Tamatsa Hara

Capítulo Dezenove:Sobre uma luz diferente.

—As crianças estavam ansiosas pela sua chegada.—O sensei falou a Hara que estava parada no corredor.

—Peço desculpas pelo meu atraso,o terceiro tinha uma missão de última hora pra mim,se importa se eu levar eles para o lado de fora?

—Fique a vontade,hoje eles são todos seus.—Hara não demorou, foi logo entrando na sala e deixando todas as crianças focadas em si,ela os levou para o pátio onde daria uma aula de taijutsu.

—Todos conhecem taijutsu, não é nada surpreendente, um estilo de luta que se adapta a cada um de vocês,independente de seus desafios,entendam uma coisa,tempo e dedicação, são coisas que os levam longe,para uma primeira demonstração eu gostaria de um auxiliar.—Já estava apontando com o dedo para um deles quando escutou a voz animada de um certo alguém.

—Esse é um trabalho para mim, a besta verde de Konoha!—Os cabelos de Hara se bagunçam quando Gai chega em um furacão deixando todos chocados.

—Sério Gai.—Ela amarra os cabelos e o olha.—Apenas uma demonstração. —Diz decidida mas sabia que logo que começassem,ambos precisariam ser parados.

—Muito bem,se afastem crianças, e prestem atenção!—Ele se posiciona e Hara também, ambos afastados,mas com os olhares fixos um no outro. —Furacão....

—Serpente....—Em menos de um segundo já estavam se atacando,frente a frente,as crianças não conseguiram acompanhar a velocidade deles,Gai tentou um chute que Hara segurou com apenas uma mão, enquanto sua outra tentou um soco mas foi segurado,ele cerrou os dentes e se afastou,um sorriso mínimo surgiu nos lábios de Hara,ia ficar divertido.

—Não use seus truques sujos.

—Pode deixar. —Avançaram um contra o outro,ambos emanavam forças distintas, não era chacra,mas algo ainda mais forte,as crianças olhavam para aquilo ansiosas para saber o que aconteceria quando aquele combate se iniciasse para valer.

—Oe oe.—Eles pararam rapidamente e se abraçaram.—O que estão fazendo na frente das crianças?—Kakashi perguntou de braços cruzados.

—Era apenas uma luta para demonstrar o taijutsu.

—Na frente das crianças?—Gai a olhou e Hara bufou com raiva.

—Apenas uma luta amigável,mas vocês podem terminar, acabei de lembrar que preciso resolver uns assuntos. —Quando saiu andando e viu Naruto parado com os braços cruzados.

—Você ia vencer?

—Nunca saberemos pelo visto.—Ela colocou as mãos no bolso e desapareceu de lá, parou em cima de um telhado de frente para a academia, deu uma última olhada no pequeno de sete anos e sorriu.

—Ele cresceu. —Shisui disse.

—Sim....precisa de alguma coisa?

—Soube que tem planos para visitar Suna,isso é verdade?

—O Kazekage pediu uma reunião mas eu ainda não aceitei,como ficou sabendo?

—Mexi nas suas coisas. —Ela o olhou zangada.

—Uchiha!—Ele sorriu nervoso mas não escapou da bronca.

Ao anoitecer, ela se sentou do lado de fora da casa,queria ver as estrelas por um momento, não podia acreditar que estava bebendo suco de laranja com um cantil escondido dentro do kimono,mas ainda assim não tinha coragem para pegá-lo, resolveu não pensar muito naquilo.

—Terminei a louça.—Naruto gritou de dentro da cozinha.

—Pode pegar a caixa de mochi.—Ela sorriu ao escutar os rápidos passos no piso de madeira e logo o sentiu ao seu lado.

—Aqui.—Ele colocou os doces entre os dois e começou a comer,Hara pegou um dos doces e o colocou na boca,adorava o sabor amargo do chocolate junto dos pedaços de morango.—Você sempre morou aqui?—Ela estranhou a pergunta.

—De onde isso veio?—Ele deu de ombros.

—Eu escuto o que os outros falam,te chamam de forasteira.—Ela suspirou,os apoiadores de Danzou eram uma pedra no seu sapato ainda.

—Eu não nasci aqui,nem me criei aqui,vim um pouco antes de você nascer.

—De onde você é?

—De muitos lugares,eu vivia me mudando.

—Mas e a sua casa?—Ela abriu a boca para falar e então fechou, sua casa,como era sua casa?Ela ainda lembrava?—Mãe?

—Hum?—Pareceu acordar de um transe.

—Seus olhos.....—Hara os cobriu com rapidez.

—Desculpe filho,não fique assustado.—Pediu sem saber o que fazer até sentir as mãos pequenas em seu braço.

—Eles estão brancos Mamãe, você lembrou de algo bom?—Perguntou curioso e Hara não entendeu, por que estaria feliz lembrando daquilo tudo?Tudo que ela fez e que foi feito a ela,a raiva estava quase a tomando quando sentiu uma vibração em seu peito,um som em sua cabeça, uma risada,sentiu o coração esquentar ao lembrar de algo.

—Era quente,não tão quente, e frio,mas não tão frio....—Naruto ficou atento enquanto Hara falava.—Eu gostava de brincar em uma árvore, podia me pendurar e subir no topo,tinha a vista de todas as casas,eu me sentia corajosa,me sentia grande, aqueles momentos de força e poder,eu sentia paz neles,era bom.

—Você tinha amigos?

—Eu....—Lembrou dos treinos,combates,os corpos no chão, seus olhos arderem. —Eu tinha.

—Como eles eram?—Lembrou das palavras ditas sobre eles.

"—Muito bem Hara,eles eram um atraso,a seleção foi feita,felizmente os frutos podres foram cortados.—Escutava a voz da mãe, mas não era a presença dela que a assustava,e sim a dos outros,os que sobreviveram,a olhavam com pavor,nojo,ódio, mas não demonstravam, tudo que ela pode fazer foi limpar a espada na própria roupa e ficar em posição atrás de sua mestra."

—Fortes,eram fortes e bondosos,costumavam me chamar para brincar mas.....crescemos e tivemos que aceitar nossos deveres.

—Sente falta deles?

—Sinto. —Ela sorriu tristemente. —Eles eram uma imagem, mostravam quem eu era,e eu mostrava quem eles eram,prometemos nunca abandonar um ao outro, algo bem incomum pela forma que fomos criados,todos com deveres e objetivos individuais, mas nunca deixamos que isso interferisse na amizade....não deixamos até certo ponto.

—O que aconteceu?

—Fui eu,eu acabei com tudo.—Naruto se surpreendeu quando viu as lágrimas descendo por seu rosto.

—Mama?

—Naruto,quando crescer e se juntar a um time, lembre-se sempre da onde vieram,quem eram e o que buscavam, lute para se manterem juntos,por que no fim vocês são tudo o que terão em situações de extremo risco.—Ela riu sozinha.—Queria que alguém tivesse me dito isso quando eu era mais jovem,talvez assim eu não tivesse errado tanto.

—.....Aposto que eles gostavam de você. —Ela deu risada e comeu outro doce.

—Pense assim garoto,você vai longe.—Ele riu também e ambos ficaram até tarde lá se acabando nos doces,e a única certeza que Hara teve naquela noite,era que Kushina de onde estivesse, estava reprovando aquilo.