Gigante de pedra

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Katsuki costumava viver em prol da rotina de herói: acordava às quatro da madrugada para treinar o corpo, tomava café conforme sua dieta rígida e saía às seis para patrulhar. Não perdia tempo se reunindo com colegas de trabalho no almoço e passava a tarde inteira rondando a cidade, seguindo as ordens da agência.

Ninguém naquele lugar fazia tantas horas extras e cumpria plantões como ele; era um completo viciado em trabalho. No entanto, trabalhadores têm seus direitos, e ele não conseguia escapar das folgas obrigatórias, muito menos das férias. E, nesse meio-tempo, ele era convencido a viver um pouco, distrair a mente e ser um adulto comum.

Desde muito cedo, se dedicou à carreira e, embora não pensasse nisso como um prejuízo, o atraso, em termos de convívio com amigos e família, existia.

Havia Kirishima Eijirou — o número 5, Red Riot —, que estudou na mesma turma que ele na Academia de Heróis; o cara era um maldito espinho na sola do pé, uma unha encrava no mindinho. Algum dia da vida de merda dele, decidiu que seria amigo — Katsuki preferia chamar de encosto; personagem secundário, às vezes — de Dynamight, e assim aconteceu. A amizade estava fadada ao sucesso, já que, apesar de Katsuki resistir, eles se davam bem e possuíam uma forte relação de igualdade.

Quase o exato oposto de Katsuki, Kirishima amava a vida tanto quanto amava a vida de herói. Gostava de viajar, de beber com amigos, de fazer amigos, de namorar e se divertir. Katsuki apontava todas essas coisas como principal motivo de Kirishima não ser sequer o número 2 do país, embora tivesse potencial. Só esquecia que o amigo não ligava muito para o ranking; para ele, trabalhar com o que amava e ter independência era o mais importante.

E, como uma mãe que não suporta mais ver o filho enfurnado no quarto jogando videogame, fazia o possível e impossível para influenciar Katsuki a seguir essa linha de pensamento. Com o apoio da namorada, Ashido Mina — ou Pinky, ainda fora do ranking e que também estudou com eles na Academia —, Kirishima propunha apostas, desafios, e certa vez chegou até a pagar para Katsuki ir a uma festa. Abriu um champanhe quando eles viajaram juntos para outro país — Katsuki foi convencido por uma escalada em uma montanha, não por Eijirou —, quis fazer uma comemoração quando o amigo finalmente perdeu a virgindade aos vinte e um; quase soltou fogos quando ele começou a, pasmem, namorar aos vinte e três. Tudo bem que não durou muito, mas foi algo.

Katsuki era grato por Kirishima ter sossegado depois desses eventos que ele considerava tão importantes. Vivia reclamando que, se morresse, não ia conseguir descansar em paz sabendo que deixou o melhor amigo para trás, viciado em trabalho e virgem. No fim, a única coisa que mudou foi Katsuki ter deixado de ser virgem.

Usava as folgas para transar e fazer trilhas. Férias ele continuava dispensando, não gostava da ideia de passar tanto tempo sendo um completo inútil. E seguiu assim até os vinte e seis. Até conhecer Izuku.

Pensando na própria privacidade, geralmente ele optava por sair com pessoas do seu ramo, e nada ficava sério. Todas essas pessoas no máximo conheciam seu nome, sobrenome e o rosto por baixo da máscara. Até ficava interessado em gente que encontrava por aí, mas nem chegava a tentar, sem paciência para pedir que não tirassem ou espalhassem imagens suas, ou entregassem a noite de bandeja aos paparazzi. Simplesmente odiava ser tratado como celebridade.

Parecia que havia sido ontem que, no fim da patrulha, ouviu uma agente alertando todos os heróis da cidade sobre o sequestro de Dynamight. Na hora, ele parou no meio da rua e olhou para os lados, confuso, em seguida respondeu o alerta, afirmando estar, literalmente, quase na frente da agência. A moça ficou perdida, disse que um sequestro havia sido denunciado anonimamente e a vítima era ele.

Midoriya Izuku, o sortudoOnde histórias criam vida. Descubra agora