3.Confesse

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Nós tínhamos 12 anos quando nos conhecemos.

Naquela época, meus fones sempre andavam estourando com alguma música do Linkin Park ou My Chemical Romance. Também era meio emo. Meu cabelo tinha um corte estranho e usava lápis de olho borrados. As calças eram farrapos personalizadas por mim mesma. Um soco na moda.

Quando ele chegou na minha rua, foi falatório por uma semana inteira. A casa ao lado da nossa que sempre ficava alugada, tinha sido comprada pela família Jeon. E como uma cidade pequena possui quase nunca muita cultura, ver uma família de asiáticos parecia ser coisa de outro mundo.

Assim que chegaram, somente o pai dele falava um português quebrado. Jungkook mal aparecia fora de casa e seu irmão, Junghyun era curioso. A mãe sempre foi muito cuidadosa com eles. Eu ficava vendo-a os levarem para passear da calçada de casa com meus fones no máximo.

Eu era estranha naquele tempo. Não me julguem. Quem nunca teve uma fase emo da qual se envergonhar, não teve infância.

Minha mãe como uma boa mulher que sabe se socializar, logo foi prestar ajuda a família nova. O que fez com que nossas famílias se aproximassem bastante, ajudando-os na adaptação.

Mas eu era meio anti social e sendo filha única isso só piorava.

Eu era menor que Jungkook, mas ele tinha ficado com medo de mim — admitiu anos depois com custo — porque de acordo com ele, eu ficava o olhando fixamente. O que é uma acusação vitimista, já que eu estava apenas me perguntando como ele conseguia enxergar com aquele cabelinho de cuia cobrindo seus olhos.

Ele era adoravelmente tímido.

E tadinho, sofreu muito durante o ensino fundamental.

Nunca chamavam ele pelo nome correto. Era sempre João das Cuias. E ele chorava que só. Mal acostumado, porque brasileiro é o próprio cão encarnado.

Mas eu ficava com muita pena dele. As pessoas em si já são preconceituosas, imagine então, um monte de pré-adolescentes? Problema na certa.

Então, naquele dia, eu falei pra a minha mãe que estavam bullyinando o coitado do Jungkook. Também não conseguia falar seu nome direito, mas eu tentava ao menos.

E foi aí que consegui meu cargo de babá de um garoto maior que eu.

A tia Sooheon era muito gente boa e me enchia de presentes. Não tinha como negar nada a ela. Inclusive, andar com seu filho meio esquisito. E ela achava que por sermos da mesma idade, a adaptação seria melhor pra ele.

Daí, eu e minha incrível habilidade de socialização tentamos nos unir pra tentar ajudar ele. O problema é que sempre fui uma jovem impaciente. E o bichinho tinha a língua enrolada demais e me dava agonia ver ele se referindo a si mesmo na terceira pessoa. Acabava o chamando de burro — eu era uma criança — e aí ele chorava e eu em desespero tentava reverter a situação.

Minhas melhores amigas nem pra me ajudarem e me deixaram nesse cargo sozinha.

O problema é que… elas meio que foram sendo vagamente substituídas por Jungkook.

No começo eu brigava com ele, mas ele aprendeu a retaliar também com os mesmos xingamentos que eu usava. Inclusive, a primeira frase inteira que ele falou sem errar, foi: Você é muito feia.

Eu o empurrei, ele me empurrou de volta e eu fui chorando pra casa.

Ainda naquela noite, ele foi me pedir desculpas todo amuado e com aquele sotaque acentuado que eu tanto zoava. Foi fofo, porque ele me levou doces e depois assistimos filme.

10 beijos de vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora