QUATORZE

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–  E você dizendo que as sobremesas não eram nada de mais, hein?

Porque esse bolo de chocolate aqui está dizendo bem o contrário, meu amigo – falei, comentando sobre a sobremesa maravilhosa do voo.

– Será que eu posso pedir mais um?
– murmurei de deleite.
Estava tão bom que eu nem fiquei com vergonha.
Nem com Christopher ocupando o exuberante assento de primeira classe ao meu lado.

Ah, sim!

Aparentemente, agora eu voava de primeira classe. Eu ainda não tinha entendido muito bem como é que deixei que ele pedisse – ou melhor, exigisse – um upgrade do meu assento na econômica sem discutir.
Mas eu sabia que a cena tinha incluído Christopher colocando o braço sobre meus ombros e pronunciando a palavra namorada. O que, pensando bem, percebi que tinha me pegado de surpresa a ponto de simplesmente assentir feito uma idiota e colocar meu passaporte em cima do balcão. Ele abaixou o jornal atrás do qual estava escondido, revelando a sobrancelha erguida.

– Meu amigo?
– Shhhh.
Estou curtindo meu bolo.
Ele suspirou e voltou a ler.
Com a colher no ar, hesitei antes de levá-la à boca.
– Você não precisava ter feito aquilo, pagar meu upgrade foi um pouco demais.
Ouvi um grunhido evasivo vindo dele.
– Estou falando sério, Christopher.
– Achei que você quisesse comer em silêncio. – Vou devolver o dinheiro quando voltarmos. Você já está fazendo o suficiente.
Ele suspirou quase no mesmo instante.
– Não precisa, Dulce Maria. Sou membro do Sky Club da companhia aérea, tenho muitas milhas – explicou Christopher enquanto eu finalmente comia o último pedaço daquele pedaço de céu em forma de bolo.
– E, como eu disse, podemos usar o tempo de voo para nos prepararmos. Quando finalmente terminei de comer aquele que tinha se tornado o ponto alto do meu dia, limpei a boca com o guardanapo, coloquei-o de volta na bandeja à minha frente e virei para Christopher.
– O que acaba de me lembrar que terminou o intervalo.
Ele me ignorou, então cutuquei o jornal.
– Temos que voltar ao trabalho.
Anda – falei, dando mais uma cutucada.
– Hora da preparação.
– Você precisa mesmo fazer isso? – perguntou Christopher de trás de jornal.
– Aham.
Cutuquei o jornal algumas vezes, impossibilitando a leitura.
– Preciso da sua atenção total. Só falamos de algumas das pessoas da minha família, e nosso tempo está acabando. Puxei um dos cantos do jornal.
– E então, tenho sua atenção total?
– Você não precisa fazer nada disso. Christopher baixou o jornal com um movimento repentino.
– Você sempre tem a minha atenção total, Dulce Maria.
Isso fez meu dedo pairar no ar.
– Rá! Muito engraçadinho você tentando me comprar com esses truques baratos – respondi, e sustentei o que esperava ser um olhar sério.
– Não pense que essa conversinha mole vai livrar você dessa.
As relações internacionais dos Estados Unidos da América não são importantes agora. Assentindo com relutância, Christopher dobrou o jornal meticulosamente e o deixou na bandeja.
– Tudo bem – disse ele, os olhos castanhos totalmente focados em mim.
– Sem distrações.
Sou todo seu.
Minha respiração ficou presa em algum lugar entre os pulmões e a boca.
Todo seu.
– Noivo e noiva?
– perguntei, sabe-se lá como.
– Gonzalo e Isabel.
Ele revirou os olhos, como quem diz que o teste poderia ser mais difícil. Me desafiando.
– Trio de primos, que você não vai dar a mínima para o que disserem? Principalmente se a interação começar com Ei, quer ouvir uma coisa engraçada?.
– Lucas, Matías e Adrián. Ele nem hesitou.

Bom, ótimo, porque aqueles selvagens eram perigosos. Nunca se sabia o que poderia sair daquelas bocas. Ou deles como um todo.

– Pais da noiva e seus supostos futuros sogros se você estiver levando o relacionamento a sério, o que você com certeza está?
– Cristina e Javier – respondeu ele, imediatamente.
– Devo ser educado, mas chamar pelo primeiro nome ou eles vão ficar ofendidos e me achar um idiota pretensioso.
Christopher fez uma pausa após repetir exatamente as palavras que eu tinha dito a ele.
Então, ajeitou o corpo imenso no assento mais que espaçoso, fazendo com que parecesse menor e apertado.
– Javier é professor universitário de história e fala inglês fluente. Cristina é enfermeira, e seu inglês é... não é tão bom. Só que é com ela que preciso tomar mais cuidado porque, mesmo quando parecer que não entendeu o que eu disse, é mais provável que esteja analisando cada palavra. Assenti, secretamente impressionada.
Ele estava gabaritando todas as perguntas – pela segunda vez. Não que eu estivesse surpresa. Christopher já tinha provado que sua determinação não tinha limites no que dizia respeito ao sucesso, independentemente de qual fosse a tarefa. Christopher não fazia as coisas de qualquer jeito; ele sempre entregava o melhor resultado.

A farsa...  (adaptação) Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora