Alice olhou para os lados, disfarçadamente. Já passara pelo corredor dos absorventes algumas vezes, fingindo indecisão sobre as diversas marcas, tamanhos e formatos como se não soubesse exatamente qual pegaria. Os preços aumentaram drasticamente desde que o shopping fora construído, mas não voltaram ao normal após o incêndio. Parece que os comerciantes perceberam que, com a alta demanda, o preço poderia continuar alto como se fosse para manter o estabelecimento aberto, mesmo que todos soubessem que os comerciantes faziam por puro prazer e lucro.
Já tinha colocado alguns chocolates nos bolsos, sem que o dono da farmácia percebesse. Gregory Finnegan era um homem grosseiro, por volta dos 40 que herdara aquele estabelecimento de seu pai, um farmacêutico apaixonado pela profissão. O filho, no entanto, não herdara paixão do pai, e só mantinha o lugar para compensar o tempo que, forçadamente, passara na faculdade e para ver mulheres relativamente mais novas que ele se abaixando para pegar um pacote de absorvente. Finnegan era, de fato, grosseiro e nojento.
Alice já fizera aquilo outras vezes, enquanto Finnegan estava distraído jogando seu charme quase inexistente para garotas que, sinceramente, pareciam ainda estar no ensino médio. Mas aquela vez era diferente. Uma emergência inesperada cujo qual ela não estava preparada. Talvez fosse o estresse que passara nos últimos tempos que adiantara seu ciclo em mais de duas semanas, deixando-a sem tempo.
O homem parecia estar distraído com sua palavra cruzada, aquele seria o momento perfeito. Alice se abaixou, pegou o pacote e virou de costas para o caixa, colocando-o no bolso dianteiro do macacão que usava, antes de começar a andar em direção a saída.
–EI! GAROTA! — Ouviu Finnegan atrás de si, e então percebeu que a porta à sua frente refletia o volume da caixa em seu tórax. Merda! — Onde pensa que vai com a minha mercadoria?!
A moça paralisou, pensando nas suas opções. Poderia conversar com o homem e tentar enrolá-lo — o que, provavelmente não daria certo, já que, mesmo que não parecesse, Finnegan era um homem esperto —, ou poderia simplesmente...
Sem pensar duas vezes, Alice abriu a porta da frente com a força de seu corpo e correu o mais rápido que suas pernas lhe permitiam.
–EI! VOLTE AQUI! — Finnegan gritou, pegando sua espingarda e correndo atrás da moça, movendo-se com certa dificuldade pelas dores que sentia em seu joelho gasto.
Alice não olhou para trás, atravessando a avenida, ouvindo as buzinas indignadas após quase ser atropelada.
–Pra ficar com você e o esquisitão do Eddie Munson? É, eu passo. — Steve Harrington disse ao telefone. O movimento da locadora estava fraco, o que era comum para uma sexta-feira à tarde. Poucos clientes circulavam por ali durante o horário em que Harrington estava sozinho. Robin, sua amiga e companheira de trabalho, chegaria apenas horas depois e o ajudaria a organizar as fitas devolvidas nas últimas horas, então ele tinha bastante tempo livre para conversar com seu amigo, Dustin Henderson, pelo telefone. — Então tá. — Steve respondeu algo sobre como ele estaria com ciúmes de Dustin ter um outro amigo mais velho, enquanto fazia uma careta de desdém. Aquele garoto era um tanto quanto arrogante para a pouca idade que tinha. Claro que Steve não estava com ciúmes, sabia que sempre seria o favorito do mais novo de qualquer forma. — E outra, eu realmente estou gostando dessa garota. Sei lá, sinto que ela pode ser meu verdadeiro amor.
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Freaks 86' | Eddie Munson (em breve)
Fanfiction"Eddie está com sua guitarra penhorada Agora, ele reprime o que ele costumava falar através da música É difícil Alice sonha em fugir Quando ela chora à noite, Eddie sussurra "Querida, ficará tudo bem... algum dia... Temos que nos agarrar ao que temo...