pois não? — pergunto receosa. Não gosto de julgar ninguém pela aparência, mas esse é um bairro nobre e o homem que me encara usa roupas levemente rasgadas e sujas. Muito suspeito

— Ah, eu só queria perguntar se você pode me dizer as horas.

— Nove e meia. — digo depois de olhar o relógio no pulso.

Ele assente e ao invés de ir embora, continua sorrindo.

— Bem tarde, não é? E perigoso também. — quando percebe que não vou falar nada em resposta, o sorriso murcha. — Talvez queira companhia até sua casa.

Ergo uma sobrancelha em questionamento. Em qual mundo esse homem acha que vou me sentir segura com um desconhecido me levando para casa?

— Não, não quero. Obrigada.

Eu esperava que ele entendesse a dispensa, mas ao invés de ir embora, o homem inclina a cabeça para o lado.

— Não pude deixar de notar que você é uma mulher linda.

O filho do vizinho - Conto erótico (amostra)Onde histórias criam vida. Descubra agora