P R Ó L O G O

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Corro pela floresta me sentindo extremamente cansada, olho para trás ainda sentindo a presença deles por perto e sinto as lágrimas escorrendo por meu rosto, soluço implorando para que eles desapareçam.

Por favor.

Por favor eu só quero que eles sumam.

Passei tanto tempo presa que nem sei em que época estamos, eles me torturaram e abusaram tanto que eu nem sei mais se posso viver em paz pois é só fechar os olhos para eles aparecerem.

Meus fantasmas pessoais.

Meus pesadelos.

Mas eu só quero ser livre, esperei tanto por uma oportunidade para fugir e quando encontrei agarrei com todas as minhas forças, e é por isso que eu corro  e mesmo quando sinto minhas pernas fracas e que estou prestes a ceder ao cansaço eu continuo correndo porque eu preciso disso.

Eu só preciso despistar meus monstros.

Acabo tropeçando em uma pedra e caio no chão, meu corpo rola no chão e sinto que estou descendo sem parar me fazendo colocar meus braços em volta de meu rosto pra protegê-lo e quando finalmente meu corpo para eu me sinto tonta e fraca.

Tento me levantar mas não consigo então só fico deitada no chão perdida entre as árvores com meu corpo inteiro doendo e completamente sem forças, não consigo nem gritar por ajuda e acho que não adiantaria muita coisa e que seria uma ideia estúpida, olho para o céu sentindo lágrimas enchendo meus olhos para logo escorrer por meu rosto, eu imploro para ninguém em particular para que eles não me encontrem enquanto sinto meus olhos pesarem e pontinhos escuros começarem a aparecer então a escuridão me toma.

...

Tento abrir meus olhos mas não consigo pois eles estão muito pesados, sinto todo o meu corpo doer e então tudo apaga outra vez.

...

Sinto cheiros gostosos a minha volta, eles me acalmam e a presença de alguém perto de mim faz meu coração disparar, continuo sem conseguir abrir meus olhos e meu corpo ainda dói mas a pessoa que segura minha mão me passa uma segurança que eu só lembro de ter sentindo quando ainda era filhote e estava sob o conforto das asas de meus pais.

- Quando você vai acordar? - escuto alguém falar e a voz rouca me faz sentir coisas estranhas.

Não sei onde estou mas eu sei que passam dias comigo dormindo e acordando sem forças para abrir meus olhos, ainda me sinto muito cansada e meu corpo inteiro dói, eu sinto a presença de algumas pessoas entrando e saindo da onde estou os cheiros e as vozes me fazem sentir calma e me ajudam a relaxar.

Eu gosto da presença deles mesmo sem saber quem são.

- Oque será que aconteceu com ela?

- Não sei, mas com certeza foram coisas terríveis.

- As cicatrizes são horríveis.

- Quem quer que tenha feito isso vai pagar.

Meu coração acelera com as quatro vozes diferentes e os cheiros fazem coisas estranhas em meu corpo, eu quero acordar e descobrir quem são pois eu sinto eles cuidando de mim, sinto cuidarem de meus machucados e sinto panos molhados passando por meu corpo por cima das várias cicatrizes em meu corpo e eu quero saber quem são eles.

...

Sinto meu corpo ser colocado em um lugar cheio de água quente e suspiro me encostando no corpo atrás de mim então a pessoa lava meu corpo.

Eu gosto disso.

- Você vai ficar bem - sussurra em meu ouvido me fazendo suspirar - Ninguém vai te machucar novamente - essa pessoa cheira a chuva e camomila e me faz sentir mais calma.

...

- Quando você vai acordar? - outra voz sussurra e sinto que estou deitada em uma coisa bastante macia - Quero tanto ver os seus olhos.

Sinto um carinho em meu rosto e suspiro ainda sem forças para abrir os olhos, meu corpo já não está tão pesado e eu já me sinto um pouco menos fraca já que eles sempre colocam líquidos em minha boca e acho que além de água são sopas.

- Eu juro que vou caçar quem fez isso com você e vou destruí-los - o cheiro de pimenta e maçãs é tão gostoso.

...

Sinto dedos passando por meus cabelos e inclino minha cabeça naquela direção lutando para abrir meus olhos, escuto um riso que faz meu coração disparar.

- Você é tão linda - o sussurrar faz meu corpo arrepiar - Eu gosto de como você me faz sentir  - ele tem cheiro de menta e cacau e eu gosto muito.

...

Sinto alguém deitado do meu lado e forço meus olhos abrirem ficando completamente surpresa quando finalmente consigo e pisco várias vezes para me acostumar com a luz que faz meus olhos doer.

Sinto cheiro de uvas e limão e olho em volta percebendo que esse tempo todo estive em um quarto, olho para a mão em cima da minha barriga e desvio para o homem ao meu lado que dorme tranquilamente, ele tem olhos puxados e me puxa para mais perto me fazendo arregalar meus olhos.

Achei que nunca conseguiria ficar tão perto de um homem mas ele não me trás nenhum sentimento ruim e nem me faz querer correr.

Eu gosto.

Levanto minha mão para tocar em seu rosto e quando minha mão está bem perto de sua bochecha ele abre os olhos e trovo sentindo meus olhos arregalarem enquanto ele olha para mim completamente sério.

Abaixo minha mão e pulo para longe dele que me olha surpreso, pisco trazendo minhas pernas para perto de meu peito e abraçando elas enquanto ele se senta na cama e tenta se aproximar mas me afasto enquanto um resmungo sai da minha boca.

- Calma - ele levanta as mãos e minha respiração se acelera - Não precisa ter medo de mim.

Franzo a testa sentindo meu corpo esquentar mas ignoro isso quando ele tenta se aproximar novamente e balanço minha cabeça que não o que o faz parar.

- Ok, tudo bem - ele levanta as mãos e dá um passo para trás - Eu sou Kalil - ele coloca a mão no peito e o olho em silêncio - Eu e meus amigos encontramos você desmaiada na floresta mas não podíamos te levar ao hospital por causa de uma tempestade e então nós cuidamos de você.

Hospital?

- Não vou te machucar - ele fala devagar como se estivesse falando com um filhote e arqueio minhas sobrancelhas - Nenhum de nós vai.

Olho para a janela vendo a chuva fraca que cai lá fora e sinto um calafrio passar por meu corpo com a ideia de que eles estão me seguindo, me caçando na floresta e sei que não vão sossegar até me encontrarem.

- Qual é o seu nome? - ele pergunta e volto a olhar em seus olhos, a presença dele me faz sentir ansiosa e meu corpo parece esquentar a cada momento que se passa.

- Eu sou Fênix - respondo baixinho sentindo minha garganta arranhar e ele sorri.

Ele é bonito.

Fênix/Sem Revisão Onde histórias criam vida. Descubra agora