Cartas de Nestha

CAPÍTULO UM

— Porra, não.

Nestha Archeron estava sentada sem conseguir se levantar.

Estar em Velaris, como sempre, era estar em casa. Estar no lugar onde fora acolhida de corpo e alma e onde sua família de verdade estava.

Mas isso significava que ele também estaria lá.

— Porra, sim. — Feyre disse, ajeitando o cabelo num penteado que a deixava mais deslumbrante do que já era — Ele não é um monstro. É só o seu ex.

— Que, por acaso — completou Gwyn, terminando o penteado de Emerie, longas tranças com fitas brancas que contrastavam com a pele linda e escura que tinha — é o melhor amigo do seu futuro cunhado.

Nestha amava Rhys, mesmo que o começo deles tenha sido turbulento, amava mesmo. No entanto, ele não poderia ter escolhido um outro melhor amigo?

— Obrigada, Gwyneth. — revirou os olhos — Sempre muito prestativa.

A ruiva, com presilhas na boca, olhando para o que fazia, bateu continência.

— Nes, o Cassian é um amor. — Elain se aproximou, com as flores que tinha conseguido no jardim. Era uma surpresa ver a irmã; nem mesmo sabia como ela havia conseguido tirar um tempo da vida corrida de supermodelo para estar ali.

A Archeron mais velha quis rir.

Claro que ele parecia "um amor". Não foi ela quem Cassian deixou sozinha, num hotel, após quase três meses de rolo e do melhor sexo que ela já fez na vida. E, apenas para completar a novela, apareceu, na mesma semana, ao lado de uma morena gigante e bronzeada.

Não que ela tivesse contado essas coisas para nenhuma delas.

— Aham.

E daí que tudo aconteceu três anos antes? Se havia alguém que sabia guardar mágoa, esse alguém era Nestha Louise Archeron.

— Você tem que beber muito hoje. — Foi a vez de Emerie intervir.

— Eu não vou beber muito hoje. — Não sabendo que poderia falar coisas inapropriadas.

Nes vinha evitando ao máximo conversar com Cassian Schläger desde o fatídico dia.

Eles não conseguiam ter uma conversa civilizada no único meio em que se comunicavam — o grupo dos amigos — quanto mais pessoalmente. Ela, simplesmente, não conseguia olhar para ele sem que as memórias do mês e da noite que tiveram aparecessem e tomassem todo e qualquer pensamento racional que ela tinha. A sorte deles — dele, principalmente — era que os dois quase nunca se cruzavam, mesmo morando na mesma cidade, e a agenda dele como diplomata era apertada o suficiente para que os horários nunca batessem.

Ela trabalhava como advogada de imigração na cidade mais populosa da Corte Noturna, localizada a cerca de duas horas de Velaris. Mal tinha tempo para comer ou se exercitar. Muito menos de avisar a alguém que estava viva. Já tinha perdido a conta de quantas vezes Feyre ligou para ela durante o expediente para ter certeza que a irmã ainda estava respirando. Se não fossem Emerie e Gwyn, a cantora e a atleta que eram suas melhores amigas e moravam com ela, tinha toda a certeza que seria dada como desaparecida.

Mas, ainda assim, nada disso tinha sido suficiente para que eles não tivessem que participar de um ou outro jantar, como no de noivado de Feyre e Rhys.

— Você sabe que, em quatro dias, o Cassian vai estar sempre perto de você, não é? — Gwyn começou, vindo até onde Nestha estava e fiscalizando o trabalho que tinha feito nela.

— Ele vira cunhado da Fey, não meu.

Feyre riu.

— O Cassian vai estar sempre por perto, querendo você ou não. — Emerie disse — Especialmente porque, pelo que eu lembro da discussão educada que vocês tiveram semana passada, ele quer ser a pessoa favorita do seu sobrinho.