Capítulo 21: A frieza é o escudo de um coração partido...

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Abriu os olhos e virou para a mesinha de cabeceira, o despertador marcava uma hora mais cedo do que ele deveria levantar. Bufou. Tinha o sono meio quebrado, e acordar antes do horário era comum, como também passar a noite em claro. Naquele dia, em específico, queria muito dormir até tarde. Não só pelo cansaço que acumulava, mas pelo sonho que tivera.
Não que fosse apenas sonho, era mais como lembranças. Lembranças com ela. Havia sonhado com o dia em que viajaram juntos pela primeira vez, quando conseguiram finalmente conciliar seus dias vagos e planejaram juntos uma curta estadia na praia. Lembrou dos sorrisos, das fotografias, dos momentos românticos e da volta para casa, lembrou também que passaram a semana recordando de trechos da viagem que os marcaram. Sua mente passou a noite navegando em lembranças com Sakura, de seus momentos mais íntimos e principalmente das várias fotografias que ainda estavam espalhadas pelo apartamento. Antes de acordar, sua mente o levou para mais uma lembrança: sua primeira noite juntos. Ele lembrara do jantar, da chuva que havia caído no decorrer da noite, do vinho bom que Sakura havia comprado. Lembrou da sensação de tê-la em seus braços e de amar o toque macio de sua pele. Quando ansiou por mais, acordou.
Se arrastou para fora da cama e entrou debaixo do chuveiro, deixando a água fria percorrer por todo seu corpo.
A estação do ano era outono, o vento frio residia na maioria dos dias. Mas ele precisava daquele banho gelado, precisava esfriar o corpo e a mente, que fervilhava. Retalhos daquela noite passeavam por sua mente, o trazendo frustração e um pouco de tesão também. Levantou a cabeça encarando o chuveiro aberto e deixou a água bater em seu rosto, a fim de acordá-lo daquele transe infernal. Mas de nada adiantara, pois a mão que era sua maior inimiga naquele momento desceu pelo corpo encontrando o que ele queria desde o início. Massageou levemente o membro que já estava rígido, e era como torturar a si mesmo. Nada substituía a presença dela, o corpo dela, o calor dela.
Depois de um tempo naquele movimento constante e intenso, sentiu seu ápice chegando e acertando o assoalho molhado do banheiro. Se achava patético. Porque sentia que só ela era capaz de satisfazê-lo, e em sua ausência, fazer sozinho era o que lhe restava. Respirou fundo e terminou o banho, saindo e entrando em seu closet para vestir suas roupas.

Passou o dia preso em um loop de lembranças, o que atrapalhou sua concentração no trabalho.
Como era sexta, decidiu ir à casa dos pais.

Não que estivesse com saudades, mas acreditava que sexta-feira era um dia bom para visitá-los, já que se não o fizesse provavelmente receberia a visita indesejada dos mesmos.
"Trouxemos lasanha!" Simplesmente apareciam e entravam, tomavam a cozinha e a mesa de jantar, enquanto falavam sobre a empresa, família, comentavam de sua vida e opinavam em coisas que ele não pedira conselho algum. Família. Infelizmente não é algo que parte de uma escolha, você nasce com ela.

- Fiz seu prato favorito hoje, querido.- Mikoto disse sorridente.

- Atenciosa.- Sasuke respondeu enquanto digitava algo no celular.

- Sasuke, nada de celulares, jornais ou trabalho na mesa.- Fugaku advertiu, trazendo o olhar do moreno para si.- Sabe da regra.

- O senhor Fugaku leva esta regra muito a sério, já que foi criada por causa dele.- Itachi disse rindo.

- E se ele não pode, então ninguém mais poderá.- Sasuke respondeu voltando os olhos para o celular.

- Mas o que tanto você digita, Sasuke? Mas que coisa!- Mikoto reclama, sentando à mesa.

- Trabalho, mãe. Meu trabalho não se resume ao escritório.

- Trabalho, trabalho!- Ela exclamou.- Os homens desta família só pensam nisso!

- E é graças a isso que a senhora tem um ótimo seguro de vida.- Sasuke retrucou, sem cerimônias.

