Talvez fosse como os dias estavam passando rápido demais, ou como o inverno fazia as noites parecem mais frias, porque todo aquele peso no peito não parecia normal para Gabriela. Tudo parecia extremamente em ordem. Em alguns dias, ela teria férias remuneradas pela primeira vez desde que começara a trabalhar ainda na adolescência. Sheilla tinha terminado as provas e estava sempre por perto, elas tinham construído algo tão bonito ao longo dos dias, Gabi sabia que era ela. Cada olhar, cada jantar depois dos corpos se entrelaçarem nos lençois, cada caminhada para a faculdade e a cada final de jogo do campeonato. Ela estava ali. Era ela. Suas amigas estavam ali. O semestre estava acabando e suas notas eram boas como sempre foram.
Mas era como se a tristeza realmente tivesse encontrado algum espaço dentro dela e não quisesse mais sair. Estava ali enquanto ela treinava para o jogo das quartas de final. Estava ali no café da manhã enquanto Thaisa gritava ao invés de falar. Estava ali enquanto ela tomava banho repassando as respostas da prova de anatomia.
—Você definitivamente não está bem. - Ela ouviu Rosamaria falar.
Elas estavam sentadas em uma das mesas do lado de fora do bar do John. As outras mesas estavam lotados de universitáriosbarulhentos e a avenida estava movimentada como sempre. O fim da tarde pintava o céu de laranja e vermelho, era possível ver ao lado do asfalto. Gabi sentia aquele incômodo no estômago, que tornava a cerveja menos gelada.
—Baseado no quê?
—Suas sobrancelhas estão arqueadas. - Rosa pontuou arqueando as suas próprias. —E você está batendo com os dedos na mesa desde o momento em que chegamos aqui.
Gabriela olhou ao redor, tentou observar alguma cena que lhe parecesse familiar. Sentiu como se fizesse anos desde que tinha entrado no John há muito tempo pela última vez.
—Você está muito observadora. - tentou mudar a direção da conversa.
—Sabe que não precisa mentir pra mim, né? - Rosa perguntou. —Eu escondi seu primeiro beijo, limpei seu vômito dos dezoito anos e estava lá você sabe onde. - Ela disse, convicta de que aquilo seria suficiente para fazer Gabi se abrir.
—Tudo bem fala enterro da minha mãe. - Ela respondeu desdenhosa o suficiente.
—Semana que vem.
—O que você disse? - Gabi não sabia se tinha ouvido direito, o álcool fazia seus ouvidos zumbirem.
—Semana que vem. - Rosa disse mais óbvia agora, como se tivesse deixado algo passar. —É o dia da morte da tia.
Elas ficaram em silêncio enquanto Gabi se servia de mais um copo da cerveja e agora sentindo descer completamente gelada.
—E?
—E você está entrando naquele lugar de novo, Gabgab.
Ouvir Rosa chamá-la daquele modo, era como acender algo há muito apagado dentro dela, Gabi sabia que estava estampado em seu rosto o modo como as peças tinham se encaixado para ela também.
—Eu-eu, - as palavras não faziam sentido agora. —Eu sinto tanto a falta dela que às vezes é como se eu fosse morrer.
Suas palavras escancaravam a dor que ela sentia. O que mais doía agora, depois de todos esses anos, era a certeza de que sua mãe realmente nunca mais estaria ali. Era difícil aceitar. Era realmente não voltaria. Nunca mais.
—Eu realmente queria muito te dizer alguma coisa agora.
—É que não tem nada que você vá falar que eu não tenha ouvido já, amiga. - Gabi acariciou sua mão sobre a mesa. Os olhos de Rosa estavam cheios de lágrimas, Gabi os via brilhando daquele jeito triste que já brilharam várias vezes.—Acho que é só-só deixar o tempo passar, sabe? Tipo, eu sei que ela não vai voltar, a gente viu ela dentro daquele túmulo, a gente sabe que acabou.
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friends
FanfictionGabriela Guimarães está de volta à Belo Horizonte para o retorno das aulas da faculdade, onde está cursando Ed. Física. Enquanto de divide em muitas para estudar, trabalhar e participar dos jogos, nada pode dar errado. Ela é campeã em ser boa naqui...