Capítulo 3

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Zequinha respirou fundo antes de falar.

"Eu sei sobre a caçada dos bruxos."

Os três enrijeceram. Antes que Zequinha piscasse, a lança de Zuiu estava em sua mão.

"Escolha suas próximas palavras com muito cuidado", disse o curupira.

"Eu falei que não devíamos deixar ele se aproximar", rosnou Dairane com uma flecha apontada para o garoto, a corda do arco esticada ao máximo. "Ele é enviado dos bruxos. Quer nos matar."

A única que não reagiu foi Filoysinha. Ela olhava para Zequinha com um misto de receio e curiosidade. Isso foi o que deu força para o menino continuar.

"Eu não vim aqui a mando de bruxos. Nem de magos ou feiticeiros. Eu vim buscar algo que só vocês podem me dar."

"E o que seria esse algo?", quis saber Fulozinha, assustando Zuiu e Dairene. Ela nunca interagia com Zequinha, sempre deixava os dois lidarem com qualquer humano. Mesmo que fosse um semideus.

"Um vínculo", ele disse, encarando os três. "Eu sei que vocês tem poder para mudar batalhas ao favor de seus favorecidos. Sei que um único fio de cabelo de um de vocês fornece um poder inimaginável. E sei que as pessoas os perseguem por causa disso."

Os olhos de Zuiu se transformaram em brasas.

"E no que você é diferente deles? Veio aqui durante todo esse tempo só para no final, descobrirmos que quer o mesmo que eles."

Surpreendendo a todos, Fulozinha começou a rir.

"Mais essa agora", resmungou Dairane. "Além do moleque se revelar um traidor, a Fulozinha tá pirando."

"Fulozinha, tá rindo do que?", quis saber Zuiu.

Demorou um pouco para ela parar de rir. Quando o fez, encarou Zequinha com novos olhos. Ele percebeu a mudança de imediato. Seu coração bateu com mais esperança.

Fulozinha se levantou e limpou as folhas da roupa.

"Você não quer nosso poder emprestado. Quer mais que isso, não é? Quer fazer um compromisso conosco de iguais."

Dairane franziu as sobrancelhas.

"O que você quer dizer, Fulozinha?, Como a companheira não respondeu, ela se virou para Zequinha. "E então, vai dizer ou vai ficar enrolando?"

O garoto buscou o apoio de Fulozinha, mas a garota só ergueu uma sobrancelha. Um olhar para Zuiu e ele viu que estava por conta própria. E já que tinha começado, agora não podia parar.

"Eu ouvi a história de uma warg que se vinculou a um cervotauro. E queria propor o mesmo para vocês. Assim compartilharíamos nossos poderes."

As brasas nos olhos de Zuiu se foram, substituídos por um olhar arregalado. Dairane está a com a boca aberta.

Wargs eram guerreiros que compartilhavam do poder e magia de animais, criaturas místicas e bestas. Eram guerreiros formidáveis. E a família de Zequinha era uma poderosa família warg desde a época em que vivia na África. Com quinze anos, era hora de se vincular. Era um legado que ele honraria. O poder da ancestralidade da nação africana, honrar os antepassados vivendo o presente.

A parte de se vincular aos folcloricos era algo que surgiu em sua mente, quando soube que magos e feiticeiros os procuravam para suas poções. Sabia que seria difícil convencê-los, mas ele tentaria.

"Você quer se vincular com a gente?", Dairane perguntou, com a mão tampando a boca.

"Eu sei que não sou grande coisa agora", Zequinha se apressou a dizer, entendendo o gesto como se a caipora estivesse segurando o riso. "Mas prometo treinar com afinco. Vou desenvolver meus poderes. Serei digno de ser seu companheiro e…"

Ele parou de falar quando Dairane se jogou em seus braços. A princípio ele achou que ela iria atacá-lo, mas se enganou. Se bem que o abraço que ela lhe deu expulsou todo ar de seus pulmões.

O garoto olhou para Zuiu, sem saber o que fazer. O curupira sorria. Lágrimas escorriam de seus olhos.

Mas foi Fulozinha quem mais surpreendeu o garoto.

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