12 - A casa Nishimura

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Hiromi girou a chave na fechadura antiga, sentindo cada uma das travas se soltar, e os sons eram como balas em seu coração. Estar naquele lugar fez seus ossos gelarem, como se fantasmas estivessem deslizando neve para dentro de suas roupas, assim que ela estalou o solado de seu sapato na primeira tábua de madeira envernizada.

Distante do que costumaria fazer na casa da mãe, ela não tirou o calçado, pois o chão estava imundo, já que faziam semanas desde a última limpeza. O pó acinzentado estava acumulado por tempo suficiente para que suas botinhas de salto formassem pegadas ali. Ela empurrou o interruptor, vendo a luz vacilar, mas se acender com certo esforço.

Já faziam dois meses e meio desde que a dona do lugar partira, e ela mesma não teve coragem de entrar ali até aquele momento, pagava as contas para que o lugar não constasse como abandonado e fosse tomado pelo governo. Caminhou trôpega pelos corredores curtos da casa pequena. Mesmo com a poeira preenchendo todo o ambiente, ainda era possível sentir aquele cheiro habitual.

- Oh, tinha esquecido que era canela - Ela passou pelo pequeno altar feito para a mãe, cujo rosto já quase nem aparecia na foto antiga. No vaso onde os incensos descansavam, haviam apenas talinhos e uma pequena pilha de cinzas, porém ainda exalavam perfume pela casa inteira. - Eu sempre odiei esse cheiro.

Hiromi continuou caminhando pela casa da mãe, já desesperada para voltar para seu quarto de hotel e logo, para seu aconchegante apartamento na Coréia do Sul. Sua vida estava toda construída lá, mas o irmão precisava dela por perto, pelo menos uma vez a cada três meses, para que ela visse que Hiotaro estava melhorando. Segundo as notícias dadas por Hoyeon, Riki estava bem, mesmo que não esteja conversando muito com a mãe, ele também não mandava mais tantas mensagens para a tia.

Ela puxou a porta de bambu, dando passagem para o quarto da mãe, onde a cama ortopédica ainda estava do mesmo jeito que a deixaram. Onde lembrou de ver a mãe sorrir pela última vez, onde viu Riki soluçar, aconchegado no colo que o protegeu por toda a vida, e de onde saiu, jurando nunca mais voltar, pois mesmo que amasse o sobrinho, o pai dele era um repelente de humanos. Eles brigavam muito, desde crianças, ela lembrava de cada uma delas, desde as mais infantis, até a última, cinco ou seis anos atrás.

- Inconsequente - Hiotaro cuspiu as palavras, vendo a irmã ajeitando a mala.

- Eu tenho uma vida irmão, desculpe se isso te incomoda - Devolveu desgostosa, ajeitando os sapatos na mala pequena.

- Mamãe precisa da gente aqui, você sabe que ela está com a idade avançada, o coração dela...

- Está fraco e cansado - Interrompeu, levantando dos futons gastos e os enrolando, segurando uma bufada de raiva - Você sempre diz isso, e sei que está tentando me fazer sentir culpada, apenas para ficar aqui...

Amargura, era isso que definia a relação deles, por isso ela evitou viajar para o Japão. Desde pequena, Hiromi cresceu com mais responsabilidade do que deveria. Era a mais nova, e mulher, aquela que devia cuidar, zelar, segundo a mãe, que vivia com a mente em outra época e que sempre compactuava com o irmão, que era protetor ao extremo, tinham mais medo do mundo do que ela. A jovem estaria ingressando em Direito na Coreia do Sul, indo contra todas as expectativas ao morar em outro país, sacrificando o pouco dinheiro que conseguiu economizar, mas não seria impedida por nada e nem ninguém.

- Mas eu sinto muito, Hiotaro, não vou sacrificar minha juventude e carreira, enquanto você chora num bar por causa do seu emprego que não rende nada, o divórcio que você nunca superou e deixa seu filho pra mamãe criar - Ela solta, guardando no armário de cerejeira os futons e o edredon lilás de quando ela era criança, pegando a mala em seguida.

ENTRELAÇADOS: WonkiOnde histórias criam vida. Descubra agora