00-A menina da câmera vermelha

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Eu sempre acreditei que os sentimentos não fossem passageiros, mesmo que você ache que superou, no fim, esse sentimento sempre vai existir dentro de você, por mais que seja bem pouco, lá no fundo o sentimento vai permanecer e isso é assustador.

Já tiveram momentos em que eu pensei sobre isso mais do que deveria, e é realmente muito deprimente o fato de que até os sentimentos mais dolorosos estarão com você em todos os momentos da vida, até nós mais felizes.

Porém, diferente de muitas coisas, esse pensamento nunca fez com que eu quisesse parar de sentir, a ideia sempre me assustou, mas nem por isso virei uma pessoa robótica, muito pelo contrário, eu sinto até demais, sou muito intensa e na maioria das vezes essa intensidade acaba fazendo com que eu me machuque, como na vez em que me apaixonei tão perdidamente por alguém, que me doei por inteiro e quando aquela pessoa foi embora, um pedaço de mim se foi também.

Minhas amigas costumam falar que eu me entrego demais a tudo que faço e isso não é mentira, porque eu sei que uma coisa leva a outra, assim como o amor (ou talvez a falta dele) me levou até a arte.

Desde criança sempre fui muito artística, gostava de tudo envolvendo a área das artes, isso permanece hoje em dia também. Eu era uma criança muito inspirada e sempre gostei de me apresentar em palcos grandes nos eventos da escola, de maquiagens e roupas cheias de enfeites.

Com um tempo toda essa confiança foi sumindo, pra falar a verdade, eu sempre fui uma criança muito insegura, mas os palcos me faziam esquecer de tudo aquilo e depois de um tempo, meu refúgio se tornou a fotografia, amava passar horas tirando fotos no meu antigo telefone e minha parte favorita era editar elas. Passar todos os meus sentimentos para as fotos era tão satisfatório e realizador pra mim que se tornou minha parte favorita.

E esse amor persiste até hoje, mas além das fotografias, eu também deixo todos os sentimentos e sensações na minha arte.

Lembro de quando ganhei minha primeira câmera, meu sorriso ao abrir aquela embalagem bem feita que o meu pai insistiu em fazer junto de meu irmão e a felicidade de ganhar algo tão especial assim deles era enorme.

Era uma pequena câmera e eu levava ela para todo lugar, até que ela não funcionava mais, e meu pai me veio com a notícia de que não iria poder comprar outra, ele parecia mais triste que eu por não poder comprar algo que eu queria, então comecei a economizar dinheiro até que eu tivesse a quantia necessária para poder comprar a minha câmera dos sonhos.

Ela era colorida com um vermelho lindo e chamativo, um tamanho médio e meu sonho de consumo. Conseguir ela foi uma das minhas maiores conquistas e por incrível que pareça, foi uma das únicas vezes que eu senti orgulho de mim mesma.

Com um tempo ela se tornou a coisa mais importante pra mim, lá eu guardava tudo, meus momentos mais felizes e emocionantes estavam dentro do cartão de memória daquela câmera e toda noite eu parava para me recordar desses momentos em que eu me senti feliz, me senti bem.

E aquele momento não era exatamente um deles, mas a sensação de ter meu irmão falando comigo e me consolando enquanto se arrumava para um jantar em família era estranhamente boa.

— Esse é um dos dias que você pensa demais nos outros e fica se comparando? —
Perguntou meu irmão do outro lado da linha.

— Não, esse é um daqueles dias em que eu penso que mesmo se cortasse a franja eu ficaria feia e acabada. — Falei e ele faz uma cara de desaprovação.

— Você é linda Sara! Igual eu e a mamãe! — Ele sorriu do outro lado da linha, quando eu tirei uma foto seu sorriso desapareceu dando espaço a um olhar quase que mortal e eu caí na risada.

A Menina da Câmera VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora