2° Frame | Chamada

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Bernardo Cruz tinha passado um fim de semana terrível.

Ricardo, o artista plástico que ele tinha contratado para tratar dos adereços do cenário e das marionetas que dão vida às suas personagens, adoeceu. Na verdade, dizer que Ricardo adoeceu era incorreto, já que a sua depressão já lhe tinha sido diagnosticada há muito tempo. O mais correto seria dizer que Ricardo chegou ao ponto em que se viu obrigado a priorizar a sua saúde, acima até do seu emprego. Por isso, por muito que lhe custasse perder um membro tão competente da sua equipa técnica ao fim de quase dois anos, Bernardo teve de o deixar ir.

Assim, o dilema da vaga por preencher atormentou-o por 48 horas.

Ricardo tinha sido escolhido de propósito como artista plástico daquele filme. Poucos eram os contactos da lista de Bernardo que, à semelhança de Ricardo, possuíam a técnica para fazer das marionetas aquilo que ele queria que elas fossem. Menos ainda eram os nomes em que ele poderia confiar com aquele projeto de estreia, que tanto pesava na sua carreira. Isto para não falar da disponibilidade de agendas e do valor do salário impossível de ajustar.

Remoendo a sua frustração e os seus demónios, Bernardo fixou o seu telemóvel. Matilde passou pela sua secretária e deixou uma caneca de café sem voltar a tocar no assunto da montagem que a Andreia tinha pronta para aprovação. Via-se que o produtor ainda se debatia sobre o técnico em falta.

Bernardo fez scroll no ecrã do telemóvel, parando na secção dos "Cs". Não estava muito feliz com a decisão que tomara, mas ele era a sua melhor hipótese.

O seu dedo carregou no botão da chamada e ele levou o telemóvel ao ouvido antes que tivesse tempo de se arrepender. Atenderam ao terceiro toque.

Sim? — grunhiram do outro lado.

— A Nana disse-me que voltaste — respondeu em jeito de cumprimento, mencionando a irmã mais nova.

Hm.

Bernardo suspirou. Curto e seco, como sempre.

— Preciso da tua ajuda, Cae — admitiu. — Não te pedia se não fosse importante.

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