1 - Nova Vida

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"Senhoras e senhores, próxima parada: Estação Ferroviária de Keum-Do. Esperamos que tenham aproveitado a viagem, revisem seus bens pessoais e..."

Riki se remexeu desconfortável na poltrona, acordando e piscando os olhos pequenos, vendo o céu azul brilhante através das janelas grandes e limpas. Apertou o peito, angustiado com aquela visão, respirou fundo, foi apenas um sonho.

Sentiu algo morno escorrer por suas bochechas, e coçou os olhos, tentando evitar que as lágrimas escorressem. Ele odiava chorar na frente de outras pessoas, sua passagem no trem não lhe garantia muita privacidade para tal ato.

Uma mulher mais velha sorriu tenra e estendeu um lencinho para o menino, que esfregava o rosto na manga de seu moletom, deixando-o mais vermelho do que já estava, ele o aceitou de bom grado, sorrindo pequeno pela atitude da mulher.

- Não chore - Sorriu levemente para o menino acanhado - Está doendo? Posso chamar a comissária.

- N-não, ahjumma - Se desesperou, quando percebeu que ela falava de seu braço machucado - Eu estou bem...

- Não parece muito - Ela arqueou a sobrancelha, analisando Riki - É igual meus netos, não falam nada, mas a vovó sempre sabe...

Riki suspirou, tantas coisas haviam acontecido em sua vida. Estava bem longe de sua antiga casa no Japão, dentro de um trem rumo à pequena cidade natal de sua mãe, por motivos que qualquer um consideraria deprimentes.

Se considerava um covarde por querer escapar até dos próprios pensamentos, mas a tala em seu braço era um lembrete de que, sim, ele tinha motivos para querer fugir dos problemas e de si mesmo.

- É complicado, ahjumma - Declarou simplório - Me sinto perdido...

Não sabia o deu em sua cabeça falar aquilo para uma desconhecida, porém tinha poucas opções, não tinha ninguém mais para conversar, nem durante a viagem e muito menos após ela.

- Venha aqui querido, me dê suas mãos - Pediu, ao passo que o garoto se encolheu - Confie em mim...

A contragosto, Riki foi até o assento da mulher, erguendo as mangas e vendo a moça abrir o velcro da tala, apenas deslizando os dedos enrugados pelas mãos grandes do jovem, enquanto ele permanecia reflexivo em seu assento, de maneira involuntária, lembrando de sua avó.

Riki já não acreditava em tudo aquilo, nas coisas místicas e ocultas que sua avó costumava lhe ensinar. Desde que ela partiu, sua vida ganhou um tom de cinza, a realidade caiu em seu colo como um saco de areia.

- Oh, isso é...Meu Deus... - A moça o tirou de seus devaneios, estava emocionada com algo.

- O que foi ahjumma? - Questionou preocupado.

- Sua linha da vida - Ela passou os dedos frios pelo sulco que Riki possuía ali, junto do polegar - É longa, você procura algo, mas...Não sei...É como se tivesse sido cortada, interrompida...Uma busca de muito tempo...

Ele sentiu um arrepio na espinha, mas todas as janelas estavam fechadas. O jovem se desequilibrou quando o trem solavancou, indicando que haviam chegado. Riki se afastou da mulher sem saber o que dizer, correndo para recolher sua bagagem no compartimento acima.

- Um destino bom te acompanha, querido - Ela murmurou antes do jovem se afastar, com o pulso doendo pela ausência do aparelho - Espero que encontre o que seu coração busca...E quem quer que o conquiste, nessa vida será muito amado, cuide bem desse amor querido...

Riki a observava em silêncio, apenas cedera a ela pela semelhança com sua obaasan, sorrindo pequeno, estava nostálgico e choroso com a visão do rostinho enrugado e adorável. Ela parecia concentrada, e o japonês não imaginava tudo de espantoso que a senhorinha via.

ENTRELAÇADOS: WonkiOnde histórias criam vida. Descubra agora