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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌ꗃ 𝐓𝐄𝐌𝐏𝐄𝐒𝐓𝐀𝐃𝐄

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𝐂𝐀𝐏𝐈𝐓𝐔𝐋𝐎 𝐔𝐌ꗃ 𝐓𝐄𝐌𝐏𝐄𝐒𝐓𝐀𝐃𝐄

𝐇𝐀𝐑𝐕𝐄𝐘 𝐄𝐑𝐀 𝐔𝐌 garoto diferente. Digo, ele sentia que era mas não significava que gostava de ser tratado como tal.

Desde pequeno, o moreno já demonstrava sinais que indicavam que não era como os outros meninos da sua idade, felizmente nunca foi algo físico ou grave, sempre foi mais pela personalidade e seus traços excêntricos que o definiam. Era um doce rapaz, porém visto como “estranho” por outros.

Na medida em que o garoto se desenvolvia e o corpo crescia, a mente do menino parecia continuar a mesma, o nível de ingenuidade e infantilidade diminuía lentamente, talvez até demais, o que claro, preocupou sua mãe que temia que alguém fizesse mal a Harvey ou se aproveitasse do seu jeito bobo, genuíno e crédulo.

Por isso, aos doze anos, Harvey ainda tinha uma babá, seu nome era Nara Johns, Nana, para os mais próximos. A garota tinha na época 17 anos, era amável, paciente, inteligente... Fora alguém importantíssimo para a vida de Harvey, pois na época da sua pré-adolescência até a recorrente adolescência, o que mais sofreu foi bullying na escola, apenas por não ser igual ou semelhante aos outros garotos.  Nessa época difícil, tudo o que o confortava era voltar para casa e encontrar Nana, pois naquela época sua mãe trabalhava e estudava demais.

A garota o ensinou várias vezes que estava tudo bem ser o que era e como era, que as pessoas eram hipócritas e agradar todos era impossível, e que mesmo que tentemos seguir os padrões estabelecidos, algo sempre estaria faltando ou não seria bom o suficiente, que a vida e corpo eram unicamente dele, e era ele que tinha o compromisso de escolher o que o faria bem e feliz, e bom... Se pintar o cabelo o faria se sentir bonito e feliz consigo mesmo, por que não? Se pintar as unhas nas tardes de domingo junto com ela era agradável e divertido pra si, quem tinha a ver com isso? Se ele tinha um comportamento “infantil” demais, quem tinha o direito de lhe apontar o dedo? Se ele adorava vestir saias e vestidos, apenas para se sentir belo, por que isso seria errado se o fazia contente?

Eram tantas questões que a garota lhe fez...

Como já mencionado anteriormente, ele era diferente mas não gostava de ser tratado como tal — pelo menos não de maneira maldosa —, apesar de tudo, Harvey se considerava 100% um garoto, estava de bem com sua sexualidade — que já chegou a questionar no passado por causa dos comentários inconvenientes — seu gênero, sua identidade. Diferente do que as pessoas pensavam por ter suas mentes engolidas pelos estereótipos e julgamentos estúpidos.

Era como era e estava tudo bem. Para si, isso não definia quem ele era, sua masculinidade e seus gostos... E bom, ele gostava de mulheres. Muito, principalmente uma bem específica.

Até os 14 anos, Nana cuidava de si fazendo companhia. Mas depois essa realidade mudou quando a garota quis ingressar na faculdade, aí as coisas mudaram, ela se demitiu e pra não perder o contato ele teve que passar a fazer visitas na casa da garota para vê-la. Muitas vezes ficava ocupada fazendo o garoto ficar frustrado.

Quando tinha 16 anos, Nana usufruía dos 21, a moça morava com uma colega de faculdade e de vez enquando tinha paciência de deixar o garoto dormir lá, sempre ouvindo os resmungos e reclamações de Harvey sobre a escola e sendo vítima dos abraços apertados e sem motivos do moreno, que só faltava grudar nela como um bicho preguiça num ramo de eucalipto.

Numa noite dessas, na qual a luz havia sido cortada no bairro todo devido a uma tempestade, Harvey estava morrendo de medo todo coberto em um edredom, vendo a garota xingar baixinho por não ter velas em casa e a bateria do celular era pouca e precisava poupar.

Guiou o rapaz trémulo para o quarto com a luz da tela do celular, e se deitou no breu com ele, que quase pulava quando um trovão escoava. Para o acalmar como quando era mais pequeno Nana o abraçou de forma protetora fazendo carinho na nuca de Harvey, estavam bastante colados, a garota tendo uma das pernas entre as coxas torneadas do garoto, que tinha a respiração rápida batendo na dela, quase sem espaço entre os corpos, no completo escuro, com raios iluminando os rostos em intervalos de tempo; foi quando um trovão abrasador escoou e Harvey tremeu inteiro, buscando alento nos braços de Nana... No cheiro dela, no calor da pele...

Nos lábios macios...

Nos lábios macios

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