Ouço som de pássaros cantando, eu e Lucy estávamos caídas na grama molhada. Sento-me e fico parada, concentrada, olhando para o nada, tentando lembrar o meu nome, onde estou, até que cai a ficha. Estamos em Liverpool, em 1957, perdidas em uma praça.
— Lucy... — Sacudo-a, tentando fazê-la levantar e compartilhar aquele sentimento estranho e fantástico de ter voltado no tempo.
— Hã? — Ela murmura.
— Levante sua folgada, olhe onde estamos!
Ela senta ao meu lado e olha em volta, lembrando-se de tudo aos poucos.
— Clara... Isso é um sonho? — Ela diz, ainda meio sonolenta e inconsciente.
— Sim, é um sonho — Belisco sua bochecha, fazendo-a rir. — Sentiu isso?
Ela assente, se levanta e me ajuda a levantar.
— Estamos em Liverpool no inverno, congelando, e com roupas molhadas de grama. Temos que dar um jeito nisso. — Diz Lucy, olhando para os lados, procurando lojas. — Quanto temos aí?
— Bem, sessenta libras. Por sorte guardei antes de você esbarrar na alavanca.
— Se eu não estivesse esbarrado na maldita alavanca, nós não estaríamos aqui. Agora vamos, ou prefere ficar aí?
O sol começa a aparecer, já não está tão frio como antes.
Bato em suas costas e saio correndo, sinalizando para me acompanhar. Ela ri e passa a mão no rosto, ainda em dúvida se isso é um sonho ou não. Começa a correr atrás de mim e ficamos lado a lado, correndo contra o vento.
Entramos em uma loja e as vendedoras olham feio para nossas roupas
— Vocês vendem roupas de couro?
— Para vocês? Bem, aqui só vendemos vestidos — Diz a vendedora, com forte sotaque britânico.
— Ah, você tá de brincadeira? — Diz Lucy. Dou-lhe um tapa e digo sorrindo:
— Vamos levar esses dois.
— Certo. — Diz a vendedora, olhando mais feio do que estava olhando quando entramos em sua loja.
Ela se afasta e eu digo:
— Você deve agir como uma garotinha britânica normal de 1957!
— E usar aqueles vestidinhos? Ah, tudo bem. — Diz Lucy, revirando os olhos. — Mas depois compraremos roupas de couro, certo?
Confirmo com a cabeça e me aproximo do caixa para pagar as roupas.
— Vocês não aceitam cartão? — Pergunto.
A vendedora me olha confusa e Lucy aparece atrás de mim sussurrando no meu ouvido:
— Cartão? Em 1957? Endoidou?
Bato a mão contra minha testa e a vendedora se assusta cada vez mais, querendo uma explicação para minha fala.
— Hm... Ela quis dizer que... Bem... — Lucy começa.
— Se vocês aceitam um cartão da nossa loja — Continuo, sem ter ideia do que disse.
— Ah, sim, claro. — Diz a vendedora, mais confusa que nós, esperando algum cartão.
Lucy me olha com cara de “E agora, sua idiota?”, e eu finjo procurar algo em meus bolsos da calça, mesmo sem ter nada neles, somente papel de bala amassada.
— Ah, que pena, esqueci de trazê-los — Digo, fingindo estar decepcionada.
— Você esqueceu? Poxa vida — Diz Lucy, olhando para mim, fingindo uma cara de desaprovação, mas com um sorriso no canto de sua boca.
— Tudo bem, vocês me entregam outro dia. Mas contem-me, onde é a loja de vocês? – Diz a vendedora.
— Nossa! Olha que horas são! — Digo, olhando e apontando para o meu relógio de pulso. — Estamos atrasadas, não é Lucy? Foi um prazer minha senhora, mas temos que ir.
Entrego o dinheiro para a vendedora, pego as sacolas e saímos correndo da loja, rindo da situação.
— Sua idiota! — Diz Lucy, rindo.
— É difícil se acostumar, ok?
— Certo, certo. Venha, vamos comprar mais coisas.
Entramos em outra loja e Lucy diz:
— Agora, eu quem pago.
— É, é melhor... — Digo.
Experimentamos algumas roupas e compramos algumas jaquetas e botas de couro.
Saímos da loja e avisto uma loja de instrumentos.
— Sabe o que precisamos mais do que vestidos e roupa de couro?
— O que, Clara?
— Um violão — Digo, arrastando-a para a loja.
Chegamos à loja e observei um violão Martin exposto na parede, tirei-o de lá e toquei alguns acordes.
— É esse — Digo.
— Como você quiser... Mas só se for menos de nove libras — Ela me dá o dinheiro e me espera na porta da loja.
Alguns minutos depois saio da loja com o violão na mão.
— Por quanto você pagou?
— Sete libras.
Andamos até uma praça e sentamos no banco, sem ter ideia de onde ir agora, o dinheiro estava acabando.
— Tem alguma ideia de onde vamos ficar? — Pergunta Lucy, contando o dinheiro restante que estava em sua mão.
Abri a boca para falar, mas me distraí com um som de violão e duas pessoas conversando, reconheci no mesmo instante.
Era o som de Blue Moon.
— Parece vir de lá — Eu disse — Vamos perguntar se podemos nos hospedar, já que não temos onde ficar.
— Ok, mas você sabe quem mora naquela casa? — Pergunta Lucy, colocando a mão no meu ombro. — Ah, por favor, John Lennon!
— Wow, foi fácil encontrar! Não acredito, vamos nos hospedar na casa de John Lennon?
— Temos de convencer Tia Mimi. É só parecermos estudantes da faculdade de Arte que precisam de um lugar para dormir e estudar.
— Certo, mas não podemos parecer nervosas.
— Como? Estaremos a metros de distancia de John!
— Siga a minha deixa.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Going back to the time of The Beatles
FanfictionDuas garotas brasileiras, Clarabella (Clara) e Lucille (Lucy), de 18 anos, conseguem uma chance para voltar no tempo e acabam realizando o sonho de qualquer Beatlemaníaco de encontrar os Beatles no início da carreira, em 1957, e podendo mudar toda a...