Capítulo 1

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"A honra é como uma longa estrada sem volta, como um perfume com um cheiro inacessível."

— Provérbio Turco.

Catarina

Levanto mais tarde do que de costume, a esta hora já teria cumprido boa parte da agenda matinal enquanto minha querida mãe lixasse as unhas na sua redoma de vidro no último andar da empresa.

Depois da nossa conversa nada amistosa de ontem, em que, mais uma vez, discutimos o destino das filiais que ela insiste em manter aberta, mesmo que não tenhamos mais recursos para tal, resolvi sair da rotina e esquecer meus problemas.

Elisandra Mancini sempre foi geniosa, mãos de ferro, nunca permitiu que ninguém ditasse uma vírgula fora a sua vontade nos negócios da família, porém isso fez com que a empresa declinasse gradativamente, até chegar ao ponto crítico que se encontra hoje.

Uma gestão travada e retrógrada colocou o império de tecidos Mancini à beira da falência e, por puro despeito e arrogância, minha mãe não permite que algumas empresas sejam liquidadas para saldar as dívidas da matriz.

Sou formada em Moda e Design, não tenho experiência acadêmica em gestão, mas sempre me interessei em aprender sobre o que seria meu futuramente.

Após muita relutância da parte de dona Elisandra, consegui me desvincular da área de criação conceitual e passar a acompanhar de perto os fechamentos mensais de gastos, balanços e entradas.

Estamos à beira do colapso, nenhum banco quer investir no quadro atual da empresa, colocá-la no mercado de investimentos não é opção e, os amigos que minha mãe julgava ter, não passam de oportunistas e interesseiros.

— Sua mãe saiu cedo e estava com um humor péssimo. — Layla passa pela porta logo que eu saio do closet pronta para trabalhar.

Uso uma calça de alfaiataria estilo flare mostarda, acompanhado com cinto no mesmo tecido e uma camisa de seda creme levemente transparente, deixando à mostra meu top meio corpo de renda branca.

Cabelo preso em um coque baixo, brincos de pérola pequenos e o anel de rubi que meu pai me deixou no dedo indicador.

— Nada fora do normal, então — comento com desdém.

Elisandra nunca foi conhecida por ser simpática, acredito que grande parte da sua amargura se deu com a morte prematura do meu pai, quando eu tinha cinco anos.

Não tenho muitas lembranças dele, mas os álbuns de foto me ajudam a criar ilusões de um tempo em que éramos felizes, dado ao olhar apaixonado que ambos têm nas imagens.

— Eu vou trabalhar antes que meu pai venha me buscar pessoalmente — Layla declara, enquanto saímos pela porta e descemos as escadas.

— Ele ainda quer que você vá para os Estados Unidos?

— Sim. Disse que preciso aprimorar meus estudos lá antes de assumir um cargo na empresa.

— Duvido que pensaria a mesma coisa se fosse homem. — Rolo os olhos com despeito.

Não entendo o conceito arcaico que ainda persiste em perseguir as mulheres na atualidade. A imposição por provarmos nosso valor a cada passo só mostra que a sociedade machista tem muito que aprender.

— Já cansei de ter essa conversa com ele, mas nunca dá em nada.

— Sei bem como é. Precisa de carona? — Paramos no hall de entrada.

— Não. O motorista está a caminho, melhor você não desviar o percurso ou corre o risco da sua mãe te excomungar.

— Não se preocupe com dona Elisandra. Ela ladra, mas não morde.

[Degustação] Prometida ao TurcoOnde histórias criam vida. Descubra agora