•CAPÍTULO 1 - UMA REALIDADE DISTANTE DEMAIS PARA SE ACREDITAR•

11 1 6
                                    

Nunca havia saído da Holanda antes, estava ansiosa, mas também com um pouco de receio. Não sabia se iria me adaptar, Londres era uma realidade tão diferente para mim.

Após a empresa de meu pai, a Digiplace, falir, nos vimos sem um futuro em nosso país, e decidimos nos mudar para Londres e assim começar uma vida nova.

Estava sentada no banco traseiro do carro me afundando em meus pensamentos sobre a nova experiência que seria me mudar para um lugar tão distante, enquanto tocava Try, da Pink  em meu fone de ouvido. Fui interrompida ao minha mãe me questionar.

- Vênus, querida, tudo bem? Está tão quieta, pensando fundo.

Pausei a música e tirei o fone de meu ouvido.

- Não mãe, está sim, apenas estou um pouco receosa. Londres é uma realidade tão diferente do que eu estou acostumada.

Como sempre, minha mãe nunca deixa passar nada que falo. Ela estacionou o carro e olhou para mim, com uma expressão de carinho.

- Vai dar tudo certo, meu amor, tenho certeza. Você é encantadora, não terá alguém que não goste de você, e além de tudo isso, eu e seu pai estaremos com você para te apoiar em todos os momentos de sua vida, os bons e os ruins. A adaptação será difícil, pois como você disse, estamos indo para Londres, um país que ainda adota a monarquía e que é muito diferente da Holanda, que estávamos acostumados, mas passaremos por isso juntos, nós três.

Ela voltou para a estrada, ainda faltava um tempo para chegarmos. Ficamos em silêncio pelo resto do caminho.

                                                                                                     ***

Após 8 horas de viagem - com pausa para nos alimentarmos e irmos ao banheiro diversas vezes durante o trajeto - finalmente chegamos ao nosso destino. Londres, Inglaterra.

Já a havia visto por fotos, mas pessoalmente era tão magnífica quanto. Me encantei, e por alguns minutos esqueci o receio do recomeço. Porém o que chamou minha atenção mais do que todas as outras coisas foi o grande relógio, que podia ser visto desde a entrada da cidade. Já era meia noite quando chegamos, então pudemos ouvir as badaladas logo de início.

Naquele momento tive certeza de que, apesar das dificuldades que passaria, aquele lugar era para mim. Foi como se eu me sentisse um pouco mais completa, aquele vazio no peito havia diminuído. Parecia destino. Porém, mais uma vez, o momento foi interrompido por minha mãe.

- Nossa, não te via sorrir assim desde a morte dele.

Ela enfim tocou no assunto, e meu brilho sumiu rapidamente. Ele, Lennon, por que ela tinha que falar sobre isso?

Quer dizer, eu nunca esqueceria Lennon, e minha dor não diminuiria, porém já fazia quase uma década. Aliás, a morte de meu irmão sempre mexia muito comigo, não apenas por ser meu irmão, mas por ter presenciado tudo.

Minha mãe havia percebido meu desconforto, e rapidamente tentou desfazê-lo, porém eu sabia que ela não tinha chances.

- Ei, docinho. Me desculpe, sei que isso mexe muito com você, e que não gosta de falar sobre o assunto.

- Fica tranquila mãe, está tudo bem - não, não estava.

As alucinações estavam começando, já começava a ouvir as vozes. "Vênus, me ajude" "Por favor, Vênus" , "Vênus, Vênus, VÊNUS". Peguei meu remédio discretamente, para que minha mãe não percebesse. As vozes diminuíram, porém não acabaram, elas nunca acabam.

Afim de desviar um pouco minha mente, fiz o que sei fazer de melhor, ouvir música. Dessa vez Where Have You Been, da Rihanna tocava no fone.

Consegui me acalmar, as vozes também pararam, pelo menos por algum tempo. Desde o ocorrido sou perturbada pela minha mente, tinha apenas oito anos quando as vozes e as alucinações começaram. Desde então, sempre sou levada a psicólogos. Antes os remédios faziam mais efeito, conseguia ficar até uma semana sem sentir nada de estranho, mas agora, mal duravam algumas horas e tudo voltava de novo.

Chegamos a nova casa, e meu pai estava nos esperando, ele havia vindo antes para organizar algumas coisas e fixar-se na casa, que se localizava na Copperfield Street, número setenta e três. Era uma bela casa, feita com tijolos marrons e uma cobertura de telhas logo acima da porta principal. Simples, pórem bonita, parecia a casa dos Dursley, em Harry Potter.

Sai do carro, com uma das quase cinquenta caixas na mão, nesta estavam minhas melhores roupas, que estavam todas amassadas após a viagem. Logo que pisei na calçada meu pai se ofereceu para me ajudar, mas como a caixa estava leve, recusei a ajuda educadamente.

Entrei na casa e comecei a repará-la. Logo no início se localizava o hall de entrada, com um lavabo ao lado. andei até chegar no corredor, que conectava a sala, cozinha e escada. Ao subir para o andar de cima, ficavam os quartos e os banheiros. Como na casa haviam dois banheiros, não precisaria usar o mesmo que meus pais, agora teria um só para mim.

Também seria dele se ele estivesse vivo.

Parei de pensar sobre isso e fui em busca do meu quarto. Os dois ficavam um de frente para o outro, e como o da direita estava decorado, imaginei que fosse o do meus pais, então fui para o da esquerda. O quarto era aconchegante, já havia cama e escrivaninha, e no lugar do guarda-roupa, optei por uma arara. Certeza que com um pouco de decoração ficaria melhor. Então, comecei logo, colando pôsteres de bandas, cantores, filmes e séries na parede, também preguei meu mural de fotos, e logo em seguida as coloquei. 

Após algum tempo, terminei de organizar. Toda aquela viagem havia me cansado, foi quase que automático quando deitei na cama para descansar um pouco e acabei dormindo. E amanhã, seria um novo dia, em um lugar completamente diferente de casa. Não sei se estava preparada para tudo o que iria passar, tenho quase certeza que não, mas infelizmente não haveria como eu saber o que me aguardava dali para frente.

E Cá Estamos NósOnde histórias criam vida. Descubra agora