capítulo 2

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O intervalo chega rápido. Nada demais aconteceu até agora.

Assim que o sinal toca, eu vou para fora da sala e caminho entre os alunos.

Chego ao refeitório, mas meu estômago embrulha só de sentir o cheiro da comida. Então decido ir para fora e explorar um pouco.

Do lado de fora eu vejo algumas pessoas fumando ou se beijando pelos cantos. Eu as ignoro e vou até as arquibancadas, passando pelo campo de futebol e indo em direção a floresta.

A floresta está calma a essa hora da manhã. Ouço o som dos pássaros e pequenos esquilos correndo de um lado para o outro.

Vejo uma mesa de madeira com bancos ao redor e decido ir até lá.

Me sento no banco e ouço a madeira ranger. Olho para o céu e fecho os olhos, respirando o ar puro.

Me pego pensando em meus pesadelos e em meus pais. Está tudo tão estranho desde que eles se foram...

— Oi.

Ouço uma voz no meu ouvido. Dou um pulo, e sem pensar direito, dou uma cotovelada em alguém.

Solto um gritinho ao ver um garoto atrás de mim.

— Ai... Caralho, você é magrinha mas é forte. — diz o garoto, colocando a mão onde eu o acertei no rosto.

Percebo que não é qualquer garoto, mas sim o garoto com a blusa esquisita.

— Ai meu deus, você me assustou! — digo quase sem fôlego. — Desculpe, eu machuquei você?

— Não, ta de boa. — ele sorri pra mim.

E nossa, que sorriso bonito...

— O que você está fazendo aqui? — questiono.

— Eu que pergunto. — olho para ele confusa. — Aqui é meio que meu refúgio.

— Ah, desculpe. — digo, arrependida de ter vindo até aqui. — Eu vou embora. — faço menção de levantar, mas o ouço rir.

— Eu estava brincando! Afinal, meu nome não está gravado aqui? Está? — ele diz. — Se bem que seria bem legal: "este lugar pertence a Eddie Munson".— Ele levanta as mãos, como se fosse algo grandioso.

— Eddie Munson? — sorrio de volta.

— Sim, eu sei, um nome bem comum para um garoto esquisito como eu.

— Você não é esquisito.

— Ah, não? Não é o que seus olhos, e aliás, que olhos lindos, dizem. — ele brinca.

Sorrio de orelha a orelha e percebo que deve ser a primeira vez em um mês que sorrio de verdade.

— Você não é estranho, Eddie. — digo.

— Se você diz... Chrissy, né?

— Isso. — confirmo.

— Isso é muito bom vindo de uma garota encantadora como você. — diz ele, com aquele maldito sorriso bonito no rosto.

Sorrio e olho para baixo, completamente envergonhada.

— Mas enfim, o que você está fazendo aqui? — ele pergunta.

— Eu só queria ficar sozinha, e esse me pareceu um bom lugar.

— Você quer que eu vá embora?

— Quê? Não! — exclamo. — Não.

Eddie sorri e senta ao meu lado no banco.

— Você quer conversar? Sabe, eu sou péssimo com conselhos, mas gosto de ouvir.

— É só que... Muita coisa aconteceu.

— Tipo o que?

— Eu... Bom, meus pais morreram em um acidente a um mês.

— Nossa, isso é horrível. — ele diz, parecendo realmente triste.

— É... Eu tive que me mudar para cá e agora moro com minha avó. Sabe, tem sido difícil.

— Eu entendo completamente, Chrissy.

Ele olha no fundo dos meus olhos, como se enxergasse através deles. Fico um pouco desestabilizada no começo, mas logo me acostumo.

Ficamos assim pelo que parece ser uma eternidade. É como se ele me acalmasse a cada olhada e a cada sorriso.

Ele se aproxima de mim perigosamente, e eu quase acho que vai me beijar, mas então ele sussurra:

— Tem uma formiga no seu cabelo. — Eddie pega a formiga com o dedo com todo o cuidado do mundo e a mostra para mim.

— Uau. — digo, mas acho que não me referi a formiga, mas sim ao Eddie.

Ele volta a sorrir e coloca a formiguinha na mesa, onde ela corre sem rumo. Eddie se afasta de mim e olha para o céu. Preciso de alguns segundos para me recompor. Olho para sua camisa novamente e então pergunto:

— O que significa "Hellfire Club"?

— É sério que você não sabe? — pergunta, incrédulo.

— É. — sorrio.

— É o meu clube de D&D. — Olho para ele confusa. — Dungeons and Dragons...? — ele tenta de novo.

— Desculpe, eu realmente não conheço. — digo.

— Sabe, acho que você gostaria. Poderia jogar com a gente qualquer dia desses.

— Claro, seria ótimo. — digo, mesmo sem nem ter ideia de que tipo de jogo é.

— Acho melhor voltarmos, Chrissy. Não que eu me importe, mas o sinal logo vai bater.

— Está bem.

Ele levanta e estende sua mão para me ajudar a levantar, como um verdadeiro cavalheiro.

Sorrio para ele e nós caminhamos em silêncio até o refeitório.

Jason, o garoto da sala, vem em nossa direção assim que nos vê. Vejo Eddie revirar os olhos.

— Ei, Chrissy, você está bem? — ele pergunta.

— Sim, estou. — digo confusa.

— Esse esquisito está te incomodando? — pergunta, referindo-se ao Eddie.

— Quê? Não, claro que não. — respondo.

— Olha, melhor você vir comigo. E você, esquisito, fique longe dela. — diz, e então pega minha mão e me arrasta para o outro lado do refeitório.

— Ei! espera! — olho para trás e vejo Eddie com os ombros baixos, parecendo irritado.

— Olha Chrissy, se eu fosse você eu não andaria com Eddie Munson.

— O que tem de errado com ele?! — pergunto.

— Além de fazer parte daquela seita chamada Hellfire?

— O Hellfire não é uma seita!

— Bom, ele também vende drogas.

— Quê?

— É, e ao menos que você queira ser considerada uma drogada, é melhor você não andar com ele.

— Mas...

— Está bem, desculpe. — ele para de repente — Eu não sou ninguém para dizer com quem você deve e não deve andar, mas eu só quero te ajudar, ok? — Jason sorri e então me deixa ali.

Fico alguns segundos sem entender o que está acontecendo. Será que Eddie vende mesmo drogas? Ele me pareceu muito legal, não acredito que queira me fazer mal também.

Ignoro meus pensamentos e vou para a aula.

nightmare - Eddie e ChrissyOnde histórias criam vida. Descubra agora