Capítulo 34: Culpa.

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Naquele corredor, Itachi sentia as horas passarem como dias. Uma angústia esmagava seu peito. Sentado naquele banco, o Uchiha já tinha perdido as contas de quantas vezes rezou por um milagre, por uma chance, por alguma notícia. Seus pais chegaram o mais rápido que conseguiram, haviam recebido a notícia por Izumi. A morena não saiu nenhum momento de seu lado, sempre o segurando em seus braços e sendo o abrigo que Itachi precisava naquele momento.
Mikoto estava desolada. Correu por todo o hospital em busca de notícias do filho, mas todos que sabiam do caso disseram o mesmo, que o rapaz estava em mesa de cirurgia. Fugaku andava de um lado para o outro, e perguntava inúmeras vezes como havia acontecido o acidente, se Itachi e Izumi tinham vistos os bandidos, para onde fugiram...

- Não vimos nada, pai. Eles estavam de capacete, e tudo foi muito rápido.- Itachi disse pela milésima vez.

- Naquela rua com certeza há câmeras, poderemos identificar quem fez isto e...

- Não é hora de procurar por isto, Fugaku!- Mikoto disse chorosa.- Precisamos de notícias de nosso filho, ele está lá dentro e sabe Kami o que está acontecendo!

O homem silenciou-se e sentou ao lado da esposa, que repousou a cabeça em seu ombro. Chorava baixo, as mãos trêmulas agarraram o braço do marido.

- Sabem há quanto tempo ele está em cirurgia?- O pai perguntou depois de um tempo.

- Já fazem no mínimo cinco horas.- Izumi respondeu.

E assim foram madrugada adentro. Sem conseguir pregar os olhos, sem notícias, se agarrando às esperanças que possuíam eles aguardavam alguém sair daquelas portas e dar-lhes uma notícia. Qualquer uma. Mesmo a pior delas.

Kakashi apareceu com quatro copos de café, e ofereceu para os presentes ali. Havia ficado fora para conseguir notícias com Shizune, que também estava pelo hospital.

- Obrigado, Kakashi.- Itachi agradeceu.

- Kakashi, tem notícias dele?- Mikoto perguntou ansiosa.

- Tudo o que sei é que está em cirurgia.- O grisalho sentou.- O tiro acertou uma área delicada, por isso a demora.

- Que tortura!- Mikoto choramingou.

- Vai dar tudo certo, senhora Uchiha.- Kakashi consolou.

Dez horas haviam se passado desde que chegaram ali. O dia já havia nascido e ninguém havia dormido, e como poderiam? Notícia alguma foi dada, não tinha noção do que acontecia lá dentro, se agarravam apenas por sua fé.
Shizune apareceu por lá e ficou um tempo, mas logo sumiu em busca de notícias. Era angustiante, torturante, desumano. Mikoto sentia que sua vida se esvaía a cada hora, a cada minuto que passava sem notícias de seu filho. A culpa, a dor, o desespero...a última vez que havia visto o filho as coisas não estavam boas, ouvira as mágoas que o rapaz possuía e só de relembrar seu coração doía. Como havia sido tão relapsa? Tão insensível? Como pôde afastar o filho daquele jeito? Pensar na possibilidade de perdê-lo fazia sua garganta formar um nó e o coração doer.

- Ele é tão novo...- Suspirou, já não havia mais lágrimas para derramar.- Tem tanto para viver ainda...

- Ele viverá, querida.- Fugaku a confortou.

A culpa corroía o coração do velho Uchiha. Sempre foi tão duro com o filho, sempre achou que Sasuke precisava de mais disciplina que o irmão, por isso estava sempre o regulando. Nunca parou para entender os sentimentos do rapaz, pois nunca soube como fazer. Quando entrou naquele hospital, a culpa havia tomado conta de seu coração de imediato. Nunca pensou estar naquela situação, onde rogava pelo milagre do próprio filho. As lembranças da última discussão que tiveram inundaram sua mente, e seu peito apertava de uma maneira que o deixava sem ar. Apenas ali, naquele limbo entre esperança e desespero, ele fez um voto: nunca mais permitiria que seu orgulho tomasse a frente de sua vida.
Refletia sobre aquilo quando a tão desejada porta se abriu, e de lá saiu Sakura. Estava em trajes cirúrgicos e sem as luvas, a máscara no queixo e touca no cabelo.
Os quatro levantaram imediatamente, os pais confusos por a verem, não imaginavam que ela estaria lá dentro.

-E então Sakura?- Itachi tomou a frente, tendo os orbes verdes o fitando.

- A bala alojou abaixo da clavícula esquerda, ele perdeu muito sangue... por pouco não acertou a coronária esquerda.-Mikoto se derramava em lágrimas, abraçada pelo marido.

- Como ele está?- Fugaku perguntou aflito.

- Está entubado, conseguimos tirar a bala, mas uma cirurgia como essa é muito delicada e optamos por deixá-lo respirar por aparelhos para não forçar o corpo.- A rosada tentava parecer impassível, mas algumas lágrimas fugiram.- Por ora ele está em observação, vamos esperar a anestesia passar para estimular aos poucos a consciência dele a voltar.

- Nós podemos visitá-lo?- Mikoto perguntou.

- Infelizmente não. Mas podem vê-lo pelo vidro, ele está no quarto...

- Vamos, vamos vê-lo Fugaku!- Mikoto saiu em desespero, puxando o marido.

- Senhor Uchiha...- Sakura o chamou baixo, fazendo o homem a olhá-la.- Ele está entubado, se a senhora Uchiha for sensível aconselho não levá-la para vê-lo agora...

- Está tudo bem, Sakura. Se não levá-la será pior, confie.

Os quatro seguiram para onde Sakura indicou. Um quarto com uma ampla janela, onde podiam ver Sasuke. A cena era demasiadamente dolorosa: Sasuke entubado inconsciente, aparelhos ligados ao corpo e com uma enfermeira checando os mesmos.
Mikoto pranteava e algumas lágrimas solitárias caíam pelo rosto de Fugaku. Itachi olhava pesaroso para o irmão e Izumi fazia o mesmo, sem conter também suas lágrimas.
A enfermeira saiu do quarto e cumprimentou os familiares ali.

- Como ele está?- Itachi perguntou.

- Está estável. Saberemos mais daqui um tempo. A doutora Haruno fez um ótimo trabalho, disso podem ter certeza.

- Por falar nela, poderia nos informar onde fica a sala dela? Queremos mais notícias.- Mikoto indagou.

- Ah não, a doutora não trabalha aqui.

- Não trabalha? Como assim? Não foi ela quem operou meu filho?- Fugaku questionou.

- Os diretores do hospital abriram exceção para que ela operasse hoje pelo currículo dela, mas ela não tem ligação com o hospital. Todos aqui conhecem ela por sua reputação, inclusive para nós do corpo de enfermagem foi uma honra ajudá-la.

Sem mais o que dizer, a enfermeira pediu licença e saiu dali, deixando o casal confuso.

- Reputação?- Fugaku perguntou  mais para si mesmo que para os outros.

- Sakura já serviu em alguns movimentos voluntários de medicina, inclusive quando houve o bombardeio em Suna.- Itachi o respondeu.- Aliás, Sasuke havia comentado uma vez que ela recebeu proposta para trabalhar aqui como chefe da residência, mas ela recusou.

Fugaku engoliu em seco e olhou para a esposa, que ouvira tudo em silêncio.

- A mulher que vocês tanto desprezaram por motivos triviais e preconceituosos salvou a vida do meu irmão.

Como esquecer você?- SasusakuOnde histórias criam vida. Descubra agora