O sinal havia acabado de tocar. Os corredores começaram a lotar com os alunos que saíam das salas para o almoço. Porchay caminhava lentamente enquanto lia a última versão da letra que havia escrito. Passara mais de um mês escrevendo e reescrevendo-a, até que naquele dia tinha conseguido terminar. Estava tão concentrado no papel que tomou um sobressalto ao sentir sua mão ser puxada para dentro de um dos armários de vassouras da faculdade.
— Mas o quê... — O moreno a sua frente fez sinal para que ele ficasse calado. Seus ombros relaxaram e ele assentiu, fazendo o garoto tirar o dedo de frente da sua boca. Poucos segundos depois, os passos do corredor foram ficando cada vez mais distantes, até que não se escutava nada além da respiração dos dois.
— Sentiu minha falta? — Macau perguntou, puxando-o pela cintura. O mais novo estremeceu pelo toque, mas logo sorriu e franziu a testa, fingindo pensar.
— Hum... Acho que não. — Ele fez uma expressão incrédula olhando para Chay, que começou a rir.
— Brincadeira — disse, lhe dando um selinho demorado.
— Você é mau, sabia? — Sua boca se curvou em um sorriso.
— Nunca. — Macau apenas balançou a cabeça em negação e se aproximou, tomando sua boca.
O aperto na cintura de Porchay aumentou, conforme o ambiente esquentava. O papel ainda estava na sua mão, mas o garoto apenas o tomou e colocou em uma prateleira qualquer do cômodo. Suas mãos, agora livres, passeavam pela nuca de Macau. Não demorou para que elas chegassem em seu cabelo e fizessem um breve carinho; ação que fez o mais velho suspirar. O beijo era lento e Chay aproveitava cada minuto provando e chupando os lábios macios do garoto. A contra gosto Macau finalizou o beijo com dois selinhos demorados em sua boca e um em seu pescoço, parando a sua cabeça por ali apenas exalando o seu perfume doce.
— Quero te levar em um lugar — disse com a cabeça ainda encaixada na curvatura da sua garganta.
— Onde?
— Segredo. Vamos.
***
As aulas do dia ainda não tinham terminado; então, tecnicamente, Chay e Macau estavam matando aula ao sair da faculdade. Embora não fizessem o mesmo curso de graduação, o período das aulas era o mesmo. Mas naquele momento, nenhum dos dois estava se importando muito em perder algumas matérias. Fazia pouco tempo desde que tinham se visto, mas o moreno achava que tinha sido uma eternidade. Logo após o que ocorreu na mansão, os dois começaram a se encontrar sem ninguém das duas casas descobrir. Claro que era desconfortável de certa forma, porém ambos estariam colocando a própria relação em risco caso alguém das famílias descobrisse, já que poderiam tentar separá-los. Não que eles tivessem realmente alguma coisa assumida, mas tinham algo. E isso bastava. Ou, ao menos, deveria bastar.
— A gente já está chegando? — Perguntou com a voz abafada pelo capacete.
— Estamos perto — respondeu Macau, não desviando o olhar da estrada e com as mãos firmes na moto.
Não demorou muito para que Chay pudesse perceber aonde que o garoto estava levando-o, pois logo uma grande roda gigante pode ser vista a poucos metros de distância. Os olhos do mais novo brilharam com a visão e suas mãos começaram a tremelicar de ansiedade. O estacionamento se encontrava cheio, mas Macau, por sorte, conseguiu uma vaga. Então, quando desligou a moto, sua mão segurou a dele e os dois entraram no parque de diversões.
Casais andavam por toda a parte. Alguns olharam para os dois por conta do grande contraste visual. Macau estava com o uniforme do seu curso, mas quase não dava para ver por conta da jaqueta de couro preta que o cobria. Uma regata de crochê nude estava por cima do uniforme branco de Chay. Se olhasse de longe, os dois pareciam um filme preto e branco.
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Maybe
Short StoryPor estar no lugar errado e na hora errada, Porchay acaba tendo que passar um tempo na casa da família menor. Sendo, tecnicamente, um membro da família principal, será possível sobreviver lá dentro? Ou melhor, será possível não criar sentimentos por...