Capítulo 26

152 11 0
                                    

(POV LEXIE)

Existem alguns desastres que você simplesmente não vê chegando, não importa quão cuidadosamente você planeja, de repente aparece uma pequena surpresa que muda tudo. Na cirurgia chamamos isto de complicação. Na vida, é uma catástrofe. Há um ditado que ouvimos nos hospitais: "a dor é inevitável; sofrer é opcional." Mas eu duvido que as pessoas que difundem isso já tenham passado por uma grande cirurgia.

"Sofrimento é opcional"; essa pessoa não sabe a besteira que está falando.

Como cirurgiã, nós tentamos eliminar a dor. Como humanos, nós tentamos ao máximo evitá-la. Quando não conseguimos evitar a dor, nós começamos a tentar entender qual o significado de pequenas citações que costumam envolver nossas cabeças, como "sofrer é opcional", ou "o tempo cura todas as feridas"; e a minha favorita, "toda dor tem um propósito".

Quando eu penso em dor, é absurdo o número de lembranças que percorrem minha mente: a perda de minha mãe, a morte trágica de George, o transplante de meu pai, o tiroteio no Seattle Grace, o acidente de avião de Mark, a perda de Callie... são tantos momentos que quando penso em enumerá-los, vejo o quão ridículo se torna pensar nisso.

Porém, ao pensar um pouco sobre todas essas desventuras que já aconteceram em minha vida, começo a me dar conta de que esses acontecimentos nunca fizeram uma apologia à dor física, mas sim, àquele outro tipo de dor, a dor do pior tipo; dor da perda, dor que faz doer o coração e te fazer perder os sentidos por algum tempo; dor que chega sem aviso prévio, tipo chuva no inverno; dor que dói tanto que você não consegue pensar, respirar ou achar um jeito de fazer parar. Dor que é só dor.

Naquele início de noite, no entanto, eu tive a oportunidade de conhecer o outro tipo de dor, a dor física. Possivelmente, a dor que se referem as frases "a dor é inevitável" e "sofrer é opcional"; foram horas de dor intensa e latejante, dor que parecia me rasgar por dentro e que me fazia querer desistir. Quando finalmente a dor cessou, eu tive a oportunidade de entender o outro lado da dor. Não necessariamente o outro lado da dor, mas sim o sentido da frase "toda dor tem um propósito" e junto com esse entendimento, descobri também o sentimento mais intenso do mundo: ser mãe.

"Parabéns!" – Karev exclamou – "é uma menina." – a partir daquele momento, tudo fez sentido, nada mais importava. As últimas horas passadas em cárcere, a dor, o sofrimento, o desespero, o medo... tudo ficou para trás quando eu coloquei meus olhos naquela ser humano frágil e minúsculo envolto nos braços de Alex Karev.

"Uma menina?" – Mark gaguejou nervoso.

Karev sorriu.

"Você quer segurá-la, Lex?"

Eu assenti.

Peguei-a cuidadosamente em meus braços e fiquei observando incessantemente suas feições delicadas, simétricas e tão absurdamente perfeitas.

"Ela tem cara de..." – Mark pensou um pouco – "Laura."

"Laura?" – pensei um pouco já gostando da sonoridade do nome – "é, Laura." – sorri para Mark e notei que seus olhos estavam cheios de lágrimas.

"Você tá chorando?" – Karev perguntou em tom de deboche.

Mark fungou.

"Não, não... é só que..." – ele suspirou – "eu tô meio emocionado." – ele falou entre risos nos fazendo rir também.

"Ok, papai chorão. Agora me ajude a levar essa menininha pra UTI para fazer os primeiros exames médicos, ok?" – Mark assentiu.

Senti um pedacinho de mim indo embora no momento que levaram Laura para a UTI, mas respirei fundo e tentei me manter sã enquanto April me ajudava a sentar numa cadeira de rodas.

Lá de cima, pude observar que o ambiente estava em um estado de verdadeiro caos. Haviam policiais e bombeiros por todo o prédio; pessoas correndo para um lado; familiares desesperados e aflitos. Todos estavam claramente sem saber o que fazer. Ao colocar o olho em Meredith, que me observava da soleira da porta, me permiti abrir um sorriso, e ela fez o mesmo. Minha irmã correu ao meu encontro e me envolveu em um abraço caloroso; enquanto eu a abraçava de volta e sentia o calor de seu abraço, subitamente comecei a sentir meus braços e pernas ficando moles enquanto minha visão ficava turva.

Sabe, o cérebro tem cerca de 14 bilhões de neurônios sendo disparados a 724,2km/h. Nós não temos controle algum sobre a maioria deles. A linguagem utilizada pelos neurônios é simples e precisa; eles desenvolveram um sistema de transmissão que permite que a mensagem chegue ao destino sem perder intensidade e sem ser deturpada.

Comecei a lembrar quase que, instantaneamente, das minhas aulas na faculdade e pude ouvir em minha mente um professor, cujo nome não lembrava mais, falando acerca da capacidade incrível que o corpo humano tem de se comunicar com ele mesmo. Por exemplo, quando nos deparamos com uma situação de risco ou estresse, nosso corpo sofre uma mudança radical. O hipotálamo é acionado e envia uma mensagem para que o organismo fique alerta; a glândula hipófise recebe essa mensagem e envia, pelo sangue, sinais que ativam as glândulas suprarrenais, que produzem adrenalina.

A questão é que o corpo humano é o organismo que está sempre lutando pela vida e pelo equilíbrio, logo, quando sentimos que estamos em perigo, nosso corpo entra em um estado de alerta, liberando a adrenalina na corrente sanguínea. Ao ser liberada na corrente sanguínea, esse hormônio tem efeitos quase que terapêuticos como a broncodilatação, controle da frequência cardíaca e da pressão arterial, por isso, em situações como essas, é comum que as pessoas comecem a apresentar taquicardia, sudorese e dilatação das pupilas, respostas conhecidas como reações do tipo luta ou fuga.

Quando essa sensação causada pela adrenalina passa e nosso corpo sente que já está fora de perigo, ele começa a relaxar e todos os sintomas que outrora, haviam sido deixados de lado, voltam; e quando isso acontece, não tem endorfina que seja capaz de acalmar nossos ânimos.

"Lexie?" – ouvi Meredith perguntando algunsmomentos antes de eu mergulhar numa imensidão vazia. 

Meant to be | Slexie [FINALIZADA]Onde histórias criam vida. Descubra agora