Capítulo 26

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Continuei a dar chapadas na sua face, mas não resultou. Ele só pode ter apanhado o maior desgosto da sua vida.

Ter uma criança não é assim uma coisa tão má. Segundo a minha avó, é um presente de Deus.
Quer dizer, pensado melhor, talvez não com a minha idade.

O Harry tinha desmaiado mesmo. Bem, não acorda a bem, vai acordar a mal!
Fui até à cozinha onde estava uma empregada e uma cozinheira a fazer o jantar.

-Alô! - cumprimentei enquanto enchia um copo de água.

Voltei para o quarto à velocidade da luz. Até mesmo desmaiado é lindo demais!

3,2,1 contei para mim mesma e  despejei toda a água que estava dentro do copo na sua cara.

Remédio Santo, acordou!!

-Mas tu estás louca?! - Levantou-se desnorteado e sentouse na beira da cama.

-Desculpa, mas teve que ser assim. Não acordavas nem com chapadas.

-Aposto que te vingaste de mim. Tenho a cara doer. - Passou a mão pelo rosto.

-Digamos que sim, e que merecestes também. - Pisquei-lhe o olho.

-Tive um sonho terrível. - Coçou a nuca da cabeça e eu engoli a seco o que ele acabara de dizer. permaneci muito calada e senteime ao seu lado.

- Parecia tudo tão real... - Continuou.

-Harry o teu sonho foi real! - Olhou-me com uns olhos raivosos e aquilo fez o meu corpo estremecer. Voltou a ficar pálido novamente.

-Tem calma. Não é nada demais, é apenas uma criança. Um mini-Harry, talvez...

- Tu tens a certeza do que estás a dizer?

- Sim, tenho. Já fiz o teste. - olhei nos seus olhos profundamente. Gostava tanto que ele aceitasse isto. Já passamos por tanto...

Não pode ser tão mau ter uma criança e além do mais o Harry tem possibilidades para educar esta criança. Nada iria faltar-lhe.

-Como é que isso aconteceu? - Eu nem acredito... Quem anda à chuva molhasse! Tão simples quanto isso.

-Porque talvez sou a tua refém, eu era virgem, não tomava nenhum tipo de contraceptivo, tivemos relações sexuais e aconteceu. Nunca ouviste que quem anda à chuva molha-se?

-Como é que eu pude ser tão irresponsável e descuidado? Eu sempre fui muito cuidadoso! - Eu via a raiva a transbordar pelos os seus olhos. Ele estava possuído novamente.

Não sei se isto é razão para ter medo dele.

-Temos que desfazermos dessa criança o mais rápido possível! - Aquilo atingiu-me como um balde de água gelada.

Merda, isto é o próprio filho dele. Como é que ele pode ser assim tão frio?! Eu deveria mas era ter o deixado na prisão.

- Não suporto ouvir crianças a gritar o dia todo. E além disso, não tenho perfil para ser pai! Vamos agora à clínica! - Levantou-se da cama.

-Eu não vou a lado nenhum! -Desta vez vou manter-me firme, ele não me pode obrigar a tirar esta criança.
-Acho que ouvi mal!

-Não, Harry! Ouviste muito bem! Eu não vou tirar criança nenhuma. Este bebé é meu! Eu tiro se eu quiser.

-Não comeces a ser irritante! Ainda não percebestes que não estás em posição de decidir nada? - Aproximou-se de mim. Aguenta Lola, não dês o braço a torcer.

-Desta vez posso decidir sim! Se este bebé morrer eu também morro! E se tu próprio não me matares, eu mato-me! Simples. - olhou para mim surpreendido.

- Mas tu estás louca?! Isto é uma loucura!

- Não é loucura nenhuma! É o meu filho que está aqui. - passei a minha mão na barriga e levantei-me. - O que está aqui dentro é nosso. É algo que será sempre nosso e que nunca ninguém o poderá tirar, Harry. Eu não posso deixar-te simplesmente matares o nosso filho. Já sente, é um inocente. Não fez nada de mal, o seu coração já bate. E lamento, mas eu sou a mãe e não vou deixar que me tires a única coisa que tenho. Já me tiraste tudo, não me tires mais isto. - pedi.

O que é óbvio comecei a chorar. Ando com as emoções muito sensíveis.
O Harry permaneceu calado e andar de um lado para o outro no quarto feito um louco. Não me dizia nada, apenas andava.
Fui até ele, e tentei pará-lo. Coloquei-me à sua frente e peguei na sua gigante mão e coloquei-a na minha barriga

-Sente. Isto é nosso e de mais ninguém.

De repente os seus olhos ficaram muito escuros e senti que ele estava a perder controlo.

-NÃO QUERO!!! - Saqueou a minha barriga com toda a sua força.

Uma dor enorme atingiu-me. Não tinha tempo para respirar com a intensidade da minha dor, muito menos para dizer "Deus ajudai-me". Tudo começou a ficar muito escuro, a minha cabeça a andar à roda. As últimas palavras que ouvi saiam de uma voz rouca. "Perdoa-me pequena Lorraine".

Tudo ficou escuro, caí redonda no chão e não me lembro de mais nada.



Pérola Negra - H.SOnde histórias criam vida. Descubra agora