| Capítulo 3 |

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Martin permanece sentado no sofá em silêncio, ele olha fixamente para o chão amadeirado da sala. Só Deus sabe o que se passa por sua mente. Talvez ele esteja pensando na melhor forma de me explicar tudo. Pois tenho certeza que sua vontade é de estar aos berros, como sempre faz. Como se fosse minha obrigação saber de tudo.
Observo-o por mais algum tempo, mas quem começa a ficar sem paciência sou eu.
Dou alguns passos em sua direção me ajoelhando até ficar na sua altura. Pego em suas mãos que estão fechadas ao lado de sua perna, abro elas com cuidado, segurando-as. Ele tenta se desvencilhar, mas eu não permito. Seguro-as com força, quando ele por fim desiste, começo a afagar suas mãos de forma gentil. Ele me olha nos olhos imediatamente.

- Eu não sei o que está acontecendo. Se você não me falar, como vou te entender? - minha voz é mansa demais para uma situação como aquela e Martin sabe disso.
- Não há nada para entender. - Ele mente.
- Então, eu simplesmente paro de me encontrar com Brian, porque você surtou e eu sem entender nada, vou te obedecer. - retruco, soltando as mãos dele. Minha paciência não dura muito. Martin nota nisso e ri baixinho.
- Isso mesmo. - responde ele com um sorriso cínico nos lábios.
- Isso é para ser uma piada, Martin? Eu não estou brincando. - grito com raiva.

Martin não quer me explicar nada. Seu silêncio é a prova disso. O que ele não entende é que tanto ele quanto eu chegamos ao limite com nossos segredos. Ele sabe do meu contato com Brian e agora é ele quem precisa me contar sobre o que aconteceu no restaurante.

- Martin, não me provoca. Eu juro que vou até ele. - blefo.

Ele me fuzila com aquele olhar cheio de fúria e raiva. Mas eu não me intimido. Ergo-me rapidamente e vou em direção a porta. Quando eu faço menção de abrir, ele chama-me pelo nome.

- Eu sigo uma coisa, ele segue outra, não nos damos bem. Ele é perigoso e fim.

Passo a mão pelo cabelo, prestes a entrar em colapso. Eu sou uma completa idiota para meu irmão, Martin não precisa falar nada, porque suas atitudes já demonstram isso. Solto uma risada nasal, voltando-me para ele.

- Obrigada pela sinceridade, irmão. - digo ao abrir a porta. Martin grita um merda e avança sobre a porta fechando-a com força.
- Está bem, me desculpe.
- A verdade. - exijo.
- Nosso pai chegou na cidade quando tudo era mato, pouca coisa havia aqui. Então conheceu o Sr. Francisco, ele era como um líder aqui, uma referência para a comunidade. Mas trabalhava com coisas ilegais. Nosso pai acabou indo pelo mesmo caminho. E depois eu...
- Nosso pai e você? - questiono sem entender. - Meu pai era um homem correto, ele não era corrupto. - protesto.
- Nosso pai te amava demais, ele nunca quis que você soubesse, porque sabia que você iria reagir assim, você nem disse nada, mas seus olhos estão nos recriminando.
- Claro que eu estou. Olha o que eu estou ouvindo, Martin. - respondo. - E onde Brian entra nisso tudo?
- Ouça... a muito tempo atrás o pai tinha um amigo, mas eles tinham muitas convergências em relação ao trabalho, esse cara foi excluído da sociedade e foi embora. Dele nasceu o Brian, seu namorado. E desde então uma inimizade se formou. Se formaram os Bullins, que são eles e nós, os Village.

Algo em minha memória me faz recordar esses nomes. Eles já haviam sido noticiados no jornal de Carmel. São facções que promovem brigas, tráficos e às vezes chacinas. Mas não são facções quaisquer, eles nunca têm seus rostos identificados pela mídia. Eles são organizados e muito bem preparados. Entretanto, a descoberta faz todo o sentido. Brian fica nervoso cada vez que o assunto surge.

- Mas nós somos diferentes, Mavi. Nós, com a ajuda e apoio da polícia local, combatemos essas gangues. Village, visa proteger Carmel, dos Bullin e de outras gangues. Seu objetivo maior é garantir a segurança de todos os moradores e evitar que drogas sejam traficadas e vendidas em nossa cidade.
- Vocês são um clã. Pessoas de "bem", mas que usavam métodos pouco ortodoxos.
- Bem, sim... parte da carga que apreendemos deles vem para nós. Alguns são vendidos, que é de onde tiramos nossa renda e a outra parte devolvemos para a polícia. - Martin se deixa levar pela emoção e conta um pouco do que eles fazem com uma adoração que me faz arder de raiva.
- Eu não quero saber de nada disso, Martin. Escuta as suas palavras, isso é um absurdo.

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