2. Jamais direi

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O café amargo que outrora me servira como despertador já havia esfriado há algum tempo dentro da xicara de porcelana que, ele tinha ganhado de presente da sua mãe ano passado.

Eu odiava café, para ser sincera. Desde o gosto, a sensação embrulhante que dava a meu estômago judiado pela gastrite.
Era um terror...

Mas eu usava de seus efeitos quando estava muito pensativa, ou precisava ficar até tarde revisando alguma matéria para espantar o sono.

No entanto, aquela noite em especial, eu o usei para me manter calma.

E por quê?

A razão estava disposta em minha cama. Bem acomodado, abraçando o travesseiro enquanto metade do meu cobertor cobria-lhe a nudez.

Tão puro e inocente em seu sono, sequer se assemelhava com a intensidade fervente que eram seus beijos e seus toques firmes e macios. Usando de cada músculo bem trabalhado para me proporcionar as melhores sensações possíveis.

Seu cabelo espalhado na cama fazia um contraste bonito com o lençol.

E mordi meu próprio lábio focada em retratar aquele detalhe tão único no meu desenho que nem se comparava a beleza inumana de Jeon Jungkook.

Eu ainda não sabia o que de tão bom havia feito na minha vida para que ele tivesse gostado de mim.

Ele insistia em me chamar de linda com a voz doce e os olhos brilhantes. E eu amava a sensação que me acometia todas as vezes que ele chegava de mansinho e sussurrava assim cheio de dengo em meu ouvido. Deixando um rastro de arrepios e fogos para trás.

Jeongguk era de fato uma estrela para mim, especialmente quando tirava a capa de ídolo e se mostrava tão verdadeiro sendo apenas ele mesmo. Tão compreensivo que me fazia sentir tola. Tão doce que sentia que podia derreter cada vez que o olhava.

Tão quente que minhas mãos comichavam saudosas quando ele se afastava.

Suspiro, levantando os olhos em sua direção assim que seu corpo se move sobre seu colchão. O lápis em minha mão para imediatamente seu curso e meu coração se sobressalta levemente quando ele aperta mais o travesseiro em si, em um abraço forte e envolvente o que poderia ser meu corpo agora.

Temo ser pega em meu ato secreto, sem tempo para pensar em desculpa alguma.
Mas para meu alívio ele apenas suspira em seu sono profundo e os lábios pequenos se partem.

Respiro aliviada, mas meu peito continua descompassado a medida que minhas bochechas esquentam.

Constrangida, apresso-me nos detalhes únicos que o compõe, mas que, nenhuma folha de papel poderia retratar tão bem.

O cheiro dele está impregnado em minha pele, como sempre fica nas poucas vezes que nos vemos, quando sua agenda permite.

As roupas que eu uso ficam guardadas por um tempo, até quando a saudade vence meu orgulho e eu revivo nossos momentos trancados no seu apartamento.

Amá-lo foi fácil, como piscar os olhos. Ele foi feito para ser amado e comigo não foi diferente.

Eu nem ao menos me lembrava do momento em que aconteceu, sendo tão natural, que só percebi que estava caindo naquele feitiço poderoso, quando já não havia mais como ser reverso.
Mas assustava.

O sentimento. O medo. O silêncio. A oculta.

Porque se meus olhos, meus toques e meus beijos não conseguissem dizer tudo que meu peito gritava por dentro, então, de meus lábios e minha voz ele nunca iria saber.

Poderia ser a covarde da história, mas ter me apaixonado quando éramos apenas amigos que se curtiam às vezes me pareceu tolice.

Nossos mundos eram completos opostos e quando aconteceu deixamos que fluísse, como um rio que segue seu curso.

Ele sempre seria dos palcos e eu... Eu sequer sabia.

Com um suspiro resiliente termino meu desenho.

Minhas costas doem quando levando da poltrona a qual estive sentada e meu corpo protesta pelo excesso de energia gastada quando não sou acostumada.

Sorrio breve e o deixo sobre sua mesinha.

Seguro a mochila nas costas e calço as botas de inverno.

Com uma última olhadela para o garoto sereno entre as cobertas, eu fecho a porta atrás de mim em um clique.

Demorará até nos vermos de novo.

Por isso, ao lado do desenho há um pequeno bilhete com os dizeres:

"Porque você fica encantador demais dormindo. Não resisti :(
Ps: Obrigada pela noite, até mais, JK.
De: A garota do sotaque bonitinho.
Para: O garoto da voz de anjo.

10 beijos de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora