6 - Sentimento familiar

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Riki suspirou enquanto tentava regular sua respiração, vendo o prédio de sua escola crescer a medida que se aproximava dali, juntamente a Jay.

O pátio era amplo e inteiramente de pedra, com quatro pequenos morros de terra fértil cobertos de grama e flores, além de árvores magrelas e retorcidas que pareciam ser bem velhas, pois eram frondosas, e diversos estudantes se abrigavam na sombra, esperando pelo horário de entrada, jogando conversa fora.

Nishimura se sentiu incomodado com algo, mas não soube exatamente o que era. Com o coração pesado, de culpa por não ter se sentido a vontade num lugar tão bonito, ele respirou fundo e continuou seguindo o irmão, fingindo não notar os olhares sobre si.

Um som estridente e estalado soou por todo o pátio, e uma onda massiva de estidantes começou a se mexer de onde estavam.

- E é aqui, onde a gente se separa maninho - Jay falou quando estavam perto da entrada - Tenho aula de educação física agora, se tocar outro sinal e, eu não estiver lá, estou morto.

- Oh, tudo bem - O mais novo sorriu pequeno, mesmo que estivesse receoso de sair caminhando por aí - Eu me viro, deve ter alguém pra me orientar lá dentro.

- Hmm, sobre isso, tente procurar Kim Sunoo, ele é o presidente do Grêmio, deve estar na sala da diretora - Jay falou rápido para Riki, antes de olhar seu relógio de pulso e sair correndo, depois bagunçar seus cabelos compridos - Boa sorte! 

O japonês estava por conta própria agora, então se pôs a caminhar em passos leves, e extremamente devagar, quase como se, ao mexer os pés ali, a gravidade o empurrasse para baixo.

Havia um peso sobre seus ombros, uma coberta grossa de puro temor, que o fazia querer dar meia volta e ir para sua casa segura e confortável. A insegurança tomou conta de seus sentidos, ele queria correr.

E foi exatamente isso o que fez.

Simplesmente deu meia volta e saiu da multidão de uniformizados que o olhavam dos pés a cabeça, ele considerou que o estavam julgando pela reação inesperada. Sua respiração estava entrecortada, e mil coisas rondavam em sua mente.

- O que tem de errado comigo? - Falou para si, se jogando na calçada da escola, ofegante - Por que eu achei que estava pronto pra isso? 

Afirmou para si por muito tempo que conseguiria, pela mãe, que o voltara a acolher mesmo que ele tivesse preferido ficar com o pai, quando foi posto na justiça quem deveria ficar com o pequeno Riki de oito anos. 

Seu pai agora estava internado numa clínica de reabilitação, mas Hoyeon seguia ali, mesmo que o pequeno já fosse maior de idade, e ela pudesse rechaçá-lo para qualquer lugar. O japonês se odiava, por não saber como retribuir o esforço daquela mulher tão maravilhosa. 

Não havia um único pensamento coerente em sua cabeça, se culpava por tudo, se odiava por tudo, queria sumir.  Afundou os dedos em seu cabelo, buscando um pouco de conforto do crescente ataque de ansiedade que o assolava.

- Taejin eu já mandei me largar!

- Não até você me ouvir!

Eram duas vozes, mas apenas uma se fez ouvir em meio a nuvem obscura de sua mente. Era familiar, e fez todo o seu corpo relaxar como mágica. Ele já sentia seu coração desacelerar, e a névoa em que caíra se dissipando.

Ergueu os olhos, e viu que, a apenas alguns passos de distância, um garoto baixo de cabelos castanhos e aparência jovem, estava sendo agarrado pelo braço por um rapaz alto de olhos afiados, com uma feição nada confiável ou agradável. Não trajava uniforme. 

O menor parecia à beira do choro, mas o outro mantinha o aperto de ferro nele, que era a pessoa mais bonita que considerou já ter admirado em toda sua vida. Mas, por que aquela situação o deixou tão agoniado?

Ver o menininho indefeso, gritando para que o outro o libertasse, ligou um sinal de alerta em Riki. Aquilo tudo o deixava com um gosto ruim na boca, sabia muito bem como era se intimidado, foram longos anos de bullying na escolinha da Coreia. 

- Hyung, me solta, por favor...

O japonês não se controlou, sentindo o coração bater forte quando viu o menino de fios castanhos liberando pequeninhas e ralas lágrimas, tratando de livrar seu pulso do aperto grosseiro do mau encarado, apenas cerrou a mandíbula e avançou. 

Ele era tão...Familiar...

- Não escutou? - O japonês se aproximou bruscamente - Solte-o... 

Ambos olharam para Riki, com o maior engolindo seco pela altura monstruosa do rapaz, porém logo em seguida, desdenhando da fala do garoto desconhecido para si, continuava tentando levar o menino para longe dali, sem sucesso pois o mesmo resistia. 

- Não se meta, imbecil, isso é entre eu e meu namorado. - Retrucou o tom de exigência de Riki - Quem é você afinal? 

- Alguém que não gosta de falar duas vezes, babaca... - Rosnou, cerrando os punhos, finalmente intimidando o rapaz.

Jay treinava taekwondo, então o japonês sabia coisa ou outra sobre como atordoar ou afastar alguém incômodo, e assim o fez, segurando firme o pulso do mau encarado, torcendo-o até que soltasse o menor, de modo que ele perdesse o equilíbrio, quase caindo. 

Desnorteado, aquele garoto já estava explodindo de ódio, enquanto via Riki resguardar o baixinho atrás de si, segurando firme sua mãozinha gelada e trêmula. Sabia, sabia que prometera a Hoyeon e Jay que tudo daria certo naquele dia.

Também a sua avó que não se meteria em mais confusões como antes, e a si mesmo se manteria tranquilo e normal. Mas algo naquela situação, naquele garotinho assustado com lágrimas nos olhos, o alertou, o enfureceu. 

- Se quer continuar vivo - Riki ameaçou, tensionando a mandíbula e lançando um olhar sombrio - Acho bom não dar nenhum passo a frente... 

Precisava protegê-lo. 

O menor se agarrava a seu paletó como se a vida dependesse disso, e Riki não reclamou quando ele apertou sua mão forte demais. Não desejava nada além de mandar aquele valentão para longe o suficiente para acalmar o menino. 

- Não pense que acabou, Ovelhinha - Se referiu ao menor, num tom de ameaça - Você vai estar sozinho na próxima. 

Riki correu para dentro com o menino, parando apenas quando teve garantia de que não estava sendo seguido. Olhou para trás, e o mau encarado já não estava lá, apenas uma rua deserta, carros estacionados e o sol da manhã reluzente no céu. 

- Que medo - O maior declarou, finalmente analisando o rostinho inocente do outro - Você está bem? Aquele seu namorado é louco.

Sua aparência estava amarrotada, os lábios pequenos estavam vermelhos, pois ele os mordera, no esforço para fugir do outro rapaz, e Riki quase arquejou quando ele ergueu o olhar, revelando um par de olhos brilhantes e felinos. 

- É meu ex - Afirmou baixo, desviando os olhos para ambas mãos, separando-as de supetão, surpreendendo seu salvador - Obrigado pela ajuda, desculpa, mas eu tenho que ir! 

- E-espera! 

Mas ele já avançara pelos corredores desconhecidos para Riki, que apenas queria saber seu nome. 

◇◇◇

MUAHAHAHAHAHAHA E QUE OS JOGOS DO AMOR COMEEEEÇEM 

ENTRELAÇADOS: WonkiOnde histórias criam vida. Descubra agora