Vendali

| Capítulo 2 | Imperfeições

Três anos depois.

— Você está muito pensativa hoje. — Brian comenta sentando ao meu lado no banco. Não olho em sua direção. Não tenho a menor vontade. 

O mar está revolto à nossa frente, mas o tempo está firme no céu, sem previsão de temporal. Esfrego meus pés na areia úmida, fecho meus olhos, aproveitando o momento. 

— Coisas minhas. — Me lembro de responder ele, sem dar muitas explicações. 
— Você poderia ser um pouco mais específica. — Ouço sua frase e sorrio. Ele deposita um beijo em meu ombro, me deixando bastante desconfortável. — O que acha?

Ainda sou apaixonada pelo Jake, só tenho sentimentos por ele e por causa disso sou a pessoa mais infeliz do mundo. Mas te mantenho por perto, pelo mesmo motivo que você me mantém também: fugimos de algo. Penso ser a melhor explicação, mas opto por algo menos sincero.

— Acho que é melhor manter as coisas assim, você com suas coisas e eu com as minhas. Evita momentos emocionais, opiniões não solicitadas e brigas desnecessárias. 
— Você às vezes é muito fria, sabia? — Ele diz, respirando profundo, totalmente irritado. 
— Eu sou prática, quando nos conhecemos, eu te falei sobre amar outro cara e sobre sofrer por ele. 
— Mas você continuou saindo comigo. — Ele dá de ombros como se isso fosse grande coisa. 
— Da mesma forma que saio com outras pessoas. Isso aqui não é nada demais. — retruco, balançando os pés no ar. Não consigo evitar um riso debochado. 
— Estamos a dois juntos e parece que você nunca está aqui comigo de verdade…
— E desde quando você é diferente de mim? — me viro para ele, encarando seus olhos castanhos. — Não sei nada sobre sua família, sobre o que você faz, porque do nada você recebe ligações e sai correndo. E por mim está tudo bem, eu realmente não me importo. 
— Exatamente pelo motivo que você deu anteriormente — Ele explica de forma ríspida. Reviro os olhos, sem paciência. 
— Então eu tenho razão, muita informação nos atrapalha. Eu simplesmente não quero ir além, não consigo e sinceramente, não quero. — respondo, mostrando o óbvio. 
—  Está bem óbvio, que você não me ama.

Bingo, eu não o amo mesmo. Mas gosto de tê-lo por perto. Isso não poderia bastar? Meu amor está reservado apenas para uma pessoa e ele não está por perto para usufruir dele. 

— Eu gosto de você. — eu digo, dando um sorriso curto a ele, antes de me levantar. — Gosto da sua companhia, às vezes você me distrai de outros pensamentos e isso basta para mim. 
— Mas para mim não. Você quer ser minha namorada? Podemos ficar bem juntos, aos poucos, você vai se soltar. — Ele propõe. Mordo o lábio contendo um riso. 
— Brian, que papo é esse agora? — O riso escapa sem querer. — Você nunca se importou com isso, agora quer um relacionamento e tudo mais?
— Percebi que agora eu te amo. 
— Percebeu ontem, hoje, que horas? — Eu debocho, negando com a cabeça. — Se você me dissesse que foi mandado a me propor em namoro, eu acreditaria muito mais. Mas não isso.
— Mavi…
— Esquece, se quiser podemos manter tudo como está, nada além disso. 

Brian sibila um “vai a merda” e levanta irritado, me deixando sozinha na praia. Assim que ele se afasta completamente, eu grito ao vento, quem sabe assim ele levaria o meu pedido até o Jake e ele voltaria para mim. 
 

{...} 

Chego em casa e vou direto para o banheiro, me levar, ponho meu pijama e antes de ir para a cama, decido ir até o quarto do meu irmão caçula para conversar um pouco com ele. Mas seu quarto está vazio e já é tarde.  
Quando chego no corrimão da escada ouço um estrondo vindo da porta de entrada. Assim que desço o primeiro lance das escadas, vejo Susana, minha madrasta, sentada no chão, totalmente embriagada, olhando para o teto e falando coisas sem sentido.
Gabe está parado e imóvel no último degrau. Susana vira a cabeça na direção dele e depois na minha, notando a sua pequena platéia. Quando seu olhar volta-se para seu filho, ele entende como um pedido de ajuda. Então lentamente ele move seus pés, se aproximando dela, mas ela o impele.