Houve um silêncio desconfortável e Itachi cutucou o irmão, que levantou o olhar para a mesa.

- As vezes você é insensível demais, meu filho, não sei a quem puxou isto.- Mikoto choramingou.- Fiz seu prato preferido, estou tentando ter uma conversa agradável...

Sasuke respirou fundo e bloqueou a tela do telefone, guardando o mesmo no bolso.

- Não sou insensível, mãe, a senhora que é sensível demais.

- Itachi é mais amigável que você, não o vejo reclamar disto.

- Itachi é um doce, não vê como ele trata Izumi? As vezes penso que ele é a mulher da relação.

- E isto é ruim?- a mãe perguntou.

- O que sua mãe quer dizer, meu filho, é que Itachi é mais sensível do que você. É como se você fosse impenetrável algumas vezes.- O pai se pronunciou.

- Sim querido, porque não pode ser mais como Itachi?

- Porque eu não sou o Itachi, mãe, sou o Sasuke!- O Uchiha disse, um tanto irritado.- A senhora possui dois filhos, e não um. De modo que são duas pessoas diferentes em tudo, ou a senhora desejaria que eu fosse a cópia do meu irmão?

- Não Sasuke, não desejo isso.

- Então não há motivos para me comparar com ele.- Sasuke disse, levando a taça à boca.- Não sou tão sensível como a senhora deseja, mas em nenhum momento deixei de estar presente.

- Disso a senhora não pode reclamar, mãe.- Itachi interviu.

- Tudo o que a mãe de vocês quer é que Sasuke seja mais amoroso. Eu particularmente nunca entendi esta sua frieza meu filho, por acaso trata aquela médica deste jeito?

Sasuke bufou e nada respondeu, apenas continuou comendo.

O silêncio se estabeleceu. Sakura era um assunto que Sasuke fazia questão de não levar aos pais, mas ele sempre vinha à tona. O casal não gostava da rosada, era fato, porém sempre a citavam. Isso irritava profundamente o Uchiha.

- A frieza é o escudo de um coração partido, num mar de lembranças dolorosas.- Itachi quebrou o silêncio, atraindo o olhar de Sasuke para ele.

- O quê?- Mikoto indagou.

- A frieza, mãe.- O irmão mais velho continuou.- A frieza é uma arma que somente aqueles que sentem demais são capazes de usar.

O moreno nada disse, afinal, o irmão estava certo em tudo. Itachi era aquele que possuía o dom de entender Sasuke como ninguém.

O tirando daquele clima familiar desconfortável, seu celular vibrou.

Kakashi:

Sasuke?

—x—

Saindo do banho, a rosada conectou o celular no stereo e selecionou sua música preferida. Não a ouvia já fazia um tempo, e colocar ela para tocar trouxe uma sensação de nostalgia. Vestiu sua camisola e foi até a cozinha se servir de uma taça de vinho, estava precisando.
A música estava pela metade, e ela cantarolava enquanto respondia um e-mail em seu notebook. Sexta-feira à noite, e Sakura Haruno estava intocada em seu apartamento ouvindo uma música brega e de camisola. Riu de si mesma.
Foi quando lá pela segunda taça e meia que seu celular vibrou, notificando uma mensagem.

Shizune:

Oi amiga! O que está fazendo? Anima ir no pub? Todo mundo vai.

Sakura:

Ah Shizune...já coloquei a camisola! Que tal amanhã?

Shizune:

Não seja careta, Sakura! Vamos logo!

Sakura revirou os olhos. Sabia que Shizune não desistiria, porque a morena sabia que ela estava à toa. Ponderou e abriu a conversa novamente, se deparando com outra mensagem.

Shizune:

Sasuke confirmou presença agora com Kakashi ... 👀

Sakura:

Tá legal, estou indo...

Shizune:

Isso!! Te esperamos lá!

Andou até o closet, procurando algo para vestir. Era ridículo confirmar presença só por saber que Sasuke também iria? Sim. Mas não havia tomado esta decisão por si mesma, mas pela saudade que sentia pelo Uchiha. A única pergunta que pairava por sua mente era: ele também sentia sua falta?

Como esquecer você?- SasusakuOnde histórias criam vida. Descubra agora