DEZ

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Quando entrei na sede da InTech naquela segunda-feira, era como se eu tivesse engolido uma bola de chumbo com o café da manhã. E a cada passo que eu dava em direção à minha sala, a sensação ficava mais forte, como se a bola estivesse se expandindo e ocupando cada vez mais espaço dentro de mim. 
    Eu não ficava tão... inquieta desde aquela ligação terrível algumas semanas antes, quando fiquei sabendo que Daniel estava noivo. A ligação em que a mentira tinha surgido.

Mas aquilo era diferente, não era?
Aquele peso no estômago não tinha nada a ver com algo que eu soltara sem querer em um momento de desespero e estupidez. Mas talvez tivesse. Porque, por mais que reconhecer que o incômodo tivesse a ver com o modo como Christopher e eu deixamos as coisas no sábado fosse a última coisa que eu queria, eu precisava fazer isso. E por mais que eu me recusasse a gastar mais um segundo me preocupando com o assunto, eu me preocupava.

O que era absolutamente ridículo. Por que eu permitira que o sábado – ou ele – tivesse algum lugar especial na minha mente? Eu não tinha motivo nenhum para querer isso. Não conscientemente, pelo menos. Não éramos amigos. Não devíamos nada um ao outro. E o que quer que Christopher tivesse falado – ou feito, ou sua aparência, seu cheiro, ou o jeito como sorriu ou me abraçou ou o que quer que tivesse sussurrado no meu ouvido – não deveria ter me atingido. Mas, pelo jeito, minha cabeça não pensava assim.

"Ser seu amigo nunca passou pela minha cabeça."

Ele não poderia ter sido mais claro. Por mim tudo bem. Eu também nunca quis ser amiga de Christopher. Tirando talvez nos primeiros dias dele na InTech. Mas isso fazia muito tempo. Ele estava na minha lista de desafetos por um motivo e jamais deveria ter saído de lá. O único probleminha nisso tudo era que eu meio que precisava dele. E eu... meu Deus. Eu lidaria com isso depois. Tentando deixar de lado todo o drama com Christopher e enterrando bem fundo aquele núcleo de ansiedade para que não crescesse e virasse outra coisa, coloquei a bolsa na cadeira, peguei meu planner e fui até a sala onde fazíamos o Café com Notícias mensal. Jeff, nosso chefe, e todas as cinco equipes que ele coordenava participavam da reunião. E não, não tomávamos café da manhã e assistíamos ao jornal. Infelizmente. Era só uma reunião mensal com café ruim e uma coisa que deveriam ser biscoitos, na qual Jeff atualizava a divisão com as últimas notícias e anúncios. Uma das primeiras a entrar, me sentei no lugar de sempre, abri o planner e repassei alguns lembretes que eu tinha anotado para a semana enquanto a sala ia se enchendo. Sentindo o toque suave de uma mão em meu braço e o aroma suave de pêssego, virei, já sabendo quem eu encontraria sorrindo para mim.

– Ei, Jim's ou Greenie's no almoço? – perguntou Maite em voz baixa.
– Eu venderia a alma por um bagel do Jim's, mas é melhor não. Aquele definitivamente não era um dia para salada; meu humor pioraria ainda mais, mas o casamento estava chegando.
– Vamos de Greenie's.
– Certeza? – perguntou Maite, olhando para os biscoitos que estavam na mesa estreita na entrada da sala.
– Meu Deus, parecem piores do que nunca. Dei uma risadinha e, antes mesmo que eu pudesse responder, meu estômago roncou.
– Estou me arrependendo de não ter tomado café da manhã – resmunguei, olhando para ela com uma careta.
Maite franziu a testa; havia um tom de alerta em sua voz quando ela disse:
– Dulce, você não é assim, querida. Essa dieta que você está fazendo é ridícula. Revirei os olhos, ignorando a voz na minha cabeça que concordava com ela.
– Não é uma dieta, só estou tentando me alimentar melhor. Ela me lançou um olhar que revelava sua descrença.
– Nós vamos ao Jim's.
– Acredite, depois do fim de semana que eu tive, eu supertoparia e comeria tudo que tem no cardápio, mas não. Minha amiga analisou meu rosto, provavelmente encontrando algo, porque ela arqueou uma sobrancelha.
– O que você fez? Eu me recostei na cadeira, e uma bufada leve deixou meus lábios.
– Eu não fiz... Parei de falar.
Eu tinha feito muita coisa, sim.
– Mais tarde eu conto, tá? Os olhos dela se encheram de preocupação.
– No Jim's. Com um último aceno, Maite passou por mim e foi até a cadeira ao lado de Héctor, seu líder de equipe. Quando o meu olhar cruzou com o dele, acenei com um sorrisinho e recebi uma piscadela como resposta. Então – me pegando completamente desprevenida, embora não devesse – meu radar Christopher disparou, me alertando quanto à presença dele. Procurei por ele, meu coração saltando dentro do peito. Ele não é tão bonito assim. Ele só é alto, disse a mim mesma ao olhar para ele. Meu coração acelerou. Deve ter sido o smoking, porque meu corpo certamente não está reagindo a essa camisa de botão e essa calça engomada, pensei enquanto meus olhos acompanhavam seus passos largos até a cadeira que eu sabia que ele ocuparia algumas fileiras à frente, à minha esquerda.

A farsa...  (adaptação) Vondy Onde histórias criam vida. Descubra agora