Eu estava verificando meu quarto pela última vez antes de ouvir minha mãe me chamando para descer. O espaço, que antes era meu refúgio, agora parecia vazio e estranho. As paredes, que um dia foram cobertas de pôsteres e lembranças, estavam nuas e frias. Fechei os olhos com força para segurar as lágrimas e, respirando fundo, fechei a porta com uma sensação de despedida.
Desci as escadas, carregando o peso da mudança nos ombros. Ao sair de casa, senti a brisa fria da manhã e o cheiro de terra molhada. Jisung já estava no carro, com aquele olhar provocador de sempre.
— Pensei que tivesse morrido lá dentro — debochou ele, com um sorriso malicioso.
Revirei os olhos e respirei fundo, tentando controlar a irritação. Han Jisung, meu meio-irmão, o tímido que não tem amigos e sofre de ansiedade, mas que parece se esforçar ao máximo para me irritar. Para o mundo, ele é sociável e adorável, mas quando está longe dos olhos dos outros, age como uma criança mimada.
— Dá pra ficar quieto, tentação? — me enfiei ao seu lado no banco de trás, tentando ignorá-lo.
— Minho, parece que vai chorar — ele me encarava com um sorriso provocador. — Que cara de morto é essa?
— Morto você vai estar se não calar essa boca! — ameacei, erguendo a mão cerrada.
— CRIANÇAS, POR FAVOR! — minha mãe gritou, virando-se para nós com uma expressão cansada. — Vocês podem parar de brigar? Vamos ficar neste carro por seis horas, não me façam querer pular na rodovia.
— Não seria uma má ideia — murmurei para mim mesmo.
— O que disse, Lee Minho? — vi minha mãe me olhando pelo retrovisor, claramente irritada.
Eu apenas ignorei, coloquei meus fones de ouvido e encostei minha cabeça na janela, observando a chuva que caía lá fora. As gotas de água deslizavam pelo vidro, criando padrões hipnotizantes. O som da água batendo contra o carro era quase calmante, e acabei adormecendo.
Acordei com Jisung me cutucando freneticamente, anunciando que havíamos chegado. Coloquei meu moletom e saí do carro, notando que o céu agora estava limpo, com um arco-íris começando a se formar no horizonte. A luz do sol refletia nas poças d'água, criando brilhos que pareciam dançar no chão.
Antes de ajudar com as malas, observei melhor minha nova casa. Era uma residência modesta, mas encantadora, com um jardim bem cuidado na frente. A fachada tinha um tom acolhedor, perfeita para quatro pessoas. Se não fossem o crianção do Jisung e seu pai estranho, poderia ser um lugar acolhedor.
Inclinei minha cabeça para o céu, estiquei minhas costas doloridas da viagem, peguei minhas coisas e entrei na casa. O interior era simples, mas bem arrumado, com móveis que exalavam conforto. Subi direto para os quartos e escolhi o do final do corredor, que era mais espaçoso. Jisung, claro, veio atrás para discutir, insistindo que, por ser mais velho, deveria ficar com o quarto maior. Mas, considerando que temos a mesma idade, sua lógica não fazia sentido. Fingi não escutar e bati a porta na cara dele.
O quarto era simples, exceto por uma mini varanda que dava um toque especial. O sol da tarde iluminava o espaço, fazendo-o parecer mais acolhedor. Como o clima estava mais quente, tirei da mochila uma calça de moletom fina e uma regata branca, indo para o banheiro. O banheiro era pequeno, mas limpo, com azulejos brancos e um chuveiro que parecia funcionar bem. Tirei minhas roupas pesadas de frio e tomei um banho morno, sentindo minha temperatura corporal esfriar. Depois de lavar o cabelo, vesti a roupa separada e um par de meias coloridas. Já era quase noite, então desci para preparar um macarrão instantâneo, a única coisa disponível nos armários vazios.
— MANINHO! Por que não avisou que tinha comida? — Jisung apareceu de repente, vestindo um pijama de bichinhos e com os cabelos molhados. Apesar do tamanho, parecia uma criança.
— Porque não era pra você saber — respondi, girando o garfo no macarrão.
— Qual é, Lino, não seja rabugento — ele fez uma careta e se sentou ao meu lado. — Está ansioso para a nova escola?
— Não sei — dei de ombros, comendo mais macarrão. — Mas pra você vai ser fácil, vai fazer vários amigos e tirar notas altas como sempre.
— Não se esqueça do queridinho dos professores — ele exibiu um sorriso presunçoso.
— Cala a boca, Jisung! — exclamei, irritado.
— Relaxa aí, Minho. Se continuar assim, nunca vai fazer amigos — ele fez biquinho.
— Não preciso de amigos, sou um lobo solitário — saí da cozinha, deixando-o lá.
Voltei para o quarto e fui até a varanda. A noite estava clara e as estrelas brilhavam no céu, criando um espetáculo silencioso. O ar fresco da noite era reconfortante. Coloquei um edredom no chão e deitei sobre ele, encarando o teto por um tempo. Eu não tinha nada além de uma bolsa cheia de roupas, nem sequer uma cama. O resto das minhas coisas ainda estavam no caminhão, que provavelmente chegaria amanhã. Só espero que o sol não nasça tão forte.
Pensando no dia seguinte, adormeci.
VOCÊ ESTÁ LENDO
𝐎 𝐈𝐃𝐈𝐎𝐓𝐀 𝐃𝐄 𝐂𝐀𝐁𝐄𝐋𝐎 𝐕𝐄𝐑𝐌𝐄𝐋𝐇𝐎 - hyunho.
Romance࿔ ﹟◞hyunho 𓏲 Sendo um completo desastre em toda a sua vida, a mãe de Minho decide se mudar para uma cidade nova, com seu novo marido e seu filho irritante. E acaba conhecendo um idiota de cabelos vermelhos que pretende odiar com todas as forças...