Capítulo 14

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— Eu não consigo ser quem tu queres que eu seja. Este sou eu.

-Mas porquê que fazes isso? Explica-me o porquê, por favor. — Harry respirou fundo. Ele tinha um forte odor a álcool. Estava bêbado.

-Eu vou contar-te uma coisa que não pode sair daqui.

- Está bem, eu prometo que não conto nada a ninguém.

-Linda menina! — Parou um pouco como se estivesse a ganhar coragem para falar. — A minha mãe antes de se casar e ter uma vida de sonho, tinha uma vida repugnante. Tinha umas amigas estranhas, no mau sentido. — Continuei calada sem o interromper uma única vez que fosse. - As amigas dela eram todas prostitutas que só queriam dinheiro para droga, droga da pesada. Obrigavam-na a prostituir-se e a dar-lhes todo o dinheiro que ganhava, caso contrário batiam-lhe ou faziam alguma coisa aos meus avós. Foi a partir daí que ganhei um grande nojo a essas mulheres da rua. Não à minha mãe, claro. Mas, a essas que querem o dinheiro para drogar-se. Então, eu adquiri como hobbie matar todas elas. — Muita coisa explicava os traumas dele.

-E o teu pai entra onde a meio de tudo isto?

-O meu pai a meio de tudo isto foi um herói. Salvou-a quando a conheceu num café onde trabalhava. — Um sorriso apareceu nos meus lábios. — Eles foram muito felizes juntos — A sua voz mudou de tom, ficando com raiva. — Até aqueles... - Respirou fundo para não se enervar. — Eles vão pagar por tudo.

-Eu lamento por tudo Harry. Mas, tens que ultrapassar. Nao podes tirar a vida de alguem quando te apetece.

- Não há salvação para mim.

-Claro que há! — Acho que era o momento ideal para fazer-lhe a pergunta que já queria fazer há muito tempo.

-Quando é que achas que posso voltar a ver os meus pais?

-Nunca mais! — Virou-se para o outro lado da cama com brutidão.

-Eu juro que não conto nada a ninguém. Juro com o coração.

-Não está isso em questão.

- Então, está em questão o quê? — Perguntei curiosa, eu tinha que saber o que se passava. Eu sentia muito a falta dos meus pais, e eles também deveriam ter saudades minhas.

-O que está em causa é que tu agora és minha.

-Eu sei, mas, os meus pais devem estar muito tristes com a minha partida e eu também já sinto muitas saudades deles.

- Não te preocupes que eles agora estão bem na vida. — Não estou mesmo a compreender a onde é que ele quer chegar.

-Estão bem da vida como assim? — Perguntei confusa. Colocando o meu cotovelo inclinado no colchão, de forma a apoiar a minha cabeça na mão.

-Eles estão muito bem. Eles venderam-te a mim. A tua mãe já nem trabalha. — O meu mundo tinha acabado de desmoronar-se. Sentia-me afogada com uma enorme vontade de chorar. Eles não poderiam ter-me feito tal coisa.

- Tu estás a mentir! — Falei um pouco mais alto até começar a chorar.

- Não, não estou. — Eu sabia quando ele não estava a mentir.

- Mentiroso! — Chorei e gritei.

- Cala-te! . — O meu choro estava cada vez intensivo e ele nem era capaz de dizer algo para me acalmar. Claro, ele não ia dizer nada, foi ele quem fez a proposta obviamente.

-E tu? Será que não tens nem um pouco de sangue quente a correr nessas veias? O teu coração é assim tão congelado para me fazeres uma coisa destas? Eu sou um humano! Não sou nenhum objeto. — Este apenas permaneceu arregalado e calado a olhar para mim.

- Para a semana quero ir ver os meus pais e pedir-lhes explicações.

- Esquece!

-Eu tenho esse direito! — Encarei os seus olhos.

-Tu aqui não tens direitos nenhuns! — A sua voz rouca e autoritária soou a meio de toda a sua loucura.

Fui para a sala ver um pouco de televisão tinha perdido completamente o sono e a minha sanidade mental ao mesmo tempo. Como é que eles tiveram coragem de vender a própria filha? É verdade que nós tínhamos dificuldades, mas nada se justificava isto. E  logo o meu pai que é policia? Que odeia o Harry de todo, alinha nisto?

Pérola Negra - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora