Dois

9 1 0
                                    

— O quê? — Dimitry fez uma careta de desconfiança e cruzou os braços. Suas mãos estavam pingando água após passar tanto tempo segurando aquele pássaro molhado.

Viktoria semicerrou os olhos e o encarou.

— Ei, D. — Ela aproximou os dedos do rosto do loiro e puxou sua orelha, não tão agressivamente quanto eu esperava. Em seguida, limpou uma gota de água que escorria na testa dele. — Deixe de ser idiota, ele está brincando.

Gargalhei baixo, em um misto de desespero e nervosismo, e usei meu indicador para sinalizar um não forte e claro.

— Não estou, não — disse com urgência. 

A ruiva sorriu, sarcástica, e me direcionou um olhar desafiador que não entendi até que ela começasse a falar. Estava, com todas as letras, duvidando de mim.

— Ah, é? — ironizou, ainda sorrindo. — Então você está nos dizendo que ouviu aquele passarinho falar. Palavras de verdade.

Assenti, sendo completamente sincero. Meus dedos ansiosos batucavam em minhas coxas, sem ritmo, em busca de aliviar a tensão daquele momento que só eu sentia. Minhas unhas roídas imploravam para voltar aos meus lábios, pois sabiam que eu as roeria mais ainda se continuasse tão nervoso. 

Mas Viktoria permanecia cética, fitando-me como se eu fosse um absoluto louco.

— E o que ele disse? Que queria alpiste ou algo assim?

Um suspiro decepcionado saiu por meu nariz. Enquanto isso, ao nosso lado, Dimitry encarava os arredores como se tentasse entender tudo o que estava acontecendo. 
Seus olhos azuis-piscina estavam opacos, confusos. Eu poderia afirmar que ele não estava prestando atenção em um terço daquela conversa. 

Recostei na parede, de frente para meu pôster de Star Trek e comecei a analisar os detalhes faciais do Capitão Kirk. Era um pôster que anunciava a luta entre James Kirk e o reptiliano Gorn, contendo vários comentários diferentes e letras pretas e gigantes que diziam: "Quem reinará supremo?". 

Respirei fundo.

— E então? — A voz de Viktoria me trouxe de volta para a realidade, e subitamente o rosto desproporcional e crocodiliano de Gorn não parecia mais tão interessante. 

Espalmei os braços na parede e fiz força para pensar. Eu sabia que conhecia todas as palavras que ouvi, mas ninguém conhecia mais do que aquela garota atrás de mim. 
Virei-me em um pulo e soltei, rápido e sem respirar:

— Lembra-se daquelas duas irmãs... humm... aquelas que uma hora são velhas, e depois novas, e depois velhas de novo? E elas guardam uma estrela, ou alguma coisa assim. 

A ruiva concordou. No início, pareceu perdida — mas logo em seguida abriu espaço para dar seu show de conhecimentos místicos aleatórios.

— As irmãs Zorya.

— Isso! — gritei, exasperado. — E qual é o nome do monstro gigante que vive nessa estrela que elas guardam? Aquele que se fugir destrói o mundo. Você contou essa história várias vezes!

— Esse seria o Simargl. 

— ISSO! — Gritei de novo, ainda mais alto. 

Viktoria arqueou sua sobrancelha acobreada e suspirou. Dimitry pareceu levar um susto e vi seu corpo estremecer, até que ele me olhou, com os olhos baixos. Fixava mais o chão do que quem estava em sua frente.

— Onde você quer chegar?

Sem pensar duas vezes, me expliquei.

— Foram essas as palavras que aquele pássaro disse! — Minha voz saía em sussurros que, mesmo assim, conseguiam ser gritos. — Eu juro! E, tipo, caramba, por que eu iria inventar isso? Eu não dou a mínima para essas coisas!

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Jan 07 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Angus Baram E O Titã Nas EstrelasOnde histórias criam vida. Descubra agora