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– Bom dia, capitão.

Yamaguchi parou de andar repentinamente e olhou para Tsukishima, a palavra ecoando entre eles.

Capitão.

Estavam embaixo do poste de luz no final da rua, onde se encontravam para caminhar juntos até a escola todas as manhãs. Eram 06:40 e o sol já havia nascido, começando sua jornada pelo céu azul.

– O que você disse? – perguntou, surpreso. Se fosse um dia normal, Tadashi ainda estaria sonolento por conta do horário e provavelmente nem o teria escutado falar. Nunca foi uma pessoa matinal, em especial para ir à escola. Entretanto, não era um dia normal. Era o primeiro dia do Terceirão, o último ano do colégio. E, consequentemente, o primeiro dia do clube de vôlei. Hoje, eles conheceriam os novos membros do time e Ukai nomearia o novo capitão, escolhido em consenso entre ele e Ennoshita. Yamaguchi não poderia estar mais acordado e ansioso.

Tsukishima o encarou em silêncio e levantou uma das sobrancelhas, como se dissesse "eu não vou repetir, você que se dane por não ter ouvido". Seus olhos estavam particularmente caramelados naquela manhã e não havia um só fio de cabelo loiro fora do lugar, diferente da confusão enosada que era a cabeleira de Yamaguchi. Para ele, sempre era uma luta se arrumar para ir à escola; às vezes, ele ganhava, às vezes, ele perdia. Naquele dia, ele perdeu. Mas Tsukishima não passava por coisas assim, não é? Na verdade, era difícil imaginar um único dia em que Tsukishima Kei houvesse acordado sem parecer a porra de uma pintura renascentista. Yamaguchi não sabia se sentia vontade de bater nele ou beijá-lo por isso; talvez um pouco dos dois.

Desviando os olhos para o chão, observou o contraste de seus tênis coloridos contra a calçada de pedras da rua.

– Não sabemos se eu vou ser o novo capitão. – disse, por fim. – Poderia ser qualquer um.

– Besteira. – falou Kei e começou a andar. Yamaguchi o acompanhou.

Os dois atravessaram a rua na faixa de pedestres e seguiram em frente, na direção do colégio. Andavam lado a lado, ocupando toda a calçada. Faziam isso desde pequenos, quando descobriram que moravam perto um do outro. Yamaguchi gostava dessa parte do dia, principalmente porque, àquela hora, não havia ninguém. Eram apenas os dois e a rua vazia.

Olhando para frente, admirou as construções das casas ao longo do quarteirão. O sol iluminava suas janelas fechadas e o ar ainda carregava um pouco do gelado da madrugada. O som de seus passos era melodioso, ritmado, transmitindo a calma do cotidiano.

– Poderia ser você, sabia? – Yamaguchi continuou a falar. Suas mãos estavam dentro do moletom da escola, escondidas do sereno. – Ou o Hinata. Ou o Kageyama. Ninguém sabe.

– Vai ser você. – disse com convicção. Tadashi virou-se para olhá-lo. Tsukishima encarava as casas à frente, o rosto tão sério quanto sempre foi. Os fones de ouvido foram deixados ao redor de seu pescoço, longe de suas orelhas. Kei nunca escutava música de manhã; era como se reservasse aquele momento de caminhada somente para eles (ou, pelo menos, era isso que Yamaguchi gostava de fantasiar).

– Por que você tem tanta certeza? – perguntou. – Kageyama e Hinata acham que vai ser um dos dois. Na real, não duvido que eles até tenham apostado sobre isso. É bem a cara deles.

– Kageyama e Hinata são idiotas. – ele deu de ombros. – Ennoshita não seria maluco de deixar um dos dois ser capitão. E eu não sirvo para isso. Vai ser você.

Yamaguchi assentiu devagar e voltou a olhar para o chão. Em partes, ele estava certo. Mas havia algo sobre isso que o incomodava.

Andaram em silêncio por alguns minutos, o som dos pássaros acordando preenchendo o ar entre eles. Antes de atravessarem outra rua, no entanto, Yamaguchi parou.

Tsukishima seguiu em frente sem perceber que o outro não o seguia. Então, no meio do caminho, na faixa de pedestres, ele também parou e se virou, olhando para o melhor amigo que ficara para trás. A rua estava vazia, deserta.

Yamaguchi o encarou firmemente, as bochechas coradas devido à brisa gélida que batia contra seu rosto.

– Não quero ser o capitão só porque não há ninguém melhor para isso. – disse firme, a sinceridade crua sangrando por entre suas palavras.

De início, Tsukishima não respondeu. Ele somente o encarou de volta, silencioso feito uma escultura de mármore. Suas bochechas também estavam coradas. Era fofo.

– Você não vai. – ele falou, por fim. Seus olhos caramelados fitavam Yamaguchi com seriedade por de trás dos óculos. – Ennoshita e o treinador escolheram você porque eles te conhecem. As pessoas confiam em você, respeitam você. Você vai se sair bem.

O coração de Yamaguchi não poderia bater mais rápido. Por um segundo, ele sentiu que iria começar a chorar. Um sorriso enorme ocupou seu rosto e ele soltou a respiração que prendia pela boca, sentindo-se, de repente, sem o menor pingo de nervosismo e ansiedade.

– Sabe... – viu-se falando, divertido. – Não sabia que Tsukishima Kei poderia dizer palavras tão bonitas. Você tem sentimentos e não me avisou?

Tsukishima revirou os olhos.

– Cale a boca. – resmungou. Ele voltou a caminhar pela rua, virando as costas para Yamaguchi e deixando-o para trás.

Tadashi riu e o seguiu, acelerando o passo. Ao colocar-se ao lado de Kei na calçada, entretanto, seu sorriso desapareceu. Olhou para o melhor amigo, o coração batendo em um ritmo gostoso.

– Obrigado, Tsukki.

Tsukishima deu de ombros, como se não se importasse, mas Yamaguchi sabia que era mentira.

OH MY CAPTAIN ; ( 𝒕𝒔𝒖𝒌𝒌𝒊𝒚𝒂𝒎𝒂 )Onde histórias criam vida. Descubra agora