O Sequestro

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Espero que gostem ❤️

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Não há artigo científico no mundo que explique por que Midoriya Izuku estava em um carro, amarrado e com a boca tapada por uma fita adesiva, sendo levado a sabe-se lá onde em pleno dia útil de quinta-feira. Ele não fazia ideia de quem eram aqueles caras que fediam a peixe, só sabia que, por circunstâncias maiores, infelizmente, teria que faltar à aula do período noturno. Era estranho, mas até aquela fita adesiva tinha cheiro de peixe.

Em seu bingo de azar imaginário, ele nunca pensou que marcaria "sequestro" como experiência já vivenciada — ou melhor, sofrida. Havia acidente de bicicleta, carro e até "andando" marcados; ossos quebrados, demissões, notas baixas, foras recebidos de interesses românticos, amizades desfeitas e mais um monte que Izuku tinha certeza que marcaria um dia. Ele não conhecia ninguém mais sortudo do que ele.

Com seus dois empregos e um bico, ele esperava qualquer coisa, menos a situação atual. Torcia para que a mãe nem sonhasse com aquilo. Se saísse vivo, não contaria; morto então... Tadinha, já tinha preocupações demais relacionadas ao bem-estar do filho, já que uma força maior sempre tentava chutá-lo para fora da Terra.

Não era do tipo medroso, mas também não era um grande homem cheio de coragem; ele estava ali, perto do quase lá. No entanto, aquele cheiro de peixe, o cano de algum tipo de arma pressionando sua bochecha e aquele trecho da Nona Sinfonia de Beethoven tocando no único fone sem fio preso à orelha dele o estavam deixando meio agitado.

Para contextualizar melhor: durante a tarde, Izuku esteve em seu bico de animador de festas infantis. Ele ainda estava vestido com o tema da festa: o herói número 1 no ranking dos melhores do país, Great Explosion Murder God Dynamight. O pirralhinho aniversariante não ficou tão satisfeito, já que Izuku não tinha um terço do tamanho de Dynamight — seja em altura ou músculos. A saída foi autonomear-se o Robin do Dynamight; ele, Izuku, estar ali era como o próprio herói número 1 estar também. Energias parecidas, algo assim.

E, ah, Izuku sabia imitar o jeito de Dynamight como ninguém. Era um grande fã do cara desde quando ele iniciou a carreira. Sabia gritar como ele, sabia se movimentar como ele e sabia fazer caretas como as dele. Dynamight era conhecido pela competência e pela falta de simpatia, e vê-lo em ação era um dos passatempos favoritos de Izuku: ele era sua imagem de persistência e vitória.

Izuku já havia sonhado muito em ser um herói como Dynamight, All Might — da década passada, uma lenda viva —, ou até mesmo Endeavor, porém não tinha uma individualidade, então não passou de sonho.

Continuando: após o recebimento do pagamento — uma grana generosa que já ia pagar a luz e o gás —, Izuku desceu o condomínio andando, com sua fantasia impecável de Dynamight, sua mochila amarela — que agora estava sob posse de um dos bandidos — e um burrito na mão — que felizmente chegou à sua barriga a tempo. Daí, quando passou pelo beco da igreja matriz do bairro, enfiaram a cabeça dele em um saco preto e o jogaram no carro de um jeito extremamente gentil.

O fone esquerdo tinha caído no momento do sequestro e o outro estava descarregando, ainda conectado ao celular na bolsa. Já havia apitado duas vezes em seu ouvido e logo apagaria. O celular provavelmente estava indo junto para o limbo do descarregamento, e ele torcia para que Sero — colega de apartamento — sentisse sua falta e tentasse localizá-lo pelo GPS.

Por Deus. Izuku nunca, jamais, pegou dinheiro emprestado com agiota ou se meteu com a máfia japonesa, não fazia sentido estar sendo sequestrado. Quem no mundo iria querer sequestrá-lo? Se esses caras estivessem esperando que alguém pagasse pelo resgate, ih... ficariam no prejuízo. No final, jogariam Izuku no primeiro rio da estrada. Cortariam seu corpo ao meio antes, talvez.

Midoriya Izuku, o sortudoOnde histórias criam vida. Descubra agora