Eu observava o sol escondendo-se após o seu longo e turvo dia de verão, levando consigo a alegria da luz quente que banhava-nos todas as tardes, que me trazia os curtos momentos de distração durante minha monótona e tediosa rotina.
Estava sentada no topo da colina de grama alguns generosos metros distantes da propriedade de meu pai, com o último exemplar de um romance empoeirado apoiado em meu colo, passando as páginas com um suspiro preso em minha garganta a cada frase de amor que me puxava o fôlego perdendo-se em minha imaginação. Sempre me imaginava como a protagonista dos livros, mas a fantasia acabava quando lembro-me que nenhuma daquelas histórias me pertenciam, suas aventuras foram levadas por ventos que não sopraram para aonde uma pequena alma solitária como a minha residia.
Não me via como alguém capaz de viver um amor proibido, ou de sequer viver um amor que me tirasse o fôlego. Era condenada a vi dentro dos padrões infelizes da alta sociedade.
Minha irmã claramente detestaria descobrir que eu ando mexendo escondida em sua biblioteca particular - aquela que ela mal visitava - Papai ficaria feliz ao descobrir que eu tinha interesse em leitura e mamãe ficaria uma fúria quando soubesse que eu estou mais interessada em ler histórias de amor do que bordar..
Mas não era como se alguém fosse descobrir.
Escondi o exemplar por baixo da saia de meu vestido quando vi Margareth se aproximando aos berros, com as roupas de criada sendo seguradas de um jeito desastroso enquanto tentava me alcançar colina acima.
— Meu Deus menina, por que ainda continua se enfiando em lugares tão difíceis de subir? - a senhora de idade estava ofegante e vermelha de raiva ou pelo esforço. Escutei aquilo com a vontade de xingar subindo a garganta, me disseram isso vezes demais para que eu precise controlar minha vontade de revirar os olhos.
— Perdão, já vou descer - remexo o livro mais para baixo, para que ela não veja o exemplar, mas quando percebo que ela não irá sair enquanto eu não descer finjo uma expressão de confusão e começo a farejar algo que não existe — Está sentindo este cheiro de queimado? Acho que está vindo da cozinha...
Apontei inocente para as janelas do cômodo, que surpreendentemente, estavam saindo fumaça. Talvez eu não estivesse mentindo.
Margareth me alertou uma última vez sobre descer antes de correr colina abaixo desesperada, era compreensível o fato dela odiar ter ajudantes de cozinha, sempre dizia que eles eram incompetentes e parece que dessa vez ela tinha razão.
Rapidamente coloquei o livro debaixo dos braços fazendo o mesmo percurso da senhora só que com bem mais habilidade, sem os tropeços ou os gritos.
Deveria estar agora em um ensaio do casamento de minha irmã, mas não tenho o mínimo interesse em quem quer que seja o azarado que irá chamar Luci de esposa. Tolero minha irmã, sem sombras de dúvidas, já que somos obrigadas a viver juntas, porém, ela não é uma pessoa muito agradável de se conviver... Ou de conversar.
Ouço o caos na cozinha quando Margareth entra no cômodo profundamente irritada praguejando todos os nomes que conhecia enquanto colocava ordem em todos os ajudantes que estavam em pânico, sentia pena de todos eles. Primeiro por enfrentar a fúria da governanta mais rabugenta que alguém poderia ter e segundo pela onda de humilhação que iriam sofrer caso Lucinda Evans, minha irmã mais velha, sequer sonhasse que eles haviam estragado o tão precioso banquete com o seu tão prestigiado noivo.
Me contento em desviar da cozinha para apenas contornar a casa pelo jardim até a porta da frente, me encantando brevemente com os funcionários carregando mesas para os fundos, decorações belíssimas junto de centenas de arranjos de flores. Uma coisa que eu não poderia falar mal de Luci era de seu gosto, ela era uma mulher requintada e extremamente elegante.
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𝐒𝐄𝐑𝐈𝐀𝐋 𝐊𝐈𝐋𝐋𝐄𝐑, geto suguru
Fanfic─ 𝙎𝙀𝙍𝙄𝘼𝙇 𝙆𝙄𝙇𝙇𝙀𝙍 [+𝟭𝟴] [...] 𝙚𝙢 𝙖𝙣𝙙𝙖𝙢𝙚𝙣𝙩𝙤; Uma jovem duquesa criada em uma casa rigorosa e conservadora prova o pecado pela primeira vez nas mãos de seu pior pesadelo. ─ 𝙞𝙣𝙞́𝙘𝙞𝙤: 10/05/2022 cover credit: @casari002 on w...