O último cigarro.

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O último cigarro

Despida de corpo, e vergonha da fera felina que acabara de tornar-se na cama que seu negro homem dormia, tranquilo, respirando tão devagar que nem parecera aquele leão faminto quando entrelaça a caça e rasga-lhe a carne. Eu levantara, olhei com caricia aquela pele canela que exaltava sabor, cor..amor! Ele não ouvira meus passos, meu toque sensível dizendo com as pontas dos dedos o quanto eu o amara, o quanto o desejava, mas sabia que ao amanhecer ele iria embora, levando seu caminhado, seu gingado que tanto me deixavas louca. Ele era assim, telefonava dizendo “Já estou chegando” para minha surpresa, para meu espanto, para minha alegria, para a minha lastima! Ele era assim, entrava em casa, entrava dentro de mim e desaparecia, deixando somente a saudade, ele parecia a própria performance de saudade que chega, fica um pouco e depois se vai...apanhei um cigarro, fui a cozinha, preparei um café com pouca açúcar, aprendera a gostar do amargo do café, da vida, do amor. Olhei a janela, escutei a calada da noite, o vento balançava meus fios, meus seios ficavam rígidos com o frio, eu chorara e ria, eu o amava tanto, mas sabia que nunca ele seria somente meu, o que se deva pagar pelo amor? Quão doce pode ser a ilusão? Quão amarga a verdade? Eu ria, pois sabia também que nunca o pertenceria, jamais ele escutaria um eu te amo explodido do meu mais puro ser, ele sabia que jamais seriamos só nós dois, só nós dois. Quantas vezes ele chorara também? Quantas vezes desejara que fosse diferente? Mas saberá, assim como eu que tudo tem o seu momento de instante, de chegada e partida. Sabíamos que um dia amaríamos de verdade, alguém para além do gemido, do gozo... do ‘” estou chegando” deixando claro que também estaria saindo sem avisar quando voltaria. Se também me amara? Eu não sei, nunca soube! Mas, por loucura ou delírio, assim que traguei o último cigarro, tomara o último gole do café, voltei para a cama, o agarrei, beijei-lhe o corpo todo, chupei-o até vê-lo virar os olhos, a gemer como uma fera ferida, o senti cada centímetro e ele, com seus grandes olhos surpresos jorrou a cemente da vida, mas para seu maior espanto, antes mesmo do sol partir o horizonte pedi-lhe que se vestisse e fosse, fosse e não mais voltasse, pois em mim, já não desejava somente o corpo, o sexo, o selvagem. Ele nada dissera, ele não mais voltara e foi nesse dia que nós compreendemos que alguém precisava machucar o outro.

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